HOMERO, SAID, MINDLIN
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M A I O
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J U N H O
D E
2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
velho, porque eu vou levantar por
alguma coisa? Paciência”. Segundo,
agente temqueprestaratenção;ouvi-
los. Há uma história de um japonês
bem-sucedido,que tinhauma fábrica
deautomóveisnos EstadosUnidos e,
de repente, recebeu uma ligação de
um velhinho que se dizia amigo de
seu pai, na aldeia em que viveram.
“Estou aqui nos Estados Unidos e
preciso de um conselho. Será que o
senhor poderia me visitar?” Ele foi
visitareovelhoestavacomacasa toda
cheiade jornais empilhados, edisse:
“Lá no Japão eu guardava jornais e
trocava por papel higiênico e outras
coisas, todas as semanas passavaum
carro trocando.Aquinãoposso trocar,
tenho um quarto cheio de jornais, o
queeu faço?”NosEstadosUnidosnão
haviaapreocupaçãodeaproveitaros
jornaisusados,comonoOriente.Essa
mesma coisa acontece como velho.
Torna-se“descartável”.Odescartável
équeprejudicamais.
JR
– Não existe, também, um certo
preconceitoem relaçãoao idoso?Por
exemplo, na própria televisão, os
programas humorísticos mostram as
pessoasmais idosascomo ridículas...
HOMERO
– Ridículos, idiotas,
surdos. Há um quadro de uma
“velhinha surda”, que devia ser
cortado da televisão, pois é uma
ofensaa todapessoa surda.
JR
–DeviaterentradonaquelaCartilha
doPoliticamenteCorreto,doGoverno...
Porqueidentificarovelhocomousado,
comodescartável,oridículo?Vocênão
acha que os velhos deviam fazer um
movimentocontra isso?
HOMERO
– Issoéumprogramaque
vocês, da ESPM, poderiam liderar,
através do seu Instituto Cultural:
levantar os itens importantes do pro-
blema–oqueelenão temeoqueele
tem; no que ele está falho; o que ele
podedar. Edepoisde levantaras infor-
mações,entãocomeçaracampanha...
JR
–Proporcionalmente,onúmerode
pessoas idosas vem aumentando e a
sociedade parece que não está
preparadaparautilizar, inclusive,essa
forçade trabalho.
HOMERO
–Tiveumamigocego,que
me contava que omelhor dia da vida
dele foi no primeiro dia em que saiu
comabengalabranca.Eupergunteipor
que e ele respondeu: “Antes, quando
eu não usava bengala – eu tinha
vergonha– quando tropeçava,diziam
burro, idiota, não vê onde anda? No
momentoemqueeu saí comaminha
bengala, tudo mudou: me abriram
caminho,meatravessaramarua,ocarro
parou...” Eu estou com oitenta anos e
andocomaminhabengala.Vocêestá
na rua, vai pegar um táxi, levanta a
bengalaeo táxipára...
JR
–Você quer dizer que existe um
problema de comunicação: que
alguma coisa poderia ser feita em
relaçãoaessecanaldecomunicação
entreas gerações.
HOMERO
–NoBrasil,opúblicoem
geral tempreocupaçãocomo idoso,e
não se aproveita mais essa preocu-
pação. Aspessoas têmpaciênciacom
osmaisvelhos,cedem-lheavez,dizem
“por favor”, há essa cortesia. Mas o
mundodosnegóciosécontraovelho.
Aí équeestá.
JR
–Paraencerrar,comoéquevocêvê
omomento emque estamos vivendo,
noBrasil?Seráqueelepermiteumcerto
otimismoem relaçãoao futuro?
HOMERO
–Olhe, o PT tinha boas
idéias, bons ideais, mas não tinha
formação; os governantes desse
partido não têm idéia do que seja
governar o país. O que está aconte-
cendo, essa história do “mensalão”,
issoéocomeçodo fim.Nãoépossível
que todas essas pessoas tenham sido
informadas sobre isso e não tenham
feitonada.
JR
–Nãoháumaspectopositivo, de
queessascoisasestãosendoexpostas,
divulgadas?Talvezanteselasocorriam
enãoeram sabidas?
HOMERO
– Porque, para os velhi-
nhos isso fazparteda “IdadedeCres-
cimento”, que é o que estamos vi-
vendo. Depois de um período de
ditaduramilitarhorrível,vocêcainuma
anarquiademocráticahorrível.
JR
–Equal seráa síntese?
HOMERO
–QuandooLulaganhou,
escrevi umartigodeclarandoqueele
seriaum lídercontinentale–hojeem
dia – é um líder continental, sem
discussão.Maseleémal-assessorado,
emrelaçãoaoHaiti,porexemplo.Este
será um dos grandes fracassos que
JULGAMOS O PROFISSIONAL
PELORESULTADO E NÃO POR ELEMESMO.