B U R R EL E M O R G A N :
realistas, positivistas,
deterministas e nomotéticas
2
. Isto significa que
procuram a construção de um saber:
a) objetivo,
colocando sob sua consideração os aspectos da
realidade observáveis e mensuráveis, e redefinindo
a própria realidade àquilo que consegue observar e
medir;
b) neutro,
no sentido da pretensão de
imparcialidade e desinteresse do
sujeito,
e da
completa separação deste com relação ao
objeto,
e
c) útil,
isto é, voltado a
fins:
esse saber visa
essencialmente, desde
BACON,
instrumentalizar os
agentes a
dominar
a realidade que estuda.
Desnecessário acrescentar que estas características
separam as considerações valóricas das factuais,
restringindo a estas a possibilidade de ciência.
A aderência da ciência funcionalista à razão
utilitária
3
, voltadas ambas
afins
e desconsiderando
valores, é
explicada pela origem iluminista de
ambas, conseqüência do que
WEBER
caracterizou,
em sua famosa Introdução a
A Ética Protestante e
o Espírito do Capitalismo,
como desenvolvimento
racionalista do Ocidente.
Não é de se estranhar, portanto, que a teoria
administrativa tenha, até hoje, dificuldades em
explicar diversos aspectos da realidade
organizacional, e que, correspondentemente, a ação
administrativa esteja neles limitada: como é o caso
de
motivação,
por exemplo; em geral, naqueles
aspectos humanos onde a
subjetividade
que escapa
ao funcionalismo é mais determinante do que a
objetividade, e onde o afã utilitário rouba a atenção
da compreensão do fenômeno em si, para a
finalidade mais além.
Não obstante, a Administração pôde até
recentemente seguir seu rumo sustentada por uma
ciência que privilegia o útil e o prático em
detrimento da compreensão. Conforme discutimos
em outro trabalho
4
, é a evolução do ambiente de
negócios para o nível da complexidade (do
mix
de
tecnologias, produtos e mercados, por exemplo), o
advento da mudança
imprevisível
e descontínua e
outros tópicos que estão no palco da discussão
administrativa dos anos 90, que trazem o
esgotamento para o funcionalismo em termos de
suporte à resolução dos problemas da
Administração. O mesmo vale para a racionalidade
que contempla a estratégia (isto é, a adequação de
meios para o atingimento de fins) em detrimento
do consenso e do entendimento. A organização
depende de comportamentos individuais que não
podem ser garantidos por um contrato
racional
de
trabalho
5
; depende de
aprendizado
constante, que
exige uma relação de
comprometimento
dos
funcionários que não pode ser obtida pelos
instrumentos "motivacionais" das políticas de
recursos humanos
6
; finalmente, dependem, para sua
sobrevivência e de toda a sociedade, de um
relacionamento não-depredatório com o ambiente
físico, social e humano no qual está inserida,
relacionamento este que não pode ser obtido pela
lógica do retorno sobre o investimento do capital
7
.
Em suma, a racionalidade instrumental, ação
por excelência da organização econômica e do
homem administrativo, não basta a si mesma na
consecução
de seus próprios objetivos,
dependendo
da existência de outros tipos de lógica para
sobreviver; e, pa r a l e l amen t e, as teorias
funcionalistas não conseguem dar o suporte de que
necessitam os agentes que atuam no fenômeno sobre
o qual teorizam - isto é, serem
úteis:
tampouco
bastam a si mesmas na realização de suas
finalidades ontológicas, indo freqüentemente buscar
socorro noutros paradigmas
8
.
A Teoria Crítica como antítese
Esse tipo de teoria a que nos referimos e cujas,
características d i scu t imos sob o nome de
funcionalismo,
HABERMAS
denomina
ciências
empírico-analíticas.
Sua caracterização parte de
elementos crítico-filosóficos, envolvendo a
passagem da metafísica clássica a um positivismo
que falha em sua pretensão ontológica de achar-se
desprovido de pressupostos "
pré-científicos
". Ao
lado deste tipo de saber,
HABERMAS
coloca as
ciências
histórico-hermenêuticas,
"... que têm a ver com a esfera das coisas
perecíveis e da simples opinião (...) [e que]
constituem também elas uma
consciência
cientificista.
Também os conteúdos de
sentido legados pela tradição parecem deixar-
se reunir em ideal simultaneidade num cosmo
de factos. Embora as ciências do espírito
cap t em os seus f a c t os a t r avés da
compreensão, e por pouco que lhes interesse
descobrir aí leis gerais, elas partilham, no
entanto, com as ciências empírico-analíticas,
a consciência do método: descrever em