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ser captadas para resistir aos impulsos

anexionistas dos subsistemas de ação

instrumental incorporados no Estado e na

economia."

31

Mais do que isto, a possibilidade de um

tratamento racional emancipatório de outras

esferas, além da instrumental (e para esta,

inclusive),

só foi possível

pelo advento da

modernidade:

"Nas sociedades tradicionais (...) as três

esferas - a objetiva, a social e a subjetiva

[ou expressiva] - se interprenetravam,

convivendo simbióticamente num todo

indiferenciado, dominado pela religião.

Ora, Max Weber mostrou que na passagem

pa ra a mo d e r n i d a de c ome ç a r am a

d i f e r enc i a r - se ' e s f e r as de va l o r' que

correspondem aproximadamente a esses

três mundos: a ciência, vinculada ao

mundo da ve r dade f ac t ua l, a mor a l,

vinculada ao mundo social das normas, e

a arte, vinculada ao mundo subjetivo.

Some n te com e s se p r o c e s so de

diferenciação puderam surgir pretensões

de validade especializadas [e com isto,

tratamento

racional

], com relação aos

quais os sujeitos pudessem dizer

sim

ou

não.

Nesse momento, o indivíduo adquire

pela p r ime i ra vez cond i ções de agir

autonomamente, sem o peso inibidor da

r e l i g i ão e da au t o r i dade, secu l ar ou

r e l i g i o s a: as a ç õ es p a s s a r am a ser

coo r denadas segundo os critérios de

r a c i ona l i dade i ne r en t es ao p r oce s so

c omu n i c a t i v o, e não ma is s e gundo

determinações heterônomas. Foi o enorme

bene f í c io de r i vado da r ac i ona l i zação

cultural, iniciado com a modernidade."

32

As s im c o l o c a d o, o p r ob l ema da

racionalidade tem seu foco na

unidimensio-

nalidade:

HAB E RMAS

ataca-o com sua razão

comunicativa,

multidimensional,

contrapondo

à razão instrumental não uma tentativa de

aniquilamento, mas uma razão mais abrangente

e um espaço para a atuação de cada uma.

A análise etnometodológica de

FORESTER

(citada) ilustra como as ações estratégicas

mesclam-se, no cotidiano, às comunicativas. Sem

estas, aquelas só se sustentariam através de logro

ou violência, recursos "não-sustentáveis" ao longo

do tempo. Por outro lado, a ação comunicativa

não

substitui

a ação estratégica-instrumental no

terreno onde esta é apropriada: naquele que

MA RX

chamaria de

produção material da existência.

Ora, isto pode-se dar sem qualquer conflito

desde

que

respeitado o imperativo categórico de

KANT,

que normatiza não utilizar

o outro

como

meio,

mas sempre

como fim -

vale dizer, os homens

entendem-se como

sujeitos

e agem instrumental e

consensualmente em relação aos objetos no mundo,

para a consecução de sua sobrevivência. Assim, a

razão instrumental

pode ser

complementar à

comunicativa,

desde que

esta preceda aquela - isto

é, a ação e s t r a t ég i ca se ja p r eced i da do

entendimento entre os agentes.

A metodologia proposta por

MURRAY E OZANE

(citada) para a pesquisa emancipadora respeita

estas condições: inicia-se pela identificação de um

problema prático, e de

todos

os grupos envolvidos

com o p r ob l ema, pas sa por uma f a se de

entendimento comunicativo (que detalham) e parte

para uma

praxis

(ação no mundo) consensada.

Conclusão

É dada a po s s i b i l i dade t eó r i ca de se

intervir

nas o r g a n i z a ç õ es de m a n e i r a

c r í t i c a , e m a n c i p a d o ra

e útil.

É

de s ne c e s s á r io d i zer que r e s t am p r ob l emas

de o r dem p r á t i ca e p r o b l emas de o r dem

p o l í t i c a . E s t e s , s e m p r e h a v e r á . N ã o

ob s t an t e, ex i s te ama d u r e c ime n to t eó r i co

pa ra o t r aba l ho de c ampo da a bo r d a g em

c r í t i ca na Admi n i s t r a ç ão. Es te deve se dar

na f o rma de

pesquisa-ação,

de mane i ra a

produzir

mudanças

efetivas

n as

o r gan i z a çõe s. Al gumas das cond i ções de

en t end imen to c omun i c a t i vo de

H A B E R M AS

são, como é do conhe c imen to geral, ideais.

T a m b ém o e r am as c a r a c t e r í s t i c as

bu r oc r á t i c as de

W E B E R ,

o que não imped iu

a bu r oc r a c ia de

existir

e

funcionar,

apesar

de suas d i s f unções e p r ob l ema s. Da mesma

f o r ma que c o n s u l t o r es f i z e r am d u r a n te

d é c a d a s em r e l a ç ã o ao t i po i d e a l da

bu r oc r a c i a, o tipo ideal da c omu n i c a ç ão

compe t en te deve ser pe r s egu i do através de

p r oce s sos de a p r ox ima ç õ es s uc e s s i va s.