Carlos
Salles
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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exclusivamenteàs suaspretensõesde
domínio econômico, territorial, polí-
tico, religiosooumilitar, impondo as
suas regras eos seus interesses.
Repetindo o que se viu na formação
dos impérios da antiguidademais re-
motaenosprocessosmaisrecentesde
colonialismo,amodernarelaçãoentre
as nações continua a ser, namaioria
dos casos, pautada pela exploração
do mais fraco pelo mais forte, com
a imposição dos valores, interesses e
prioridades das forças hegemônicas
do momento. Racismo, xenofobia,
preconceitos, sectarismos sãoapenas
explicitações práticas desses abismos
morais e éticos que, desde sempre,
separamaspessoas.
Diante de um quadro como este, os
pessimistasdecretamo inevitável fim
melancólico da raça humana, exter-
minada pela combinação de uma
série de sentimentos baixos onde o
egoísmo desponta como origem de
todos os males. Mas há os otimistas
que,enxergandovirtudes importantes
nestas criaturas de Deus, garantem
que,nofinal,prevaleceráobom-senso
e a Humanidade encontrará cami-
nhosque levarãoàconcórdiaeaum
pactode sustentabilidadeonde todos
cederãoalgumacoisaparaque todos
desfrutemdeumaexistênciadigna.
Paraospessimistas, nadaháa fazer, a
nãoseresperarpelopróximoDilúvio.
Masentreosotimistas,um interessante
debateestá sendo travado, jáquenão
seconseguiu, ainda, pelomenos, um
mínimo de consenso sobre como o
ideal devida sobreaTerrapoderá ser
alcançado.Éexatamentedessedebate
quedevemosnosocupar.
Amídia cobriu extensamente a rea
lização, em Londres, de mais uma
reunião do chamadoG-20 e, dada a
profundidade da crise econômica na
qual oplanetamergulhou, conferiu-se
aesseencontroumcaráterde fontede
soluçõesmágicasparadevolvera tran-
quilidadeabilhõesdepessoasque,pelo
mundoafora, veemdesaparecer o seu
dinheiro, os seusempregoseo seu fu-
turo. Comodehábito,osPresidentese
Primeiros-Ministrosnosbrindaramcom
frases de efeito, com generalidades,
obviedadesepromessas. Infelizmente,
nenhuma soluçãoconcreta.
Mas isto não impede que inúmeras
pessoas, todas muito inteligentes,
ilustradaseresponsáveis,acalentema
esperançadeumaespéciedegoverno
mundial,compoderespararearrumar
o planeta depois desta “procelosa
tempestade” (parafraseandoCamões).
O consensodas nações fundarianão
apenas organismos supranacionais
para botar ordem no sistema finan-
ceiro mundial, mas uma entidade
que, com a força e a legitimidadeda
procuração de sete bilhões de seres
humanos, governe o mundo e pro-
movaa igualdade, justiçaeconcórdia,
semdistinçãoentrepovos enações.
Nesse contexto, surgiu a expressão
“UmSóMundo”, uma frase tãocurti-
nhaeaomesmo tempo tãosignificati-
va.Emapenas trêspalavras,osadeptos
dessahipótesesintetizamoseusonho
de que se possa construir uma enti-
dade superior, legítima, competente
e eivada em probidade, como tal
reconhecidaereverenciadapor todos
e atuando com alcancemundial, ca-
pacitada a, finalmente, conduzir-nos
aos ideais de liberdade, igualdade e
fraternidadequeempolgaramaFrança
eomundonoapagardo séculoXVIII
e que até hoje alimentam os nossos
sonhosmaisdignos.
A ideia, reconheço, é maravilho-
samente sedutora. Mas, talvez em
razãodaminha formaçãoprofissional,
fundamentada na racionalidade da
GestãopelaQualidade, acabo tendo
grandesdificuldadesparaaderiraesta
causa. Uma das primeiras regras da
Qualidadenosensinaqueprojetosem
plano de implementação viável não
passadesonho inconsequente.Nessa
perspectiva, a ideiadeum sómundo,
comumsógoverno,umúnicoBanco
Central, um único parlamento, uma
única burocracia, soa, para mim,
comopurautopia.Apropósito, oDr.
João Camillo Pena, do alto da sua
sabedoria mineira, já decretou que
“ummundo acabado emperfeição é
}
Oanalistaeconômiconãopassadeuma
cartomante recheadadematemática.
~
M
ario
H
enrique
S
imonsen
Jr. deOliveira
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