Maio_2009 - page 13

João
Havelange
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Temosum sentimentodecompreensão,
deaceitação, atédebondade.
~
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
13
russos, alemães, franceses, italianos,
portugueses, polacos, uma grande
formação. Somos originários deuma
heterogeneidade e por isso temos
um sentimentode compreensão, de
aceitação, atédebondade, diferente
daquele que é só um país, só vê de
umamaneira. Fui com esse espírito
brasileiro, levei-o para a FIFA e ela
se abriu. E tornou-se uma potência.
Fui eleito em junho de 1974 –mas
sóassumiemsetembro,porquehavia
a Copa doMundo na Alemanha. A
primeira reunião foi em setembro,
pois omês de agosto é omês de fé-
rias.Quando cheguei à FIFA, nunca
meesqueço, leveiumamigo falecido
hápouco tempo,oPauloGodoy–da
Confederação Nacional do Comér-
cio, falava muitos idiomas, pessoa
bastante culta; o Secretário, quando
nosviu, tomouumsusto,pensouque
eu fosse substituí-lo...
J
RWP–OSecretárioerajáoBlatter?
João Havelange – Não, era o
Helmut Kazer um suíço-alemão,
muitorígido.Depoisdeconversarmos
ele me mostrou a casa – omáximo
que se podia reunir numa sala eram
quatro pessoas. “Isso não é sede de
coisa nenhuma”, pensei. Elemorava
noandar decimacoma famíliaeeu
disse: “Assimqueeupuder–evai ser
rápido – vou-lhe comprar uma casa
e vou mudar a FIFA, vou construir
novo prédio”. Ele respondeu que
“aquinão temdinheiro,osenhornão
vai fazer nada – eomáximoque vai
ficar aqui são seismeses” – veja que
arrogância... Apenas respondi: “O
senhormora aqui noprimeiro andar
comsuaesposa, seusdoisfilhos,dois
cães e um gato. Imagine eu morar
comaminhaesposaeminhafilhana
garagemdaCometa,nomeiodosôni-
bus, dos funcionários etc.”! Ele ficou
pensativoe,umanodepois,consegui
comprar a casa para ele. Perguntou
se eu tinha dinheiro, respondi que
nãoeraproblemadele.Fuiaobanco,
o banco comprou a casa como eu
queria, pagou a casa, passou ahipo-
teca, fui pagando um valor pormês,
o banco estava garantindo; depois,
quandofiza sede foi amesmacoisa.
Me perguntou: “Dr. JoãoHavelange,
nós aceitamos ecomoo senhor quer
pagar?” Eu respondi: “20 anos, 4%
ao ano”. Eles aceitaram e assimfiz a
sede.ComocrescimentodaFIFA, eu
tive de ir adquirindo propriedades,
adquiri quatro e, no final, quando
deixeiaFIFA,empatrimôniodecasase
prédiosdeixei150milhõesdedólares,
tudopago.Euentravanomercadopelo
banco – ia lá, falava com o diretor e
dizia “quero comprar aquela casa”;
ele vinha à FIFA, eu mostrava, ele
entrava no mercado, via os preços,
fazia a oferta e, depois de comprada,
ele entrava em contato comigo “Dr.
JoãoHavelange, a casa já é da FIFA.
Comonós fazemos?” E eu respondia:
“20anos a4%”. Eassimaconteceue
tudo foipago.Aqui seaprendemuito,
porquemesmoquemnão é rico, um
dia, vai querer comprar um aparta-
mentoe terádeencontrar uma forma
de chegar lá; as nossas dificuldades
nos fazem aprender como devemos
enfrentá-las. Isso é interessante. Se
vivemos sempre na grandeza, muitas
coisas não nos ocorrem porque não
sãonecessárias,mas,quando lutamos
poralgumacoisa,sejaemqueposição
seesteja, sempre sobraalgumacoisa.
J
RWP –O senhor acha que o bra-
sileiro ou os brasileiros estariam,
de alguma forma, preparados para
exercer umpapelmais importante
nessanovacomunidadedenações
eatémesmoumpapeldeliderança?
João Havelange – Se você me
perguntasse isso há dez ou quinze
anos, eudiriaquenão.Mashojeestá.
OBrasil nãopodemais estar foradas
decisões mundiais. O que adianta
ter aONU com 200 países e ter sete
com direito de veto? Na FIFA era a
vontade europeia que prevalecia. O
comitê executivo erapraticamente só
deeuropeus.Hoje sãooitoeuropeus,
quatroafricanos, quatroasiáticos, seis
dasnossasAméricas,doisdaOceania
e o presidente – 25 pessoas; quando
cheguei láeram15.Vejaque foidado
a todos odireitodedecisão–porque
seeumealioavocê,queéafricano,ou
aelequeéasiático, eupossoganhar.
Antigamente não havia essa possibi-
lidade–eéoque faz faltanaONU.
Gracioso –OqueuneesteCo-
mitêdaFIFA(queé,realmente,uma
filialdasNaçõesUnidas)comtantas
diferenças? As diferenças ajudam
nasdecisões, na riquezadasdeci-
sões – porém, é preciso algo que
unaestepessoal todoem tornode
um idealúnico–eufalodaunidade
nadiversidade.Oqueunia,eoque
uneesteComitê?
JoãoHavelange–Primeiroháde
seconcluir queéapaixãopelabola.
A bola une, ela reúne, está em todo
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