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R E V I S T A D A E S P M –
M A I O
/
J U N H O
D E
2 0 0 5
JR
– E alguma coisa que não tenha
dado tempode fazer?
HOMERO
– Antropologia. Eu acho
uma ciência tão bonita, tão
interessante.Masnãoéaantropologia
de índios, gente pré-histórica, é a
antropologia urbana, da cidade,
porqueacidadeofereceumespetáculo
maravilhoso. Eu estava conversando
com minha mulher, outro dia,
imaginandoosujeitoqueéfuncionário
público, ganhapouco,maso filho fez
umcursodecomputaçãoedisseque
gostariade ter umcomputador. Então
ele vai a uma firma que vende
aparelhos usados e compra um, à
prestação, para dar ao filho, no
aniversário. Manda embrulhar o
aparelho, pega o ônibus para o
subúrbio, ondemora, evai pensando:
“Tecuida,HansDonner,quemeufilho
vemaí”. Elenão sabecomo funciona
ocomputador,massabequeexisteum
HansDonnereofilhodelepodechegar
lá... Através da televisão a filha dele
compra um livro de como se faz
bijuterias,e fazbijuteriasemcasapara
vender; amãecompraum livro sobre
MedicinaAlternativaporqueoremédio
estámuito caro e com um chazinho,
resolve.A tecnologiaentrano lardeles
e provoca comportamento diferente,
novo. Issoeugostariadeestudar com
calma, emdetalhes.
JR
–O JorginhoGuinleumavezdisse:
“Já fui rico e já fui pobre, e ser rico é
melhor”.Sealguémdissesse issocom
relação a ser jovem e ser velho, qual
vocêachaque seriaverdade?
HOMERO
–Não, ovelhoachaque
quandoera jovemeramelhor.Nãoé
que ele émelhor que o jovem, mas
sim que “quando eu era jovem, era
melhor que você”. Aproveitava
melhor avida.
JR
–Vocêacha isso?
HOMERO
–Eu, comovelho, sei –é
lógico.
JR
–ODuailibiéumgrandecolecio-
nador decitações e temumacitação
quediz:“Nósnãoparamosdenosdi-
vertirporque ficamosvelhos, ficamos
velhos porqueparamos denos diver-
tir”.Oquevocêacha?
HOMERO
– Éuma “boutade”.
JR
–Você sediverte?
HOMERO
–Noqueposso.A idade
vai limitando o seu campo de ação,
entende?Quandovocê temvinteanos,
diz“vamosaParatynofinaldesemana”,
de ônibus, de carro, de carona ou o
que seja. Mas depois dos setenta, a
quedaémuitogrande,émuitorápida...
JR
–Éumacoisaobjetiva, que tema
ver coma sua força física.
HOMERO
– Exatamente.
JR
– Pirandello escreveu que “com
a idade a percepção se torna mais
lúcida–e issoacaba tornandoavida
insuportável”. Você concordaria
com isso?
HOMERO
–A “percepçãodos ido-
sos” é tão aguda, que – às vezes –
parece que a gente adivinha. Agora,
o que eu gosto na idade – e tenho
ainda interesse por estudar, é essa
coisaoriental,éacontenção japonesa,
porexemplo.Nahistóriada literatura
japonesa, conta-se que havia um
professor que dava aulas de
haikai
–
são dezessete sílabas – versos de
cinco, seteecinco–medidaclássica.
Umalunopassouumanopreparando
seu
haikai
e,no fimdoanochegouao
professor e mostrou o poema, que
dizia: “Na neve, a sombra das cere-
jeiras”.Eoprofessordisse:“Temmuita
cerejeira”.Umacerejeira faziaomes-
mo efeito que várias cerejeiras em
termos de sombra...
JR
–Ecomoéquevocêvêaquestãodas
empresas,hoje:odesesperopelo resul-
tado, pelos lucros, você achaque –de
fato–estahavendoumamudança,ou
éanossavisãodepessoasmais idosas,
por acharque“anteseramelhor”?
HOMERO
– Acho que antes está-
vamos mais preocupados com a
formação do profissional, com o de-
senvolvimento do profissional até ele
chegaraumníveldeexcelência.Hoje,
estamos interessadosno resultadoque
o profissional produz; julgamos o
profissional pelo resultado e não por
elemesmo. Éumadiferençavisível.
JR
–O que, de fato, os mais velhos
podemensinar aosmais jovens?
HOMERO
– Primeiro, paciência,
queé fundamental.Háumacoisano
idoso; ele não reage a certas coisas,
que deveria reagir, mas “eu já estou
O PT TINHABOAS IDÉIAS, BONS
IDEAIS, MAS NÃO TINHA FORMAÇÃO.