Mesa-
redonda
R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
96
provocadopeloconfronto.Esabemos
que a regra é simples: quando duas
culturas sedefrontam, amaisavança-
da levaamenos avançadaaparalisar
o seudesenvolvimento.
JRWP
–Ou é uma questão de força,
econômicaoudearmas?
Gracioso
–Você tem todaa razão.
Éoqueestáacontecendo.Aqueladi-
versidadeque tantoprezamos dentro
de50anos talvez sejaumapoeirado
que foi nopassado.
Rosa Alegria
– Temos de rever
esses valores. Por exemplo, a lei do
mais forte não deve ser mais a lei
que rege a convivência.
JRWP
– Estamos falando deDarwin,
Darwinismo social.
RosaAlegria
–Eleémal-interpre-
tado.Convenientemente, tentam tra-
duzir Darwin como se fosse “quem
sobrevive é o mais forte”, e não é
bemassim.Quem sobreviveéquem
se adaptamelhor àmudança, não é
omais forte.Existeumgrupo,nãosei
se vocês conhecem, chamado
The
Darwin Project,
que está revelando
a teoria desconhecida de Darwin,
emquea lógicadacooperaçãoper-
meavaoprocessode sobrevivência.
Teríamos cidades, aldeias e pessoas
reunindo-se em torno da mesma
comunidade. As pessoas gostam de
ir à praia e as pessoas procuram os
lugares de maior aglomeração. Se
fosse uma lei absoluta, a sociedade
não seria essa.Temos de rever esses
valores, a lei do mais forte talvez
precise passar a ser a “lei do mais
sábio”, ou a “lei domais criativo”.
Padre Christian
– Mas temos
de dar condições iguais para todos
adquirirem a sabedoria e poder
desenvolvê-la.
JRWP
–Quemdaráessas condições?
Os governos, umgovernomundial?
JorgeMontecinos
–Acho que
não sedá, não seoutorga; conquis-
ta-se. É inevitável que continue a
haver um conflito internacional,
enquanto houver esse fechamento,
essa falsa ilusãodeque felicidadeé
fechar uma fronteira ou formar um
campo de concentração para os
trabalhadores que procuram essa
felicidadenumpaís rico. Existeum
Muro daVergonha entre os Estados
Unidos e México; todo mundo
reclama que o estado mexicano é
um estado falido, mas ninguém fez
nada quando ele começou a falir.
Então cabe ao Ocidente a respon-
sabilidade. O Padre Christian falou
umacoisamuitocerta: “democracia
se define fundamentalmente como
igualdade de oportunidades”. Por
isso, acredito que estamos num
mundo onde a hegemonia se con-
frontará–eoBrasil temumagrande
responsabilidade nesse sentido. Em
paísespequenoscomoomeu,Chile,
colocamo-nos ao lado do Brasil, e
não sintovergonha,nãoperdemosa
nossa soberania namedida emque
oêxitodoBrasil significaoêxitode
muitos países latino-americanos.
JRWP
–Antesde realizaressedebate,
o professor Gracioso e eu entrevista-
mos duas pessoas, para essa edição
da Revista: Leonardo Boff e João
Havelange. Nãodáparapassar para
vocês, em 30 segundos, o que eles
falaram durante uma hora e meia.
LeonardoBoffachaqueaquestãoéde
sobrevivência–comoaquelefilmedo
Saramago, “Ensaio sobre a cegueira”
– “ou nos unimos e encontramos
uma forma de convivência, ou não
haverá futuro para ninguém”. João
Havelange relatou uma experiência
bem-sucedida de aproximação entre
ospovospormeiodeumelemento:a
bolade futebol.
Gracioso
– Quando nós pergun-
tamos a ele “qual o seu segredo”,
ele respondeu: “O segredo éque eu
soubrasileiro, saí daqui respeitando
as diferenças porque aqui éumpaís
tão diferente; fui para lá e percebi
que se tratasse o urdu, o indiano, o
croata e o sérvio da forma que eu
aqui tratavaoparanaense, omineiro
e o carioca, daria certo. Omundo
quer ser chamado pelo nome, o
mundo quer que se respeite a sua
identidade”.Oquehádepositivono
seudepoimentoéqueele teveêxito
e transformou o mundo do futebol
em um só, pelo respeito que soube
ter pelas diferenças.
Roberto Pompeu
– Não sei se
alguémaqui jáassistiuaumfilmecha-