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Indícios reveladores

Não se diga que o horizonte continua límpido,

sem sinais de turbulência à frente. Muitos indícios

já são evidentes de que haverá mudanças estruturais

nas comunicações de marketing, afetando a própria

natureza dos serviços prestados pelas agências de

propaganda aos seus clientes. A televisão por

assinatura, por exemplo, terminou o ano de 1995

com um milhão de usuários, quando os próprios

empresários do setor estimavam que mal chegariam

a 300.000 assinantes.

Agora, já se fala em 2 milhões de assinaturas

até o fim deste ano e em cerca de 15 milhões dentro

de 7 ou 8 anos. São cifras espantosas, mas bastante

viáveis, num clima de estabilidade econômica e

inflação controlada. Basta lembrar que a Argen-

tina, aí ao lado, tem hoje cerca de 4 milhões de

assinantes, ou pouco mais de 40% dos lares com

televisão no país.

Não é difícil imaginar que estamos no limiar

de um mundo novo, onde a televisão tradicional

perderá parte de sua atual importância como veículo

publicitário. Ela continuará a veicular comerciais

destinados à grande massa de espectadores, mas

perderá espaço quando se tratar de mensagens

segmentadas, dirigidas ao público de nível socio-

econômico mais alto. Por outro lado, nada garante

que este tipo de anunciantes mais "elitista" irá se

t r ans f e r ir au t oma t i camen te para a TV por

assinatura. O que irá ocorrer ainda é uma incógnita,

mas muitas verbas deixarão de ser utilizadas em

publicidade, sendo desviadas para formas de

comunicação alternativas. Que formas serão essas?

E como fazer com que as agências continuem a

participar do processo de comunicação com o

mercado de seus clientes? Eis aí algumas das

perguntas para as quais tentaríamos obter respostas,

se fôssemos responsáveis pela administração de

uma agência de propaganda.

Ouça a voz do cliente

Já dissemos que os clientes das agências

emitem continuamente sinais em dois comprimentos

de onda, e que os mais importantes são justamente

os que são mais difíceis de decifrar.

Não se trata de maquiavelismo de parte do

cliente. Longe disso. O que ocorre, freqüentemente,

é que ele próprio não consegue articular os seus

pensamentos e necessidades com clareza, tamanha

é a complexidade do mercado de hoje, e tamanhas

são as suas contradições.

Enquanto as entidades representativas da

indústria e do comércio fazem coro em torno de

teses surradas (do tipo "Ai de nós"), as cifras que

chegam ao nosso conhecimento revelam uma

realidade bem diferente, cada vez mais competitiva,

mas cada vez mais promissora. Em 1995, foram

comuns aumentos de 30 a 50% nas vendas (em

confronto com 1994) nos setores de bens duráveis

e produtos de consumo popular. Poderíamos citar

muitos exemplos concretos, mas vamos nos limitar

a dois, nos extremos da pirâmide social. Na base

da pirâmide, entre as famílias de menor renda, o

consumo de papel higiênico aumentou nó mínimo

30%, resultando num aumento médio de 15% para

o mercado no seu todo. No outro extremo da

pirâmide, viajaram para o exterior, em 1995, mais

de 3 milhões de brasileiros contra 1,5 milhões há

quatro anos. Esses brasileiros gastaram lá fora, entre

passagens, compras e estada, cerca de 15 bilhões

de dólares, equivalentes ao PIB somado do Uruguai

e Paraguai.

E, no entanto, os empresários choram. Nunca

choraram tanto e tão alto, mas não é o que dizem

Mario Amato e Abraham Szaimann. Eles choram,

na verdade, porque foram expulsos do paraíso é

agora percebem (com um misto de incredulidade e

•horror) que nunca mais voltarão a ele. Nunca mais

voltarão à ilha da fantasia em que vivíamos antes

do Plano Real, com aumentos automáticos e portas

trancadas para evitar a concorrência estrangeira.

Eles choram, na verdade, porque têm medo

dessa concorrência (não apenas estrangeira, mas

também interna) e porque não sabem, ou não podem,

adaptar-se aos novos tempos, de vendas difíceis e

margens de lucros apertados.

As agências tem um papel importante

a desempenhar

Se as agências " f i ca r em na sua", e se

limitarem a reagir às solicitações explícitas de seus

clientes, pouco ou nada terão a fazer, exceto, talvez,

atuar como bombeiros. Mas os homens de agências

podem escolher um rumo diferente. Podem tomar

a estrada real, mais em consonância com o Brasil