Marco_2009 - page 50

Polaridades indefinidas
e a geopolítica
R e v i s t a d a E S P M –
março
/
abril
de
2009
50
potencializadososconflitos intraesta-
tais, notadamente, nocontinenteafri-
cano, em faceda relativa indiferença
daúnica superpotênciamundial.
No que concerne à América do Sul,
nota-se também, no período do pós-
Guerra Fria, um esforço de integração
regional, particularmentenoConeSul,
emmeioaumcontextodomésticode
democratizaçãopolíticaedegravecrise
econômica.Otérminodaordembipolar
não engendrou, porém, uma imediata
diminuiçãodainfluênciaestadunidense
nessa sub-região. Tanto o lançamento
das negociações para uma Área de
Livre Comércio das Américas (ALCA),
em1994, quanto a ajuda financeira e
militardeWashingtonaBogotá,como
fitodecombater aguerrilhaeo tráfico
dedrogas,medianteoPlanoColômbia,
em 2000, evidenciam a intenção dos
EUAdemanter suaascendência sobre
todoocontinenteamericano.
Mesmoassim,édignodedestaqueque
aAméricaLatina,emgeral,eaAmérica
do Sul, em particular, não figuraram
como prioridade na agenda interna-
cional dos Estados Unidos, estando
a superpotência mais preocupada
em garantir sua presença estratégica
na “Eurásia”
3
. Em virtude das críticas
feitaspelospaíses latino-americanosà
faltadeatençãodosEUAparacomos
problemas econômico-sociais do seu
continente,naeraClinton(1993-2001);
GeorgeW.Bush,durante suaprimeira
campanha presidencial, prometeu
reverter esse quadro. Comos ataques
terroristasde11/09eoinícioda“guerra
contraoterror”,aAméricaLatinaconti-
nuou, todavia,sendo tratadacomoum
assunto secundário.
Ademais, as consequências deletérias
advindasdaimplementaçãodomodelo
econômiconeoliberal naAméricaLa-
tina eo ataqueunilateral dos EUA ao
Iraque acirraram o desencantamento
em relação ao “Tio Sam”. Consoante
JorgeCastañeda,taldesilusãoexplicao
paradoxodeosEUAtornarem-seainda
mais impopulares, muito embora o
“ColossodoNorte”, sobapresidência
de Bush, sejamenos intervencionista
e agressivo vis-à-vis seus vizinhos,
quandocomparadocomogovernode
ex-mandatáriosnorte-americanos
4
.
NaAmérica do Sul, essa contradição
ampliou a margem de manobra do
Brasilparaaprofundarsualiderançana
região. Tendo comomarco a reunião
dos presidentes sul-americanos em
Brasília,noanode2000,duranteogo-
vernoCardoso,opaísprincipiouapôr
emmarcha um projeto de integração
ambicioso,visandoaamalgamar todo
o subcontinente. A iniciativa resultou
na Declaração de Cuzco, em 2004,
que lançou as bases da Comunidade
Sul-Americana de Nações (CASA), já
sobapresidênciadeLula.
Alicerçadaemummaiordiálogoentre
os países do Mercosul e da Comu-
nidade Andina das Nações, a CASA
passou a priorizar a construção de
uma infraestrutura adequada nas
áreas de transporte, comunicação
e energia, capaz de interligar todos
os Estados do subcontinente. Mais
recentemente,aCASA teveseunome
alterado para União das Nações
Sul-Americanas (Unasul) e adquiriu
maior densidade institucional, em
maio de 2008, com a assinatura de
um tratado constitutivo emBrasília.
O empenho do Brasil em conseguir
maior integração subcontinental vin-
cula-se aoobjetivoprecípuode incre-
mentarseuperfilinternacional.Defato,
opapel ativodesempenhadopelopaís
nasnegociaçõesdaOMC,nacondição
de líder doG-20; o aumento da con-
certação diplomática com a Índia e a
ÁfricadoSul,pormeiodoFórum IBAS;
bemcomoomaiorreconhecimentoda
relevânciaeconômicadosBRICs(Brasil,
Rússia,Chinae Índia); alémda recente
descobertadenovasreservasdepetróleo
edegásvêmconcorrendoparamajorar
oprestígio internacionaldopaís
5
.
O Brasil depara-se, entretanto, com
grandes desafios no seu entorno. O
ataque desfechado pela Colômbia a
Mais recentemente, a
CASA teve seu nome
alterado paraUnião
dasNações Sul-
Americanas (Unasul)
e adquiriumaior
densidade institucional,
emmaio de 2008, com
a assinatura de um tratado
constitutivo emBrasília.
s
SímbolodaUNASUL
1...,40,41,42,43,44,45,46,47,48,49 51,52,53,54,55,56,57,58,59,60,...136
Powered by FlippingBook