Entrevista
R e v i s t a d a E S P M –
março
/
abril
de
2009
10
nea, porque, no dia 15 de setembro,
quandosefezaintervençãonoLehman
Brothers, écomo se tivessemapagado
a luzeomundoentradonaescuridão.
Porque,naquele instante,sequebroua
coisamais fundamental, opróprio ci-
mentodasociedadequeéaconfiança.
Quandoestourouonegócionos Esta-
dosUnidos,osbancosbrasileiros–até
com certomotivo – preventivamente,
começamasegurarocrédito,nasupo-
siçãodequeaquilo iaseestenderpelo
restodomundo. Instantaneamente,no
dia 16 de setembro, o Brasil mudou.
Essa“importação”dacrisepodiaseguir
várioscaminhos.Primeiro,sobaforma
decapitalizaçãosubordinadadosban-
cos.Para issooFEDdeu30bilhõesde
dólaresde
swaps
paraaoBancoCentral
doBrasil, quepoderia ter aproveitado
enãoaproveitou;osbancospoderiam
ter riscossobreseeles iriamounão re-
novarofinanciamentoexternoqueeles
têm. O número talvez fosse algo que
erapossível aoBancoCentral garantir,
usando as reservas; havia o financia-
mento de exportação; acho que tudo
issonãopassavadeuns20%donosso
crédito global. Se tivéssemos agido
rapidamente,oefeitotalveztivessesido
menor. Claroque, sempredepois que
acoisaacontece, a tendênciaéachar
que era mais simples. Acho que o
BancoCentral agiunadireçãocerta,
mas sempreatrasado.Naverdade,o
queelesdeveriam ter feitonodia16
de setembro (de2008), talvez façam
no dia 16 demarço...(de 2009).
José Francisco – Às vezes a ra-
pidez émais importante do que a
própriamedida.
Delfim – Temos de dividir as duas
coisas: primeiro, acriseamericanade
hoje, que é uma crise de confiança
no sistema bancário, nós a tivemos
em 1997, quando fizemos o PROER.
Consertamos o sistema bancário bra-
sileiro,queestámaissólidoqueoutros
sistemasbancáriosdomundo.Nissoo
BancoCentral foimuito rigorosoenós
realmente continuamos no controle.
ApolíticamonetáriadoBancoCentral
foi umdesastre, continuoumantendo
a taxade jurosmuitoelevada,superva-
lorizouoreal;mas tudo issoépassado.
Dequalquerforma,achoqueestamos,
hoje,numasituaçãoumpoucomelhor
doque sempreestivemos, entre todos
os outros países emergentes.Oqueo
Meirellesestádizendoagoraécorreto,
provavelmenteoBrasil vai sofrer,mas
vamos crescermais doqueomundo,
e “crescer” significa crescer mais do
que o resto do mundo, porque, nos
últimos 25 anos, crescemos menos
que omundo, fomos para trás. Acho
quehárazõesparaumcertootimismo.
Sob esse ponto de vista o presidente
Lula agiu corretamente, apesar das
críticas ferozes que as pessoas fazem
– queriam que ele dissesse “Estamos
diantedeumTsunami e vamos todos
morrer”?Oefeitofoibenéfico,aoredu-
ziropânicoque seavizinhava.Vamos
sair disso com dificuldades, algumas
escoriações, mas vamos sair inteiros,
preparadosemais fortesparacrescer.
José Francisco – Professor,
permita-me citá-lo, no seu
Plane-
jamento econômicopara odesen-
volvimento
: “O desenvolvimento
econômico se realiza basicamente
por modificações qualitativas, por
modificaçõesquealteramnãoape-
nasaestruturadosistemaeconômi-
co,mas tambémosvaloresbásicos
eas formasdecomportamentodas
sociedades tradicionais”. Pensando
napróximadécada –e lembrando,
também,quemuitasvezesacriseé
umaoportunidadede recuperação
– quais seriam, na sua opinião, os
valoresbásicosqueainda inibemo
desenvolvimentoeconômicoequais
seriamasreformas,asmodificações
paraosistemaeconômico?
Delfim – Essa é uma questãomuito
interessante.O valor base é despertar
na sociedade a condiçãoque ela tem
decrescer,édespertaroespíritoanimal
doempresário,foiissoqueoLulafez.É
uma tolice imaginar queas coisas são
iguais nos últimos 15 anos.Doponto
de vista da política, são iguais; o que
eleacrescentou?Umapequenachispa,
em 2006, com o PAC. O PAC desti-
nava-se a reacender o espírito animal
dosempresários, e issoeleconseguiu;
porquedesenvolvimentoéumestado
deespírito, comcondiçõesobjetivase
ele conseguiu, na verdade, despertar
isso. E o aumento do crescimento de
2007 e2008 estábasicamente ligado
a isso.Éclaroquepoderíamos ter feito
melhor.Masépreciso reconhecerque
oBrasil, comparado aos outrosmem-
bros doBRIC – Rússia, Índia eChina
– cresceu menos do que todos eles,
mas–naminhaopinião–cresceumais
nos valores a queme referi; primeiro,
acertandosuascontascomopassado,é
oprimeiropaísquesaideumprocesso
militar arbitrário, parauma sociedade
democrática,praticamentecomo“jei-
tinho”que foi aConstituiçãode1988.
Nela, destampou-seapanela, deixou-
se que os desejos, manifestações,
todososvaloresqueestavamperdidos
se explicitassem. É uma Constituição
}
Ocapitalismonão foi
inventadopor ninguém.
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