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entrevista | SERGIO ALEXANDRE SIMÕES

Revista da ESPM

| setembro/outubrode 2014

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significa que nós, como clientes,

podemos comprar por telefone, na

loja física, pela internet, ou seja

lá por onde mais. O problema do

varejista hoje, que faz com que seu

índice fique baixo, é que ele cria

um cadastro do Sérgio na estrutu-

ra que me atende por telefone, ou-

tro cadastro do Sérgio para o uso

do cartão fidelidade, outro para a

compra pela internet, e esses ca-

nais não se “falam”. Com isso, ele

não consegue tirar o correto pro-

veito da tecnologia para entender

quem é o Sérgio. E aí não consegue

atender bem o Sérgio.

Alexandre

— O varejista, certamente,

sabe que precisa integrar os canais.

Por que não o faz?

Sergio

— O que falta é visão. Princi-

palmente porque a grande maioria

dos varejistas brasileiros cresceu

por meio de aquisições e foi se ex-

pandindo no seu mercado de atua-

ção. Postos de gasolina, farmácias,

atacado, varejo, atacarejo... Muito

provavelmente, essa estrutura [não

integrada] veio das aquisições, des-

sa forma inorgânica de crescimen-

to. É muito difícil hoje um varejista

ter uma visão única do cliente. No

Brasil, eu não conheço.

Alexandre

— Recentemente, a vi-

ce-presidente da Unilever, Andrea

Salgueiro, afirmou o seguinte: “Saber

lidar com um volume gigantesco de

informações e extrair os

insights

re-

levantes para a geração de inovação

é o que vai distinguir o líder do segui-

dor”. Eu lhe peço para comentar esta

frase e pergunto se ela está em linha

com a pesquisa de vocês.

Sergio

— Eu tendo a concordar com

essa frase. A explosão de dados é

uma realidade, mas ela não garante

que eu vou ter a informação da qual

preciso. É necessário saber utilizar

o

big data

.

Alexandre

— Quem está mostrando o

caminho de como fazer isso?

Sergio

— O Google comprou uma

seguradora. A expectativa é a de

que ela me venda um seguro mais

adequado, baseado no modo como

eu uso o meu carro. Um seguro

no qua l eu seja segmentado de

uma forma mais inteligente, pois,

apesar de morar perto de uma fa-

culdade, não deixo meu automóvel

na rua.

Alexandre

— Seria uma radicaliza-

ção da tendência de segmentação com

uso de TI?

Se r g i o

— P rovavelmente, essa

empresa [adquirida pelo Google]

vai vender seguros com base em

tudo aquilo que o meu carro re-

velou sobre mim no mês anterior.

Se conseguirem entender, pelo

Google Maps, pelo Waze ou seja lá

qual for a ferramenta, que registre

por onde meu carro andou, onde

ele parou e por quanto tempo, eu

talvez possa pagar um seguro mais

barato. Esse insight, tirado de uma

base de dados bem grande, gera

uma inovação, que é um seguro

diferenciado. Esse é aquele que

imagino ser o próximo passo no

tratamento de dados. Lembre-se

de que hoje já há mais dados gera-

dos por coisas do que por gente.

Alexandre

— Como assim?

Sergio

— Daqui a cinco anos, tere-

mos dez vezes mais dados gerados

por coisas do que por pessoas.

Trabalhar bem com esses dados

é o que vai fazer com que as or-

ganizações tenham diferenciais

competitivos.

Alexandre

— O que você quer dizer

com “dados gerados por coisas”?

Serg io

— A lgumas montadoras

já pedem para você levar o carro

para uma revisão por terem detec-

tado um problema remotamente.

Fabricantes de tratores já monito-

ram as temperaturas e o esforço

en f rentado por suas máqu i nas

para preparar uma manutenção

preventiva. Empresas que fazem

balcões refrigerados de padaria já

monitoram temperatura interna,

ex terna e do motor, pa ra gera r

um pedido de manutenção. Esses

dados não saem de pessoas. Saem

de coisas. São dados importantís-

simos de se trabalhar para gerar

inovação.

Utilizar bema TI é estratégico.Mas não será porque

você possua umdepartamento de TI enorme, que a

tecnologia vai ser estratégica. Hoje, mais de dois terços

das áreas de TI estão posicionados no lugar errado