Revista da ESPM
|maio/junhode 2014
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Política
política permeiemsobre as demais cadeias do agronegó-
cio, comgeração demais empregos e renda. Umexemplo
é o setor demáquinas e implementos agrícolas, também
representado pela Associação Brasileira da Indústria
deMáquinas e Equipamentos (Abimaq), que, diferente-
mente dos demais setores, vive ummomento de plena
produção, fruto de uma eficaz política agrícola.
Enquanto isso, emuma realidade totalmente adversa,
a indústria nacional de transformação, que agrega valor
e gera desenvolvimento tecnológico, é obrigada a convi-
ver como “tripé domal” (câmbio, tributos e juros) — custo
Brasil que tornaosprodutosbrasileiros cercade40%mais
caros que os produzidos naAlemanha e nos EstadosUni-
dos (isso sem comparar com a China, onde a diferença
é brutal!); câmbio totalmente desfavorável ao processo
produtivo; alto custo do crédito e escassez em linhas de
financiamentos de longo prazo, uma combinação perni-
ciosaquetiratodaacompetitividadedaindústrianacional.
Aseu favor, comoefetivamedidade competitividade, a
indústria temapenas o PSI-Finame, com taxa de 3,5% ao
ano e até dez anos para pagar. Porém, metade das empre-
sas não pode usufruir deste incentivo por não possuir
CertidãoNegativa deDébito (CND), comtodos os impos-
tos emdia. Não fosse isso, a indústria estaria emsituação
ainda mais grave. Reconhecemos que outras medidas
foram implementadas, como a desoneração da folha, o
crédito imediato do PIS/Cofins e a redução do IPI. Con-
tudo, essasmedidas não surtiramos efeitos esperados e
demonstramser incapazes de reverter o atual quadro de
estagnação da indústria de transformação.
Mas aindaépossível reverter essepanorama, compolí-
ticas que ataquemas questões estruturais. Aexemplo da
política agrícola, é preciso construir uma política indus-
trial voltada à ampliação dos investimentos em infraes-
trutura, para impulsionar a produtividade da indústria.
Do contrário, a taxa de investimento (FBCF) continuará
em torno dos inexpressivos 18% do PIB. Para se ter uma
ideia, omundo investe, emmédia, 23% do PIB. Ou seja, o
Brasil continuará a patinar no que se refere ao desenvol-
vimento, geração de emprego e de riquezas.
Podemos,sim,serumpaísfortenaproduçãodecommo-
dities,mastambémacreditamosserpossívelproduzirbens
dealtovaloragregado,poisumaatividadenãoexcluiaoutra.
EmumanaçãoondeaEmbraer(seráqueexisteatividade
mais complexadoqueproduzir avião?) eaagriculturadão
certo, por que não podemos ter uma indústria de trans-
formação forte e competitiva, já quenão existe país rico e
desenvolvido semuma indústriade transformação forte?
O que não podemos é, por exemplo, ser um dos maio-
res produtores de café domundo e, aomesmo tempo, ver
a Alemanha, que não possui um pé de café, ser a maior
exportadora de café industrializado do planeta.
O que vem por aí...
Caminhos existem, desde que haja vontade política e,
consequentemente, uma política industrial bemestrutu-
rada. Falando emvontade política... Estamos às vésperas
de iniciar o processo eleitoral para os poderes Executivo
e Legislativo e, desta vez, esperamos ver os candidatos se
aprofundarem, durante a campanha eleitoral, na discus-
sãode temasquemerecemumdebateprofundo, entreeles
as reformas tributária, política, previdenciária e, princi-
palmente, sobrepolítica industrial, pois a atual, ou a falta
dela, impõe ao setor produtivouma assustadora perda de
Programas como oMaisAlimentos e oPró-trator permitem
ao pequeno agricultor adquirir tratores e implementos para
mecanização das pequenas propriedades
Podemos, sim, ser umpaís forte
naproduçãode commodities,mas
tambémacreditamos ser possível
produzir bens de alto valor agregado