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Revista daESPM – Julho/Agosto de 2002
tero, prefiroestar aqui e fazer oque
estou fazendo. Agora, tenho certe-
za que, pela minha capacidade,
meus conhecimentos, poderia per-
feitamente fazer carreira nesse se-
tor.Mesmoquenão tivesse tidouma
empresa, poderia trabalhar e viver
perfeitamente bem. É um trabalho
muito rico, em todosossentidos, em
especial pelosentidoquedáaoseu
trabalho–deentraremcontatocom
realidades, pessoas, entidades, as-
sociaçõesmuitodiversas.Umaopor-
tunidade que certamente não teria
no meu mundo empresarial. Esses
contatos, conhecimentos, o desen-
volvimentopessoal,oenriquecimen-
to, tudo isso tem-megratificadobas-
tante.
JR – Mas essemovimento não é
assim tão novo. Lembro que, no
iníciodaminhacarreira, tínhamos
entidades associativas, como a
ADVB, por exemplo. Mas, naque-
laépoca, aspessoasquesededi-
cavam só a isso eram as menos
competentes, na área gerencial.
Achoqueumadas razõesdo Ins-
tituto Ethos estar dando certo o
fatode você ter sido empresário,
ter convivido com a realidade
mais “dura”domercado, dacon-
corrência. Quando a pessoa vem
para uma ONG com esse tipo de
enfoque, ela terámais sucesso.
Oded – Você tem razão. O ideal é
aliar a competência administrativa-
gerencial comvalores.Quandovocê
idealiza, mas não tem competência
gerencial, poderá ter grandes idéias,
grandes compromissos, mas não
conseguirá viabilizar, estruturando
uma organização – não consegue
produzir resultados, não ganha
credibilidade. Já vi coisas também
pelooutro lado, ouseja, oempresá-
rio leva longea sua visãoempresa-
rial parao terceiro setor.Mas quan-
dose temumagrandecompetência
administrativa e gerencial, são
pouquíssimos os resultados sociais
porque não se está voltado para a
questão social, sem essa sensibili-
dade, essa competência de lidar
compessoas.Podeestaracostuma-
do aomundo competitivo, mas não
a essemundo de solidariedade, de
cooperação, de parcerias, de lidar
compessoas, com carênciase com
certa disponibilidade de aprender,
participar. Você não pode ser auto-
ritário como se é dentro da empre-
sa. Lá, vocêmanda, você faz, você
compete.Oexcessodeum ladoea
falta de outro émuito ruim. Precisa
ter a capacidade de unir a parte
gerencial, aparteadministrativa, de
resultado, com o compromisso so-
cial. O entendimento com a ques-
tão das pessoas já seria um salto
muito grande.
JR–Você foi empresárionosetor
de brinquedos e também da
ABRINQedevesaber que, recen-
temente, um deputado propôs a
proibição de toda propaganda
dirigida às crianças. Qual a sua
visãodacriançanasociedadede
consumo?
Oded–Ela temqueser tratadadife-
rentementedoadulto. Isso inclusive
tema ver comoestatutoda criança
e do adolescente.
JR–Mas tambémpodeserusado
por pessoas que querem oprimir
as crianças.
Oded – De novo, é uma questão
ética: tudopodeser usadoparava-
lorizar ou para oprimir. A questão
da responsabilidade social é a
questão ética. Todos os educado-
res sabem que a criança tem que
ser tratadadiferentementedoadul-
to, porque é um ser em formação,
ainda com muitas fragilidades,
vulnerabilidades.
