Leonardo
PaceAlves
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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inabilidade dos EstadosUni-
dos emgarantir aestabilidade
no Iraque e noAfeganistão
bem como sua incapacidade
deadministrar sozinhoacriseeconô-
mica internacional, iniciada no seu
próprio território, vem estimulando a
retomada da discussão acerca do de-
clíniodahegemonianorte-americana,
que ensejaria uma nova ordemmun-
dial. Essedebate remontaàdécadade
1970, tendocomomarcoapublicação
da “Ascensão e Queda das Grandes
Potências”, por Paul Kennedy.
Com o fim da Guerra Fria e o ad-
vento da globalização, a liderança
incontestedeWashingtonno sistema
internacional concorreu para relati-
vizar o argumento daqueles que an-
tecipavamoocasodopoder imperial
estadunidense.Mesmoassim, apartir
da segunda metade da década de
1990, a ascensão da China passou a
preocupar os acadêmicos e os políti-
cos norte-americanos, reavivando a
tese sobre a mudança da polaridade
internacional, no longo prazo.
Na atualidade, o reconhecimento da
emergência de outros países periféri-
cos, emparticular doBrasil eda Índia,
bem como a constatação do soergui-
mentodaRússia, somadosaos insuces-
sosdaspolíticaseconômicasemilitares
norte-americanas, contribuíram para
reanimarosprognósticossobreofimda
hegemoniados EUA, nomédioprazo.
Permanece, no entanto, a incerteza
com relação à futura configuração de
poder internacional.
Isso se refletenasanálisesbastantedistintasdosacadêmicos,
quevãodoanúnciodeummundo“pós-americano”,eminen-
tementemultipolar, ao surgimentodeumaestrutura interna-
cional“apolar”.Noprimeirocaso,aarquitetura internacional
assemelhar-se-iaaoantigoequilíbriodepoder europeu, que
vigorou de 1815 a 1914. Aos EUA caberia não só aceitar o
fim inexorável de sua condição de
hegemon
, mas também
facilitar o forjamento de um sistema internacional multipo-
lar estável. No segundo caso, a atuação de organizações
governamentais (regionais e globais), demilícias, de grupos
terroristas, deONGs edeempresasmultinacionais, alémda
tradicionaldiplomaciadosEstados, estaria inaugurandouma
ordem internacional
suigeneris
,caracterizadapelaexistência
decentrosdifusosdepoder.Nessecontexto, a superpotência
enfraquecida deveria incentivar omultilateralismo, a fimde
proporcionar certa governançamundial
1
.
Noâmbitoregional,ofimdabipolaridadedaGuerraFriafezcom
que a interação entreos Estados deumadada região ganhasse
maiorautonomiaedinamismo
2
.O“velhocontinente”desponta
comoexemploemblemático,umavezqueaantigadivisãoentre
umazonade influênciadosEUAeoutradaUniãoSoviéticadeu
lugar, com oTratado deMaastricht (1992), à União Europeia,
atualmentecompostapor 27países, tantodaEuropaOcidental
quanto da EuropaOriental. Se, por um lado, ampliaram-se as
possibilidadesde integraçãoentrenaçõesvizinhasanteamenor
interferênciadeMoscouedeWashington;poroutro lado, foram
a
Na década de 1990, a ascensão daChina
passou a preocupar os acadêmicos e os políticos
norte-americanos, reavivando a tese sobre
amudança da polaridade internacional,
no longo prazo.
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