Entrevista
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R E V I S T A D A E S P M –
janeiro
/
fevereiro
de
2010
28
vocêémaisdoque isso. Sevocê tiver
condiçõesde estar inteiro,decorpoe
alma, com a razão, a emoção e com
questõespráticasepragmáticas, você
vai conseguir tomar decisõesmelho-
res.Muitagentenãoentende isso.
GRACIOSO – Vocês se aproxi-
mammuitodafilosofiadePlatão.
Elacolocavao serhumanoacima
de qualquer coisa. Para Platão
a verdade está dentro do ser
humano, que é a resposta para
tudo. Certa vez mandei gravar
na entrada do nosso prédio da
Pós-graduação uma frase de Só-
focles que foi o contemporâneo
de Platão, autor da peça Electra.
Num dadomomento, chorando
a morte de um príncipe numa
batalha contra o invasor tirano,
os cidadãos saemda cidadepara
colher os restos mortais dele e
cantamo famoso coro: “maravi-
lhasexistemmuitassobreaTerra,
masnenhuma se compara aoes-
plendor doespíritodohomem.”
Achoqueestamosredescobrindo
a Filosofia Platônica e, curioso,
trêsmil anos depois.
FERNANDO – É curioso. Depois de
Platão teveSpinoza, que faloumuito
sobreoamor incondicional. Estamos
começando um programa de lide-
rançadentrodobanco, para todas as
equipes. Sexta-feira, antes da nossa
festa junina, o Fábio e 25 diretores
executivos fizeram a abertura desse
programacriadopara1.200pessoas.
Na ocasião, o Prof. Clóvis de Barros
falou sobre confiança. Citou Platão,
Spinoza e as religiões, dizendo que
“agora estamos vivendo ummundo
emqueaconfiança temdeser recon-
tratadadiariamente”.Sãoopçõesque
o senhor escolhe se quer continuar
fazendo parte. Essa liberdade, esse
desprendimento temmuitoavercom
o diálogo e a maturidade. Estamos
recontratando esse nosso querer e
essa nossa intenção, reafirmando
as decisões no dia a dia. Este é um
momento que aterroriza um pouco,
porqueé frágil, nãoémais aquestão
do “é para a vida inteira”. É a cada
momento.Comoseconstróiconfian-
çanumambiente tãovolátilecomas
pessoaspodendoopinar?Épreciso ter
umnorte claro e umdiálogoperma-
nenteparaque essequerer possa ser
reafirmado.E fazer issonumaempresa
pressupõeuma liderança forteeuma
clarezadepropósitos.
GRACIOSO – Intenções e pro-
pósitos.
FERNANDO – É um pouco do que
estamos fazendo nessa nova fase.
A sustentabilidade virou um pres-
suposto, ela é importante enquanto
noçãodeequilíbrionavida, elaveio
paraficar,porqueéumaconsciência
ampliada do nosso papel. Veio e já
foi incorporadaeampliada.Decerta
maneira, está sendomais fácil falar
sobre sustentabilidade no mundo
Santanderdoque foinomundoABN/
AMROporque,naquelemomento,a
consciência ainda estava relutando.
Hoje, o conceito está instalado na
sociedade, o que facilita o diálogo.
Anossagrandecontribuiçãoacredito
que vai ser como humanizamos as
relações, cada vez mais, sendo um
banco. Por exemplo: terumaatitude
de confiança, quando você toma
a decisão de dar crédito para uma
pessoa, é algo muito sério. Não é
uma decisão olhando apenas o ho-
lerite, é preciso entender o projeto
daquela pessoa, o contexto em que
elavive,acontribuiçãoqueelapode
dar para a sociedade em termos de
conteúdo relevante. É fascinante
tudo issoque estamos vivendo, por-
que a comunicação está cada vez
mais fluida. Estamos instalando no
bancooque chamamos deCírculos
Colaborativos, redes sociais emque
todosparticipameasuaopiniãovale
tanto quanto aminha ou a de outro
colega. São pessoas sem barreiras
hierárquicas mostrando como cada
umpode contribuir para amelhoria
das relações.Échamando,porexem-
plo, os caixas do Brasil inteiro para
discutir se o manual de operações
de um caixa é correto ou não. Isso
é maravilhoso porque eu – que me
considero o papa dos caixas de São
Paulo−nãoficomaisditandonormas
quemuitas vezes nãoestãodeacor-
do com a realidade do Rio Grande
do Sul ou ainda de Rondônia. Essas
possibilidades estão ampliando a
melhoriadenossas relações.Estamos
inaugurando um piloto – os pilotos
antigamente aconteciam com um
grupomuitopequeno,essevaisercom
700 pessoas. Já gravei isso emmeu
blog, umadasáreas seráanossa, que
hoje tem200pessoas somentenaco-
municação, foraoSACeaOuvidoria.
Juntas, somam1.200pessoas.OSAC
e a Ouvidoria continuam crescendo
tambémporqueaumentouonúmero
de reclamações, mas principalmente
porque quandoocorre umproblema
eu tenhoapossibilidadedemelhorar,
aperfeiçoar as relações, corrigir. Não
temnadadeerradoem terproblema,
o errado é não fazer nada com ele.
Os funcionários e os clientes que
reclamam sãoosmelhores.
GRACIOSO –Vamos encerrar por
aqui, porque, como eu previa, fa-
laríamosodiatodoeaindasobraria
muitacoisa!
ES
PM