Ummundo só...
R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
24
utopia e, se existisse, seria um abso-
luto tédio”.Mas, seépara sonhar “at
large”,proponhoqueseconsidereum
projeto aindamais utópico: reformar
aHumanidade.Duvidoque alguém,
paraestepropósito, tenhaalgumplano
de implementaçãodecurtooumédio
prazo. Afinal, Deus, o Criador do
mundo e das gentes, não conseguiu
aindaesta façanhae,peloqueconsta,
se entristece todos os dias, todas as
horas,comosmalfeitosdosseresque,
segundo se assegura, Ele criou à sua
imageme semelhança.
Pragmaticamente, prefiro acreditar
queaHumanidadeseguirá,por sécu-
loseséculos,nesteseuprocessopeno-
sode tentativas e erros, de correções
de rumos,deavançose recuoseque,
progressivamente, irá melhorando,
purificando-se.Ossereshumanossão
inteligentesesabemperfeitamenteque
éprecisomudar algumas coisas, sem
o que todos perecerão. O conheci-
mentodos estragos jáproduzidos eo
medodemaiores prejuízos por certo
empurrarão a Humanidade para um
comportamentomaisdigno.
Masistosefará,creioeu,semqueseesta-
beleçaqualquerentidadeparecidacom
umúnicogovernomundial.Apavora-me
imaginarummundoemqueexistaum
podersupranacionaldecidindo,sozinho,
oquevamos fazer,oquevamospensar,
comovamos viver. Ficohorrorizado só
de imaginar a esperteza e amaldade
humanasaboletadasnocomandodeste
governomundial.Oprocessode refor-
madaHumanidadeprecisaser feitono
varejo,paísapaís, regiãoa região,cada
umaprendendocomoserrosdosoutros,
cada um com a liberdade para trilhar
caminhos equivocados e promover as
correçõesnecessárias.
Estouconvencidodequeareformada
Humanidadecomeça,necessariamen-
te, dentrode cada umde nós.Tome-
mosoexemplobrasileiro: execramos
osnossospolíticoseasnossas Institui-
çõesporquenelesenxergamosapenas
ineficiência, fisiologismo, corrupção
e desperdício, mas geralmente nos
esquecemosdeque temosospolíticos
e o governo quemerecemos, já que
eles nasceram do nosso voto, tantas
vezes irresponsável, inconsequente.
Infelizmente, a determinar a forma
comoconstruímosonossosistemade
governoeamaneiracomonosrelacio-
namoscomele,estáaculturaquepa-
receprevalecerentresubstancialparte
da sociedade brasileira, aquela do
“levarvantagem,sedarbem”.Curioso
como todosproclamamos aurgência
daéticanapolítica,mas, geralmente,
condenamos a maracutaia apenas
quandoestamos foradela. Igualzinho
a esses espertalhões que, nos países
mais desenvolvidos do mundo, se
pagarambônusmilionáriosenquanto
faliam as empresas a eles confiadas.
Mas, até que fossem apanhados, da-
vam liçõesdedecênciaemoralidade
ao restodoplaneta.
Com este exame de consciência, não
estou dizendo que oBrasil ficará para
todoo sempre condenado à condição
depaísdo futuro.Aocontrário,fizemos
umprogressofantásticoseconsideradas
asorigenseahistóriadestaTerradeSanta
Cruz.Sehojecomeçamosanosindignar
comos escândalos demalversaçãodo
dinheiro público é porque temos uma
imprensaadultae livrequenosdáaco-
nheceressescrimes,cadavezmaisgente
percebendoqueosgovernantessão,de
fato,empregadosdasociedade.Empa-
ralelo,vamosentendendoquenãoexiste
“dinheirodogoverno”.Odesperdícioe
osdesviossefazemcomdinheironosso,
impostosquepagamospenosamentee
que confiamos aos que, com o nosso
consentimento,nosgovernam.
Proponho, portanto, que paremos de
esperar de um governo planetário,
constituído à nossa revelia, as ações
que resolverão os nossos problemas e
comecemos,semmaistardança,acons-
trução da utopia brasileira. Iniciemos
estacruzadadentrodecadaumdenós,
sem tratardequerer reformarovizinho
primeiro. Tratemos o Brasil como um
preciosobemcomum,decujariquezae
perenidadedependeofuturodosnossos
descendentes. Está na hora de, exorci-
zandoo tal“complexodevira-latas”de
que falavaNelsonRodrigues,pararmos
comacrença infantildeque,paraalém
das nossas fronteiras existe apenas um
mundo acabado em perfeição e que,
por desígnio divino, o Brasil é o lugar
maisdesgraçadodoplaneta. Podemos
ser tãobonse tãodesenvolvidosquanto
qualqueroutranação,masistodepende
exclusivamentedecadaumdenós.
Em apenas três palavras, os
adeptos desta hipótese sinteti-
zam o seu sonho de liberdade,
igualdade e fraternidade que
empolgaram a França e omun-
dono apagar do séculoXVIII.
s
ES
PM
M. Dueñas
CarlosSalles
Presidiu a Xerox do Brasil por 10 anos
até a aposentadoria em 1999, e atua hoje
como consultor de empresas.Membro do
ConselhoCurador da FundaçãoNacional
daQualidade e do Conselho Superior do
MovimentoBrasilCompetitivo, temassento
em diversos conselhos empresariais.