(como denominam) só podem ser produzidos a
partir do uso deturpado da TC, e não dela
em si,
como se pode verificar pela caracterização da TC
feita no início da seção. Mas o uso deturpado de
qualquer teoria não pode ser controlado pela própria
teoria; quanto a isso pode-se apenas
escrever.
Temos, portanto, de um lado uma ciência
empírico-analítica
que não pode mais dar conta da
utilidade
a que se propõe, em termos de dar suporte
à resolução dos problemas que as organizações
enfrentam hoje; e, de outro, uma abordagem
crítica
que, entre outras dificuldades de cunho prático,
tende a negar a toda a instrumental idade, buscando
outra forma de racionalidade
em negação
a esta.
A Teoria Crítica como síntese
racional em Habermas
A possibilidade de uma síntese entre as
abordagens problematizadas acima, dentro do
campo racional, está ligada à ruptura entre a posição
de
HABERMAS
e a Teoria Crítica precedente. Esta
ruptura é menos percebida na medida em que o
termo
Teoria Crítica
foi generalizado. Como coloca
ROUANET,
"Até hoje Jürgen Habermas costuma ser visto
como herdeiro do pensamento crítico da
Escola de Frankfurt. É uma ilusão, mas há
desculpas para ela. (...) existem em Habermas
temas que no fundo são próximos dos grandes
temas da teoria crítica: a denúncia de um
mundo crescentemente administrado, a
preservação da idéia da utopia - a da
comunicação ideal - e principalmente a
f i de l i dade ao conceito iluminista de
maioridade,
Mündigkeit,
como
telas
da vida
individual e coletiva. (,..)"[Porém] Com a
Teoria da Ação Comunicativa
e o
Discurso
Filosófico da Modernidade,
Habermas
consuma o proces so psicanalítico de
assassinato simbólico do pai: a partir desse
momento, a base de sua identidade passa pela
ruptura com Adorno."
28
Dentre os múltiplos aspectos desta ruptura,
todos importantes, interessa-nos aqui aquele que
diz respeito à crítica da razão instrumental. Como
MARCUSE, HABERMAS
verifica a proposição de
WEBER
de que a razão estaria ocupando um espaço
crescente na vida social. Porém, diferentemente de
MARCUSE, HORKHEIMER
e
ADORNO,
para
HABERMAS
o problema não
está
nesta racionalidade em
si,
mas
justamente no espaço indevido que ocupa, e no jugo
que exerce sobre as demais áreas da atividade
humana. A razão instrumental modela a ação
simbólica, em suas expressões
normativa
(social)
e
expressiva
(da expressão individual, de emoções,
vivências e da arte).
"The real problem, Habermas argues, is not
technical reason as such but its
universalization, the forfeiture of a more
comprehensive concept of reason in favor of
the exclusive validity of scientific and
technological thought, the reduction of
praxis
to
techne,
and the extension of purpositive
rational action to all spheres of life. The
proper response, then, lies not in a radical
brake with technical reason but in properly
locating it within a comprehensive theory of
rationality."
29
Esta postura mais "condescendente" com o
problema da racionalidade instrumental não é
fortuita. Está ligada à interpretação mais otimista
que
HABERMAS
faz da modernidade. Esta, para ele,
mantém acesa a chama da dialética do Iluminismo
(a
"unidade da repressão e do progresso, da
liberdade e da barbárie"):
carrega consigo um
potencial emancipatório racional. A TC anterior,
ainda presa a determinados aspectos do paradigma
marxista, é obrigada a carregar uma série de
paradoxos; e por fim obriga-se a assumir o
pessimismo como forma de crítica. Esta via
pessimista trouxe, na visão de
HABERMAS,
uma
"desilusão r ad i ca l" f r en te ao potencial
emancipatório da mode rn i dade. Portanto,
HABERMAS
retira sua proposta de ação comunicativa
dos
espaços
simbólicos preservados
na
modernidade,
na esfera que conceitua como
mundo
vivido.
"O sistema tenta colonizar o mundo vivido,
substituindo crescentemente a racionalidade
comunicativa pela instrumental. Mas o
processo é meramente tendencial e está longe
de ter se concluído: o campo das interações
espontâneas, lingüísticamente mediatizadas,
continua sendo indispensável, inclusive nas
sociedades mais complexas. Existem,
po r t a n t o,
g r a n d es
r e s e r v as
de
racionalidade comunicativa, que podem