João
Havelange
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Perguntou seeu tinhadinheiro, respondi
quenãoeraproblemadele.
~
î
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
15
JoãoHavelange–Não, já faleceu.
Teve umproblema numa perna, que
teve de ser amputada. Era uma pes-
soaexcelente.Vejaa importânciado
contato.Hoje,omundoestádentroda
FIFA.No livrodeencargos,com todas
asComissões, vocês não vão acredi-
tar: devem fazerpartedasComissões
da FIFA pelomenos, umas 120/130
pessoas. Há um de cada Federação;
então, todospodem trazero seupen-
samento,oseuvoto.EháosCongres-
sos.QuandoserealizaumCongresso,
aFIFApagapara trêspessoasepodem
viratéquatro; são220países, em tor-
node 800 a 880pessoas. É issoque
a nossa gente aqui também tem de
entender: para se trazer uma pessoa,
deve facilitar.Costumodizerque“há
quem tenhaumcérebroprivilegiadoe
nãopodeoferecê-lo,porquenão tem
como sedeslocar”, issonós temosde
compreender.OpróximoCongresso,
paraoqualBlattermeconvidou, será
nas Bahamas, os últimos foram na
AustráliaenaChina.Vejaa importân-
ciade tudo isso,dapresençade toda
essa gente.No anoque vem aCopa
doMundoénaÁfrica,eoCongresso
será na África. Falando nisso, veja
que a Copa do Mundo era jogada
praticamente só na Europa; jogou-
senoUruguai, noBrasil,Argentina,
noChile, noMéxicoevoltava sem-
pre para lá. Hoje, poderá ir a todos
os lugares. Quando deixei a FIFA,
pensei na possibilidade de fazer o
meu substituto e fiz presidente da
FIFA o meu secretário, que estava
comigo há 24 anos.
Gracioso – Como todo bom
empresáriodeve fazer.
JoãoHavelange – Exatamente. A
FIFAcontinuoucomomesmopensa-
mentoehojeéumpoder,umexemplo
e um valor. Falando nisso, não posso
deixar demencionar oAl Gore, vice-
presidentedosEstadosUnidos.Quan-
doaCopaserealizounaquelepaís,em
1994, oClinton disse “não posso ir à
final,quemvaiéoAlGore”.Euestava
naminhatribuna,elemandoumecha-
mar,ecomentou:“Dr.JoãoHavelange,
eununca tinhavisto futebol, acho isso
umamaravilha; essaconcentraçãode
gente é uma tranquilidade, uma festa
em cada jogo. Eu estive pensandono
problemadospalestinoscom Israel–a
partefinanceira, política, administrati-
va,derelaçõespúblicas,nãoconsegui-
ramnadaeeuvendoo futebol, todos
entrelaçados, o futebol poderia fazer
algumacoisa”.Econtinuou:“Osenhor
nãopoderiaverificarapossibilidadede
fazer algopor intermédiodo futebol”?
Precipitadamente respondi: “Eu sou
presidentedaFIFA, não façopolítica”.
Pensei que ele fosse desmaiar – um
homemdeummetroenoventa, inteli-
genteesimpático–mas logocorrigi“o
senhormeperdoe,vouveroquefazer”.
Minha ideiaera ir aos dois países. Fui
a Israeleelesconcordaram.Para iraos
palestinos – era o Arafat – entrei em
contatocomele,quemarcouumareu-
niãoemGaza. Era1997e–dois dias
antes–euestavanoEgitoeumônibus,
com45 turistas alemães, foi destruído
na região e a segurança internacional
nãome permitiu ir. O tempo passou,
fui à Jordânia, o rei erameu amigo e
perguntei se poderia ter um encontro
comoArafat nacapital deleeele res-
pondeu“Dr.Havelange,acasaésua”.
Marquei a data, mas dois dias antes
receboum telefonemadogabinetedo
Arafatdizendo“Dr. JoãoHavelange,o
presidenteArafatmandoulhedizerque
foichamadoaCampDavidnosEstados
Unidosenãovaipoderestarpresente”.
Eu compreendi e respeitei. Procurei o
PríncipeFaisal–comquem tinhaboas
relações, irmãodoRei FaaddaArábia
Saudita–eperguntei: “eupoderiame
reunir com oArafat aqui em Rihad?”
Eele respondeu: “acasaé sua, João”.
O tempo passou, eu deixei a FIFA, o
Príncipe Faisal faleceuhápouco tem-
po– recebi avisitadofilhodelevindo
daArábia Saudita – eo encontronão
ocorreu.Aminha ideiaerapreparar a
Seleçãode Israel e a doArafat, quero
dizer, da Palestina, para jogarem em
Nova Iorque, que é a sede daONU,
ondeeu faria, seeu fosseopresidente,
a preliminar ouo segundo jogo entre
a Seleção do Brasil e a Seleção dos
Estados Unidos. Já conversei com o
presidente Joseph Blatter e ele está
voltandoaisto,principalmenteporque
elehápouco tempo fezum jogoentre
asduasseleções.SeissofossenaONU,
seria um exemplo e eu pediria a ele
que, se ele não convocasse a Suíça,
colocasseomeupaís.Vejaaondepode
chegaro futebol.
JRWP – Mas a ideia era um jogo
entre Israel epalestinos?
JoãoHavelange–Palestinos,das
duas seleções.
JRWP–Nãoaconteceu, ainda?
JoãoHavelange–Não, oBlatter
fez para jogadores mais jovens e foi