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setembro/outubrode2014|

RevistadaESPM

35

Todomundoécriativo

Por Arnaldo Comin

Foto: Anna Zhu

P

oesia é cultura ou economia? O desenvolvedor de games é engenheiro ou artis-

ta? Um dos debates mais controversos deste início de século é definir as fron-

teiras entre o pensamento criativo e a vida prática das pessoas, na carreira ou

na educação. E mais importante: de que forma isso afeta o mundo do trabalho

e a economia, nomomento emque o “soft” ganha cada vezmais espaço sobre o hardware.

Para o escritor e consultor internacional John Howkins, que em 2001 ganhou notorie-

dade com o livro

A economia criativa

(M.Books, 2013), nem tudo são rosas na sociedade do

futuro. O surgimento do trabalhador

just in time

, que executa cada vez mais suas ativida-

des fora do escritório, em qualquer horário e lugar, põe em risco o modelo de bem-estar

social das economias avançadas. Para os governos, o maior desafio é enfrentar a deses-

truturação do emprego formal e consequente queda na arrecadação, colocando em xeque

todo o sistema de seguridade social. É justamente esse tema que ocupa agora a cabeça de

Howkins emsuas novas pesquisas.

O saldo positivo, segundo ele, é que o mundo nunca esteve tão aberto à economia cria-

tiva, cuja ideia se baseia em uma matriz econômica em que o homem e seu intrínseco

potencial criativo são o cerne da geração de valor. Uma substituição aos pilares clássicos

da teoria econômica: capital, meios de produção e trabalho. “Muitas empresas estão cons-

cientes da importância da criatividade nos negócios. Oembate de criativos

versus

o ‘terno e

gravata’ está ficando cada vezmenos comumnomeio corporativo.”

Para o brasileiro, que se vê como um povo criativo e abençoado por natureza, os baixos

índices de criatividade e inovação nos rankings internacionais surpreendem negativa-

mente. Para Howkins, o principal problema do país é ter ummercado injusto para jovens

empresas, pouco acesso a crédito e o fato de que “os grupos dominantes na política e na

sociedade estãomuito felizes como jeito que as coisas são”. A solução está emmais inves-

timento em educação, cultura e diálogo entre empresas e governo. “O saldo positivo dessa

história é que, brasileiro ou não, todomundo é criativo!”