Marco_2009 - page 55

Os temasdasrelações internacionaisdoBrasil,
atéalgum tempoatrás, eramseguidosdemodo
regularapenasporumpequenocírculodepes-
soas.
Opaístinhapequenaprojeção internacional,
viajava-se pouco ao exterior, apenas umpunhado
de grandes empresas tinha investimentos no
Brasil. Somente eventos extraordinários− como
a Segunda GuerraMundial, alguns episódios da
Guerra Fria ou uma crise grave em país vizinho
–podiamdespertarmaior interessenaopiniãopú-
blica. Poroutro lado, atéos anosoitentas, oBrasil
só exportava umpunhadode produtos agrícolas,
como café, açúcar, cacau e poucas manufaturas,
comocalçados, ferrogusaetecidos. Importávamos
apenas oquenãopodíamos produzir, como trigo
epetróleo,mantendouma verdadeiramuralhade
altas tarifas, reservasdemercado, quotas eoutros
instrumentosprotecionistasquenos isolavam.Os
investimentos estrangeiros diretosnoBrasil nesse
períodomal alcançavam a cifra de um bilhão de
dólares por ano. Em suma, nosso país tinha um
papel apenas secundário nas principais correntes
de comércio enegócios internacionais.
Não surpreende, assim, que não houvesse espaço
para estudos universitários de relações interna-
cionais. Só na década de 70, por inspiração de
alguns diplomatas com vocação acadêmica como
Rubens Ricupero e Gelson Fonseca, foi criado o
primeiro curso especializado na Universidade de
Brasília (UnB).Haviauma forte vinculação como
Itamaraty,única instituiçãobrasileira inteiramente
voltada para as relações exteriores do Brasil, que
fornecia a maior parte do corpo docente e era,
naturalmente, o destino profissional da maioria
dosalunos, constituindoumnichodemercadode
apenas 20 a30 vagas por ano.
Nos últimos vinte anos tudomudou a partir da
abertura comercial que ocorreu em 1990/91. Já
no final da década, nosso comércio exportador e
importadorsomadosultrapassavam100bilhõesde
dólares, comparadoscomosmagroscincobilhões
queostentávamostrintaecincoanosantes.Houve
momento em que os investimentos estrangeiros
LuizFelipe Lampreia
Embaixador, ex-ministrodasRelações Exteriores (1995-2001) e
professor associadodeRelações Internacionais daESPM-Rio.
em capacidade produtiva no Brasil superaram
30 bilhões de dólares. OMercosul constituiuum
vestibular de internacionalização para nossas
empresas. AOrganizaçãoMundial de Comércio,
criada em 1994, tornou-se a carta patente da
liberalização competitiva. O comércio mundial
passou a expandir-se a taxas anuais superiores ao
crescimento do PIB total e o Brasil entrou nessa
corrente com decisão. Hoje temos um comércio
total da ordem de 400 bilhões de dólares, um
parqueprodutivocomalgumasáreasdeexcelência
internacional comoaagroindústria
e a agropecuária, a mineração,
a aviação civil e outras. Há
grandes empresas brasi-
leiras que se projetaram
no exterior com grande
competência, como Pe-
trobras, Vale, Gerdau,
Embraer emuitasmais.
Com tudo isto, há um
grande espaço para o
posicionamento no mer-
cado de trabalho brasileiro
e internacional. Como em
todos os aspectos, a competição
internacional é, porém, mais intensa do que na
esfera interna apenas. Creio por isso que haverá,
aí também, um processo darwiniano de seleção
natural dos mais qualificados tanto no que diz
respeito aos estudantes universitários quanto aos
próprios cursos de relações internacionais.
Nomundoglobalizadoemquevivemosde forma
irreversível, com grandes oportunidades e, por
vezes, grandes crises, há um novo horizonte de
infinitas possibilidades profissionais. Por isso,
é de comemorar que a ESPM tenha concluído
o segundo ano letivo de seu curso de Relações
Internacionais. Confio plenamente que nossa
ESPM oferecerá cada vez melhores instrumen-
tos de formação. Tenho grande satisfação de
estar associado à tarefa estimulante de formar
os jovens que devem, brevemente, participar da
inserção cada vez maior do Brasil no processo
da globalização.
Relações Internacionais:
F
Hágrandes
empresas brasileiras
que seprojetaramno
exterior comgrande
competência, como
Petrobras, Vale,
Gerdau, Embraer
emuitasmais.
um campo em expansão
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