Ummundo só...
R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
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que o veredicto de tão formidável
autoridadenão lhes fossedesfavorá-
vel, o “rating”neutro já sendocoisa
próxima de uma bênção.
De repente, cai-lhes amáscara e o
mundoficasabendoqueaavaliação
deumaempresa,não raro, eraparte
integrantedoprocessodeespecula-
ção com as ações respectivas.
Ao meditar sobre a arrogância com
que essa gente, por anos a fio, ditou
a forma e a linha segundo as quais
todos nós deveríamos pensar e agir,
não posso deixar de me lembrar do
saudoso professor Mario Henrique
Simonsen, que, na abertura de um
ensaiosobreplanejamentoestratégico,
disse, com imensa sabedoria, que “o
analistaeconômiconãopassadeuma
cartomanterecheadadematemática”.
Emevem igualmenteà recordaçãoa
figurahumanaextraordináriaque foio
Dr.HenriqueSergioGregori, fundador
daXeroxdoBrasilque,umdia,irritado
com previsões apocalípticas sobre a
economia brasileira, declarou, num
fórum noHotel Plaza deNovaYork,
que “o analista econômico é um su-
jeitoque sempre escreve dois artigos
sobreomesmotema:umparaprevero
quevaiacontecereoutroparaexplicar
porquenãoaconteceu”.
O fato concreto é que, a partir de
setembro de 2008, desabou fragoro-
samente todaessaestruturaquedizia
encarregar-se, com competência e
probidade, da gestão financeira do
planeta. E estão completamente de-
sacreditadosmuitosorganismos inter-
nacionaisque, umdia, foramcriados
para assegurar que tudo aconteceria
dentro de regras claras e firmes, que
o gerenciamentodos ativos financei-
ros daHumanidade seria conduzido
com segurançae transparênciaeque
a arbitragem das disputas seria feita
demaneiraequilibradae justa.Neste
curto período de sete meses, a Glo-
balização, antes uma religião à qual
todosnosconvertíamos, cedeespaço
aoProtecionismo, patrocinado agora
poraquelasnaçõesquesempreocon-
denaram; a estatizaçãode empresas
falidas, antes uma vergonheira que
só acontecia no mundo subdesen-
volvido, passou à ordem do dia das
grandespotências; usardinheiropú-
blico para tapar buracos resultantes
de falcatruas de dirigentes de em-
presa, coisacondenadacomo típica
de países sem instituições, passou a
ser política de estado, aceita como
necessáriaealtamenterecomendável
no chamadoprimeiro-mundo.
Seriaistoentãoofimdostempos?Talvez
não, possivelmenteestejamos vivendo
agora o alvorecer de uma nova era
onde se possa cultivar a esperança de
ver reduzidaahipocrisiaexplícitaque,
durante séculos, tem revestidoe legiti-
mado os preconceitos que dificultam
e atrasam o processo de redução das
diferençashemisféricase regionais.
Não importaondeouemqueépoca,
o ser humano sempre alimentou o
sonhodeummundo ideal, igualitário,
razoavelmente ordenado e previsível
e esse desejo se torna ainda mais
evidente nos momentos de crises,
sejamelas locaisouglobais, coletivas
ou individuais. Enquanto se aceitou,
comopartedapaisagem,aopressão,a
exploraçãodohomempelohomem,a
pilhagemeatortura,nãosobravaespa-
çoparaqueessessonhosde igualdade
merecessem alguma consideração.
Masomundo,pelomenospartedele,
poucoapouco, evoluiunessecampo
e, nos últimos duzentos anos, em es-
pecialapartirdaRevoluçãoFrancesa,
os chamados Direitos Fundamentais
doHomem passaram à condição de
pedra angular do arcabouço institu-
cional dasnações.
Devemosreconhecerqueesforçosge-
nuínos têmsido feitos,nomeadamente
nos anosmais recentes, para dotar o
mundodeorganismose instrumentos
dealcance internacionalqueregulem
earbitremasquestõescomplexasque
derivamdochoquede interessesentre
pessoas e nações. No entanto, por
melhoresque sejamas intençõesque
orientamessesprojetos tão louváveis,
um perverso processo de sabotagem
pareceestar semprepresente, conspi-
rando sem parar contra a realização
do sonhocoletivo.
Asimplesideia,tãológicae,aomesmo
tempo, tão antiga, da necessidade de
um sistemade governoqueordene a
vidadaspessoasepromovao interesse
comum, desembocou, infelizmente,
pelomundoafora, nacriaçãodeenti-
dades que,muito ao contrário, quase
sempreatuamnacontra-mãodo bem-
comum e se transformam emmeros
instrumentosde tiraniaededefesados
interessesdepequenosgrupos.
Nessa questão do ordenamento das
sociedades, oproblemadodistancia-
mento entre o projeto e a realidade
reside, muito certamente, na própria
naturezahumana, tãoboanoatacado
e tão mesquinha no varejo, sempre
prontaparausarnoseuegoístico inte-
resse,a forçaqueé inerenteàs institui-
çõesoriginalmentedestinadasapenas
àpromoçãodobem-coletivo.Pior,os
oportunistasdesempreseutilizamde
umdiscurso aparentemente acabado
em nobreza de sentimentos, para
estabelecer mecanismos que sirvam