Marco_2009 - page 13

Antonio
DelfimNetto
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
13
nal com a teoria. Na contabilidade
nacional, a importaçãoentranegativa,
então, frequentemente, ouvimos dizer
“se não tivesse havido a importação,
o produto seria maior”. Não. Se não
tivesse havido a importação, não teria
havidooproduto,édissoquesetrata.A
importaçãoéocaminhonaturaldopró-
priodesenvolvimento.Comosecresce?
Primeiro começa a importar algo que
foi inventado lá fora,vai secriandoum
nichodeconsumoaquidentro,aparece
alguémcomaideiadequejáexisteum
mercadorazoávelparaaquilo,começa
a produzir, faz uma inovação, daqui
a pouco está começando a substituir,
melhorou, adaptouaquiloaos hábitos
nacionais,eassimpordiante;ouentão,
você importaa tecnologia juntocomo
equipamento. É claro que existe uma
competiçãoentreoprodutornacionale
oprodutorestrangeirodeequipamentos
semelhantes,ehádesedarummínimo
deproteçãoparaonacional,parasupe-
rar as incertezas que opróprio Estado
provoca.Umpaíscomoonossoprecisa
de isonomia: aminha taxadecâmbio
tem de ser uma taxa de câmbio de
equilíbriodeverdade,enãomistificada,
forçadaporumataxadejurosqueatraia
capital,tenhodeterumacargatributária
parecidacomadomeuconcorrente–o
chinêstemumacargatributáriade17e
obrasileirode40;hádesetercondições
decompetiçãoquesejamisonômicase
uma taxade jurosquesejacomparável
àdoestrangeiro.
José Francisco – Em 1953, na
RevistadosMercados
,osenhor faz
uma defesa brilhante do câmbio
flutuante. Hoje, o nosso câmbio é
flutuante,maisoumenos...
Delfim–Onossocâmbioéflutuante
porqueestavasendo“violentado”pelos
juros. Émuito simples.Oqueéhojea
Política Canônica Econômica – 150
paísesusam.Primeiro,equilíbriofiscal,
ouseja,controledoendividamentopú-
blico. Énecessárioumendividamento
pequeno, uma relação de dívida-PIB.
No caso brasileiro acho que 30% é
um númeromuito razoável – e acho
que, naverdade, sevocêquiser, pode
terequilíbrioorçamentário,oqueseria
uma coisa muito boa. Ou, se você
controlarumpoucoadespesa, temde
reduzir acarga tributária. ParaoBrasil
serumpaísnormal,compolíticafiscal
normal,cargatributáriaentre25e30%
eadívida-PIB30%.
José Francisco – Déficit no-
minal zero...
Delfim–Odéficit nominal pode ser
zero. Mas como se vem dos 37, que
está hoje, para 30? Tem de produzir
superávits
fiscaisefaz-seisso,naminha
opinião,estabelecendoumaregrapara
queasdespesaspúblicascresçamme-
nos queoPIB.Você faz issonoprazo
que quiser. Esta é a política fiscal. A
política monetária realmente é uma
política que mantém a taxa de juros
parecidacomadosseuscompetidores,
eapolíticacambial temde ser como
câmbioflutuante;eu trateidisso–você
lembrouagora imagine– foiem1953,
fazabagatelade55anos...
José Francisco – É interes-
santíssimo.
Delfim–Meioséculo,masnãoénem
méritomeu. Eu era assessor daAsso-
ciação Comercial de São Paulo, que
faziauma reuniãodediretoria todase-
gunda-feira.Haviaalgunsestrangeiros,
comooColanvauxeoSchnoremberg,
pessoas que tinham uma formação
teóricamuito sólida – um era belga
–ehaviaumaenormediscussãosobre
o sistema cambial brasileiro – e esse
artigonasceudessadiscussão, porque
oFriedman tinhapublicadoumartigo
sobreosistemacambialflutuante.Veja
quehá56anoseles tinhama intuição
doqueeracorreto.Hojeestamoscom
umsistemaquesónãofuncionamelhor
por causa da taxa de juros. É por isso
quedigoqueestamospreparados.Há
coisas que precisam ser enfrentadas;
por exemplo, nós vamos envelhecer
maisdepressa.Então faz-senecessário
um sistemadeprevidência social que
sejacapazdefazerisso.Qualéamaior
violêncianacional?Éaseguinte:pega-
seumcidadãocomum,que trabalhou
a vida inteira, pagou o INSS e, em
média, vai receber, na aposentadoria,
deR$600,00 aR$700,00.Aí, pegue
um funcionáriopúblico...
Gracioso–Vai receber,nomíni-
mo,odobro...
Delfim–Queodobro,oquê!Seesti-
vernoExecutivo,é12vezesmais;sefor
noLegislativo, é20vezesmais...
José Francisco – E se estiver
no Judiciário?
Delfim–33vezesmais.Aconteceque
osque seapropriaramdoPoder reser-
varam para si um sistema generoso,
sem risco de ser dispensado, nem de
sofrer as “flutuações”queaeconomia
sofre; com assistência médica muito
superioràmédiaeumaaposentadoria
infinitamente superioràdapopulação
}
Quando se tentaa igualdadepelaviolência,
termina-sedenovoemdesigualdade.
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