Maio_2005 - page 53

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R E V I S T A D A E S P M –
M A I O
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J U N H O
D E
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comoé ser idosonavidapública?
SAID
–Quando oGetúlio foi eleito
PresidentedaRepública, haviamuita
dúvida seeleainda tinhacapacidade
mental para dirigir o país. Coisa que
hoje não damos tanta importância,
haja vista o caso doUlisses Guima-
rães, que manteve a capacidade
gerencial, de liderança política
enquantoviveu.Achoquehojeo fato
de a pessoa ter mais idade, na vida
política, jánãoéumestigma tão forte
quantonopassado.
FG
– E no senado e nos ministérios
principalmente?
SAID
– O senado é o lugar dos
seniores – dos idosos. Acho que há
doiscaminhos.Uméaconsolidação
develhas lideranças –comoAntonio
Carlos Magalhães, José Sarney, o
próprioFernandoHenrique. Eaoutra
vertenteéados jovens,namedidaem
que se deixem atrair pela disputa
eleitoral como instrumento de pro-
moçãodobem-estar dopovo.
FG
–Eoquedizemdasempresasque
jácumpriramum longociclodevida
– como uma Procter & Gamble,
Johnson& Johnson?Há alguns anos,
elas não mostram a mesma cria-
tividade.
SAID
– É que hoje empresas como
Procter & Gamble não têm tanto
significado, mesmo para nós que
estamos no mercado. Há uma
dissociaçãoentreoproduto, amarca
do produto e o nome da empresa.
Façoduasperguntas:quemse lembra
do fabricante do Sonho deValsa? E
Kibon?Quem é o dono da Bombril?
Não importa. SóqueaBombril eraa
únicapresentenomercado, eeraum
mercado aparentemente inexpugná-
vel.DaíapareceAssolan,vemeraspa
uma fatiadomercadodaBombril.Na
verdade,você temdeadivinharoque
osconsumidoresvãoquereramanhã.
Sem falar na moda que é essencial-
mente efêmera. O que apareceu no
desfile de hoje, daqui uma semana,
não existe mais. Mas, ao mesmo
tempo, tem-seoprestígiodonomedo
idealizador, e na outra ponta, o
prestígio da criação. Nomes como
Dior, Yves San Lorain, Daslu são
objetos de sonho das pessoas e
indicaçãode
status
.Tenhoexperiência
de andar em
shopping centers
pelo
mundo.Verosprodutosque sãoven-
didos nesses
shoppings
, sair de uma
loja para outra e encontrar uma
diferença de preço brutal entre dois
artigos, que ao leigo parece equiva-
lente,mas umdos quais temmarca.
FG
–Voupedir a você que comente
algumas citações que vou fazer. A
primeira é do Pirandello que disse:
“Umdosmalesda idadeéqueacaba-
mos adquirindo uma lucidez con-
tundente.”Nos tornamos tão lúcidos
que isso faz mal para nós e para os
outros.
SAID
– Já fui objeto e vítima desse
tipo de lucidez. Até hoje tenho a
cabeçamuito arrumada. De vez em
quando, esqueçode coisas recentes.
Mas aí vem uma lembrança dos
tempos da escola primária ou do
ginásio. E lembro-me com grande
clarezade temasquenão têmamenor
aplicação prática na minha vida,
como, por exemplo, uma aula no
segundo anodo ginásio sobreAsoka
eobudismo.Não seimais queméo
Asoka–seique foiumdos fundadores
dobudismo, e sei pouquíssimo sobre
o budismo. Outro dia, estava no
shopping
, foram buscar omeu carro
e disse: não lembro amarca domeu
carro.Écinzacomchapa tal.Quando
o sujeito estava indo buscar, disse: é
umSubarucinza.
FG
– Outra citação é do Roberto
Duailibi, quedisse: “Agentecomeça
a ficarvelhoquandodeixadedivertir-
se”.
SAID
– Acho que ele tem razão
porque divertir-se significa não dar
demasiada importância às coisas
comunsdavida.Significa, sobretudo,
não sepreocupar comcoisas paraas
quaisvocênão temsolução.Costumo
dizer que souparteda soluçãoenão
parte dos problemas que afetam o
cotidiano, no sentido de que, dado
um problema, procuro resolvê-lo. E,
com isso,medivirto.Divirto-memuito
também vendopessoas àprocurade
respostas evidentes a perguntas do
cotidiano. Não sou de dar garga-
lhadas, mas rio intimamente das
situações cômicas, e procuro ver o
ladobomecômicodas coisas.
FG
– Finalmente, o JorginhoGuinle
disse uma vez que ele já tinha sido
pobre e rico, e achava que omelhor
era ser rico.Você já foimoçoeagora
évelho.Oqueémelhor?
SAID
–Sermoçoémelhor,evoudar
COSTUMODIZER QUE SOU PARTE DA
SOLUÇÃO E NÃO PARTE DOS
PROBLEMAS QUEAFETAM O COTIDIANO.
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