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Revista daESPM – Julho/Agosto de 2002
trata bem as pessoas que traba-
lham na empresa, elas se sentem
motivadas, trabalhamgratificadas.
As pessoasmais talentosas – que
têm oportunidades de escolher –
acabam escolhendo as empresas
que tratam bem as pessoas. Os
consumidores levam cada vez
mais em conta a imagem da em-
presa – os produtos começam a
ser mais “commodities”. E a ima-
gem acaba agregando ao que a
empresa faz para a comunidade.
Ela também é agregada a coisas
ruins e pode ser rejeitada. Várias
pesquisas mostram isso, pesqui-
sas com consumidores, por exem-
plo.Umaempresaqueévistae re-
conhecida como socialmente res-
ponsável apresentamelhores cur-
vas de rentabilidade, em relação
às demais, mostram que sãomais
rentáveisemaisseguras.Nãoque
não se possa ter uma empresa
rentável esocialmente irresponsá-
vel. Pode. Mas você tem um tra-
balhoamais–nãodeixar quedes-
cubram isso. Porque na hora que
descobrirem, é fulminante.
JR – Mas que fenômeno recente
colocouemdestaqueessaques-
tãoda responsabilidade social?
Oded – Ativismo político, a
tecnologiaque fez comqueaspes-
soas hoje não ficassem simples-
mente apertando botões.
JR–Vocêachaqueadissemina-
ção da informação também con-
tribuiu?
Oded – Para a informação básica,
sim–os jornais,porexemplo.ANike
teveumaquedaenormede vendas
porque uma entidade denunciou
que, no sudeste asiático, ela tinha
fornecedores que usavammão-de-
obra infantil. As pessoas mais
esclarecidas reagem: “A responsa-
bilidade é dela porque escolheu
“Acomunicação
temque levar isso
emconta:a
criançanãotem,
muitasvezes,aes,a
capacidadede
julgar.”
esse fornecedor”.Eanotícia, emum
instante, chegou em Nova Iorque,
Paris e as entidades ajudaram a di-
vulgar isso aqui. Isso acabou resul-
tando em boicote. O consumidor
pensava: “Bom, eu posso escolher.
Por que vou escolher a Nike ao in-
vésdaReebok, sabendoqueaNike
usamão-de-obra infantil?Vou com-
prar outro”.
JR–Quero fazerumaperguntade
praxeda revista,porqueé lidapor
alunos e professores. Tenho cer-
teza de que entre os nossos alu-
nos deve haver um bom número
quegostariade iniciaroude fazer
suas carreiras no terceiro setor.
Quais as característicasprofissi-
onais que você acha que devem
ser desenvolvidas para que ve-
nham a ser profissionais compe-
tentese felizesnessascarreiras?
Oded–É importantealiar as carac-
terísticas profissionais, tradicionais
de suasáreasespecíficas.Ou seja,
a pessoa da área de comunicação
entender de comunicação; o enge-
nheiro entender de engenharia; o
administrador entender deadminis-
tração. Isso é muito importante –
saber fazer. E há o chamamento, o
apelo. Precisa ter um sentido. Se
para ele é a mesma coisa que tra-
balharnaáreagovernamental,numa
fábrica de salsichas, ou numa em-
presanãosocialmente responsável,
não dá. Há que ter vocação para
esse tipo de atividade. Tem que sa-
berquenãovai ficarmilionário,mas
pode ser muito feliz. Isso tem uma
felicidade “embutida”queéaseguin-
te:nãohánadamaisgratificanteque
fazerascoisasqueagenteachaque
são as coisas certas a fazer. O cer-
to paramim não precisa ser o certo
para você,mas seeu sei queestou
fazendoalgoqueécerto, tenhogra-
tificação. Quando fazemos coisas