Antonio
DelfimNetto
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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Ele estudou a natureza, não tentou
“ensinar”anaturezacomoeladevia
secomportar.Esseseconomistas têm
apretensãode construir uma teoria
para ensinar a sociedade como se
comportar.Ouseja, se todossecom-
portassem com aquilo que eu acho
queé racional, iadarumasociedade
do arco da velha de boa. Só que o
mundo é outro. Eudiria que o Frie-
dmansimplesmenteexplorouaquilo
que a natureza tem em si mesma.
Umadasvantagensdohomeméque
essa passagem do animal-homem
paraohomem-animalé,naverdade,
um processo de redução, digamos,
do egoísmo para uma certa forma
de altruísmo. Hoje há, realmente,
umcrescimentodoaltruísmoemais
ainda, a cooperação é fundamental
para chegar a qualquer lugar.Acho
que esta ideia de Estadomínimo
é uma ideia absurda, tanto é ver-
dade porque o Estado está atrás
de tudo. Atrás da confiança dos
homens está o Estado.
José Francisco – Ele assina
amoeda.
Delfim–Naverdade,oseconomistas
nuncaentenderamamoeda. Eu tinha
um velho professor, um craque real-
mente,dequem tenhoótima lembran-
ça: oHeraldo Barbui; ele dava aulas
deSociologianosábadopelamanhã,
com salas lotadas, emostrava que a
moeda é uma instituição social. Na
verdade,amoedaéumamanifestação
daconfiançaqueeu tenhoemvocês,
quevocês têmemmim,eu tedouum
papel e você aceita aquilo; não tem
nadaquever commaterial, elapodia
ser feita com ouro, com boi, mas o
significado é uma instituição social,
foi issoqueoseconomistasperderam.
Isso que está no Simel, no Keynes.
Quer dizer, o Estado está atrás dessa
confiança e essa confiança é funda-
mental para omercado. Como pode
haver divisãode trabalho?Comovou
dividirmeu trabalhocomvocê, seeu
nãoconfioemvocê;nósdoisestamos
produzindomilho,nofinaldasemana
umcomentacomooutro: “Podíamos
fazerumacoisadiferente, vocêagora
cavaumburaco,consegueumpouco
de água e eu vou continuar plantan-
do, aí vamos irrigar. Quando chegar
no fim, dobrou a produçãomas nós
vamos dividir entre nós”. Se eu não
confiar que você vai fazer isso... Isto
éoCrédito, eaeconomiaémovidaa
crédito, créditoé isto: confiança.
Gracioso – Crédito em italia-
no é
credere
.
Delfim – E isto foi quebrado nesta
crise. Na crise aconteceu que o
agente traiu o principal. Eu punha
meudinheironumpapeldoLehman
Brothersporqueacreditavaqueeles
sabiam o que estavam fazendo. Eu
pensava isso porque eles vendiam
paramim todauma formacientífica
de que sabiam calcular o risco do
papel que estavam me vendendo
– veja que tudo é confiança. No
momento em que se quebrou essa
confiança, a pirâmide ruiu. É por
isso que não há solução antes de
que se restabeleça a confiança que
permita começar a reconstruir o
crédito entre os bancos. Crédito
interbancárioéoprimeiropasso.Os
EstadosUnidosatéagoraestão inse-
guros porque uma solução como a
nórdica“eu socializoosbancos,po-
nho toda a sujeira para fora, depois
vendoosbancosvirgens”,pressupõe
quequem compra açãodebanco é
idiota. Posso fazer isso na Alema-
nha, fiz isso aqui com o PROER;
os EstadosUnidos, quando fizerem
isso, se as coisas não derem certo,
vai se ter umgrandeproblema. E lá,
o cidadão tem direitos. Ele poderá
ir ao supremo dizer: “eu comprei
essa ação porque o FED, em nome
do Estado, garantia para mim que
estavavigilante, que sabiaoqueele
estava me vendendo”. Aqui, como
depositanteobancoasseguraomeu
depósito, mas não tem responsabi-
lidade; eu compro uma ação, você
dizqueeuvouperder tudoenãohá
como reclamar. Por que os Estados
Unidos sãooque são?Noprimeiro
governoamericano–comWashing-
ton,havia terminadoaGuerrada In-
dependência–osEstados tinham-se
endividado enormemente, emitido
papéis e a questão era “vamos ou
não vamos pagar a dívida?”Vem o
Alexander Hamilton e diz “nós va-
mos pagar tudo”. Foi issoque criou
aconfiançano sistemabancário,no
sistema financeiro americano. Em
minha opinião, essa é a razão pela
qual osEstadosUnidos foramopaís
quemais sedesenvolveunomundo
e agora estánegando essas origens.
Não é uma coisa tão simples. A so-
luçãoé simples paraa Islândia, que
tinha três bancos. Mas quem está
preocupado com a Islândia? Vol-
tando à primeira pergunta – vai-se
precisardeum tempoparaencontrar
o mecanismo para resolver o pro-
blema: a solução americana talvez
demoreumpoucomais, porquevai
procurar ser amais justa.
}
Conservador éaquelequeconservao
queprestaemudaoquenãopresta.
~
ES
PM