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R E V I S T A D A E S P M –
M A I O
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J U N H O
D E
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O
ÚltimoDia
vezesmenosdoquevalehoje,mase
as fraldasdemeu filho?Tampoucoas
troquei!”Oolhardele, surpreenden-
temente, transformou-se.Pareciaque
olhava aquele filho chorando, ali,
agora,naquele instante.Comosolhos
marejados, à espera de uma ajuda,
deumconforto,deuma intervenção,
que pudesse aliviar a dor das
emoções. Eu não sabia o que fazer.
Fiquei surpreso. Por instantes, o que
euacostumaraavermudou.Osábio
e equilibrado presidente que sabia
tudo revelavaumaoutra faceta.Uma
personalidade rica e complexa há
muito tempo escondida.
Sóentãocomeceiaentenderporque
euestavaali.Comecei a transitar na
durezadomomento,na intensidade
de tudoaquiloenaquela intimidade
que,enfim, se revelara.Tratava-sede
um líder. Um líder de fato e direito.
Homemdesucessoreconhecido.De
vitórias representadas em todos os
cantos da sala e nas minhas lem-
branças. Láestavaele,noúltimodia
de trabalho. Eodia seguinte?Como
seria viver depois de todas as festas
e comemorações, discursos, cartas
e agradecimentos? No dia seguinte
não teria mais o carro com o fiel
motorista e tudo o mais que o
cercava de pompas e solenidades.
De repente ele diz: “Comprei um
HondaFit.Carropequeno.Nãocha-
ma atenção e não quebra”. Falava
como seavida recomeçasse.Como
se apósmuitos anos recomeçasse a
andar.Pelaprimeiravezsentiaquela
situação mais do que ele. Pela pri-
meiravez sentique tinha finalmente
espaço para fazer perguntas a si:
Quem sou eu? Senti uma eterna ri-
queza naquele instante. Diante de