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Vista
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R E V I S T A D A E S P M –
M A I O
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J U N H O
D E
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de idade está vinculada a precon-
ceitos, emespecial contraavelhice.
FG
–Você reconheceque,nomundo
empresarial,háumpreconceitocontra
avelhice?
SAID
– Sem dúvida. E ele está nas
grandesempresas,demodogeral.Vou
usar a Ford, como exemplo. A Ford
foi criada por um homem que, não
apenas sedistinguiupela concepção
doautomóvel,da linhademontagem,
como tambémpela comercialização
do produto. OHenry Ford enfeixou
nasmãosocomandodeumaempresa
que–hoje– se tornacadavezmenos
controlávelpelopodercentral.Vemos
osaltosebaixosqueaempresasofreu,
nasucessãodeHenryFord,pelosseus
filhosenetos.Outracoisaéadiferença
entre fundador, fábricaeproduto.Na
Ford, esses três elementos se
confundem. Mas, fala-se em Ford, e
todos pensam no carro. Longinqua-
mente, alguns ainda se lembram do
nome Henry Ford. No Brasil isso é
verdadeemempresascomoaGerdau.
O JorgeGerdau continua à frente da
empresa. AVotorantim, com o fale-
cimento dos mais velhos, colocou a
segunda geração no comando da
empresa.Mas é fatal que,mais cedo
ou mais tarde, se torne uma
companhiamais aberta. Creio que a
maioria das pessoas jamais prestou
muitaatençãoaquem foi o fundador
daGeneralMotors.OnomeGeneral
Motors significamenos que o nome
Chevrolet – a imagem do produto
supera a imagem do fabricante e
ninguémsabequem foio iniciadorda
empresa.
FG
– AGM sempre foi considerada
como símbolo da vida empresarial
americana. Era – parece que, agora,
nem tanto– sólidacomouma rocha.
Oquehádebomemaunisso?Com
o tempo, asempresas se tornammais
conservadoras, moderadas, menos
agressivas. Issoébom?
SAID
–Achoqueentreos fatoresque
respondem pela longevidade das
empresas,oprimeiroéacriatividade.
Falamos de automóvel: o automóvel
continua essencialmente o mesmo.
Mudaramascoisasadjetivas:motores
maispotentes, resfriamento, transmis-
sãoautomática,mas intrinsecamente
é o mesmo. Então, um aspecto que
tem contribuído para a longevidade
das empresas é a criatividade: criar
novos produtos; descobrir, antes dos
outros,oqueoconsumidorrealmente
quer. Depois, há questões como a
globalização,queveiopara ficar.Não
há mais economias auto-suficentes.
Os americanos custaram a perceber
que,mesmoosprodutos tradicionais,
que fabricavam – como geladeira,
automóveis, televisores –, estavam
sendodesenvolvidosemoutrospaíses.
Eháglobalizaçãodos hábitos.Tenho
bisnetos tão sabichõesemmatériade
eletrônica, que – quando tenho
dificuldades com o celular ou o
computador – recorro a eles. Outro
aspectoqueevidenciaa longevidade
dasempresaséoquechamode“pulo
do gato” – um passo ousado,
inesperado, surpreendente para os
concorrentes e que – de repente –
resolve uma situação de impasse.
Poderia citar dois casos brasileiros.
Um durante o governo do Itamar
Franco. A economia nacional estava
mal, a inflaçãoparecia semcontrole,
os consumidores sem coragem para
comprar itensmaiscaros;ea indústria
automobilísticapareciadiantedeuma
crise. Vão os dirigentes da Anfavea
falar com o presidente, expõem,
pedem subsídios, apoios, cortes de
impostosetc.Eo Itamar,quenão tinha
resposta para nenhum desses itens,
disse:“Porquenão lançamdenovoo
Fuscaqueagradoua tantagente?”O
Fusca foirelançado– juntocomoutros
carros demenor valor – que animou
omercado.DepoisveiooPlanoReal,
que estabilizoupreços e salários, e a
indústria automobilística brasileira,
hoje, fabricamaisdedoismilhõesde
carros por ano.
FG
–Opulodogatoéacriatividade.
SAID
– O segundo pulo do gato:
havia, no Brasil, duas empresas que
fabricavam cerveja e dividiam, entre
si, a maior parte do mercado: a
Brahma e a Antarctica. Estavam as
duas sedigladiando, quandoalguém
tevea idéiadeque, emvezdebrigar,
deveriam seunir ecriaramaAmBev.
Aí, vem uma empresa européia,
adquireocontroledaAmBeve levaa
marcaBrahmaparaoutrosmercados.
Daqui apouco, oGuaraná seráuma
bebida tão comum quanto a Coca-
ColaeaPepsi,em todososmercados
mundiais.
FG
–Opulodogatoaí –euconheço
um pouco dessa história – é de um
homem chamado Jorge Paulo
Lemann, que foi oarquitetode todas
essas fusões.Eleesqueceu tudooque
SERMOÇO ÉMELHOR.