Marco_2009 - page 11

Antonio
DelfimNetto
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
11
generosa – pois prevê um estado de
bem-estar social que necessita, para
ser realizado,deuma renda
percapita
quatrovezesmaiordaquetemos;criou
um sistema constitucional seguro. O
Brasil é o único desses quatro países
em que os Poderes são relativamente
independentes mesmo, em que há
liberdade individual e o único, entre
eles, que temo SupremoTribunal Fe-
deral como o definidor final das leis.
Isso nos distingue completamente, é
um passomuito adiante. Compare o
Brasil comos outros BRICs – aChina
vai terdeavançarmuito,a Índiaéuma
enormeconfusão.Segundo,somosum
país imenso com dez vizinhos, sem
nenhum problema de fronteira com
qualquer deles; a Rússia, a Índia, a
China, cadaum tem50problemasde
fronteiracomseus40vizinhos. Somos
oúnicopaís desses com200milhões
dehabitantes,epraticamentecomuma
sóreligião;querdizer,temostantasque
não temosnenhuma.
José Francisco – Falamos a
mesma língua...
Delfim–A línguanem se fala, queé
umacoisa importante.Aqui noBrasil,
se quatro sujeitos se encontram, um
católico, ummuçulmano, um árabe
e um judeu, omáximo que fazem é
sentar àmesa e jogar pôquer. Demos
um passo enorme na organização
política, na construção dos valores
deuma sociedadedemocrática, livre,
constitucionalmente bem arrumada;
estamos preparados para, nessa pró-
xima década, tirar proveito disso. É
claroquepodíamos ter feitoumpouco
melhor, podíamos ter feito algumas
mudanças,terdadoumpoucomaisde
flexibilidade a alguns mercados. Mas
nãovamosterilusão.Issonãodepende
simplesmente do Executivo; depende
dos valores revelados pela sociedade
na Constituição. Não adianta querer
esconder:aConstituição foiproduzida
pornós,porpessoasquenóselegemos.
Nãoadiantadizer“agoraeuvouláetiro
odireitodos trabalhadores”.Ninguém
vaitirardireitosdostrabalhadorescoisa
nenhuma. Só se fará uma reforma do
sistematrabalhista,dapolíticatrabalhis-
ta, respeitandoos direitos individuais,
respeitandoosdireitosdos trabalhado-
res, respeitandoosdireitosadquiridos,
porque esses são os valores que nós
pusemosnaConstituição.Eissoémuito
bomporque,nofinal,darágarantiasàs
pessoas.Parece-mequetranscendemos
ao problema puramente econômico,
estamos preparados dopontodevista
social e estamos nos preparando do
pontodevistaeconômico.
Gracioso –Nessa retomada, to-
dosmanifestammuita fénonosso
mercado interno, que realmente
cresceumuito.Elesozinhoaguenta
o tranco contra o protecionismo
cadavezmaiorqueestáaumentan-
donomundo todo?
Delfim – Nós somos um país fe-
chado. Na verdade, as importações
representam14%doPIB, eéum fator
de produção, do mesmo jeito que o
trabalho e o capital. Mas temos que
ter cuidado, porqueonossomercado
internodependemuitodaexportação.
No caso concreto, hoje, houve uma
redução dramática dos preços exter-
nos. Emcompensaçãoháum sistema
câmbio-flexível, que reduziumuito o
efeitodissosobreosetorexportador. O
prejuízoparaodesenvolvimentoseria,
naverdade, seas relações de trocafi-
cassemnegativas.Querdizer,necessita
demuitomaisexportaçãoparapagara
mesma importação. Omercado inter-
no, para funcionar, precisadecrédito.
Na verdade, a economia moderna é
crédito.Massevocêolhar,nãoencon-
traapalavra
crédito
emnenhum lugar,
sóencontraaexpressão
taxade juros
.
Omercado interno brasileiro é uma
dasnossasvantagens.Agora,dizerque
elesozinhopermitiriaaoBrasilcrescer
6%aoano,provavelmentenão.Porque
haveriaumproblemade acumulação
dedéficitsemcontascorrentes;sevocê
nãoconseguir exportar, nãoconsegue
pagar a importação, então esse é um
problema.Mas a sua pergunta é inte-
ressante:comoéquechegamosaonde
chegamos?Em2002estávamosfalidos;
oGovernoquebrou,oBrasilquebrou,
estavanumprocessoeleitoral–játinha
quebradoem1998efoiaoFundopedir
recursos. Em 2002, novamente que-
brou, fomosaoFundo,estávamoscom
uma dívida enorme, com 60 bilhões
dedólaresdeexportação,oFundonos
financiou.Em2003houveumaexpan-
sãomundial,aChinaexpandiu, foium
bônusqueganhamosdoexterior.Veja
comosãoascoisas:oFernandoHenri-
quediziaquenãoacreditavaemDeus,
oLula juraqueacreditaemDeus.No
período do Fernando, as exportações
cresceram 3,8% ao ano e quando o
Lulaentrou,elascomeçaramacrescer
a22%aoano.Oquehouvenão tem
nadaavercomDeus; temavercoma
expansãodomundo;oníveldomarsu-
biu,enossobarquinho–queestavano
mar–subiujuntoenós,queestávamos
quebrados, tivemos o benefício desse
bônus, nossas exportações cresceram
a22%aoano, adívidaque tínhamos
estavafixadaemdólares,apolíticados
Estados Unidos e domundo foi a de
nãoelevarataxadejuros,deformaque
adívidaficouconstante,ea receitade
exportaçãoaumentou.Noúltimomês
do FHC, precisávamos de três anos e
meioparapagar adívida, agorapreci-
samos sódequatromesesdeexporta-
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