História
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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deumdiscursomental, ouseja, associaçõesmentais (ima-
gensbombardeadaspelamídia) que fariamcomqueesses
jovensmantivessemuma relação como objeto do desejo
como fato, capaz de resultar em uma ação de desejo ou
aversão (frustração).
“Oesforço para obter a paz, durante o tempo emque o
homemtemesperança de alcançá-la, fazendo, para isso,
uso de todos os ajustes e vantagens da guerra, é uma
norma ou regra geral da razão. A primeira parte dessa
regra encerra a lei fundamental da natureza, isto é, pro-
curar a paz e segui-la. A segunda, a essência do direito
natural, que defendemos por todos os meios possíveis”,
detalhaHobbes em
Leviatã
(EditoraMartinClaret, 2009).
Nesse sentido, o desejo é o esforço que vai emdireção
a algo que o causa, e assim a definição desse conceito
reúnee sintetiza todas aspaixões, queestãovoltadaspara
aquilo que as causa. Dessa forma, a esperança tambémé
umdesejo, assimcomo o amor, a coragem, a confiança, a
ambição, a benevolência, a cobiça, a ânsia de vingança e
a curiosidade. Todas essas paixões são formas distintas
demanifestações do desejo.
Quantos sonhos foramassassinados pormovimentos
políticos durante a história? Há 80 anos, na Alemanha,
um jovemnazista tentava compreender por que grandes
pensadores alemães elogiaramumjudeuchamadoBento
Espinosa—filósofoportuguêsquedespertouacuriosidade
dos ideólogos donazismo. Ahistória é contadana obrade
IrvinD. Yalom,
O enigma de Espinosa
(EditoraAgir, 2013).
Comapreocupaçãodeexplicaratransformaçãodevalo-
res por meio dos processos civilizatórios, não podemos
simplesmente associar a razãodeEstadocomMaquiavel,
no sentidoda individualizaçãonafiguradoPríncipe. Ten-
taremos investigar a existência da razão de Estado como
açãopormeiodahistória, como fatoe emmomentos dife-
rentes. Essaquestãomereceumexamemaisaprofundado,
postoquedesdeoséculo16existemduas formasde racio-
nalidade, uma guerreira e outra econômica.
Por que remontar-nos às instituições romanas ou
à Idade Média? — “de
La Cité à l’État
”. Três aspectos
justificam a escolha da racionalidade:
•
O desejo de escapar das leituras mecanicistas de Maquia-
vel, que associam a razão de Estado a ele.
•
A necessidade de tomar uma distância entre as “duas”
razões de Estado e seus conflitos, particularmente o que está
acontecendo coma abertura dos mercados e a concentração
de renda internacional.
•
Omotivo de o pensamento moderno ter profundas raízes
na teologia medieval, particularmente no referente à ética
e sua influência político-filosófica.
Ahierarquiacatólicaédecisivanoplantiodoódioantis-
semita,sobretudonoséculo20.Talatitudeduraatéotriunfo
donazifascismo. Essaaliançacomos regimesautoritários
e totalitários vai se estender, com os regimes de Franco,
Salazar eos coronéis gregos. RazõesdeEstadoordenamo
acordodeLatrão,emquesereconheceporpartedoitaliano
fascistaBenitoMussoliniasoberaniapapalsobreoVaticano
e a Concordata de Império como austríaco nazista Adolf
Hitler em1933. Nesta última, os sacerdotes são assimila-
dos aos funcionários estatais. Surge então a identificação
entre Deus, raça, povo, Estado e governantes. Essa visão
vai concretizar-se com a ascensão de Pio XII ao trono de
São Pedro, “amigo” da Alemanha e conhecido por outros
comoo “papanazista”, que teráumpapel relevantena fuga
deumgrandenúmerode criminososnazistas emdireção
aocontinente latino-americano, ecompassaportesoutor-
gados pela administração da Santa Sé. “Papa cauteloso,
ouomisso, aonãodefender os jovenspadres católicosque
denunciavamo extermínio dos doentes mentais”, define
ofilósofoRobertoRomano, no livro
Os nomes do ódio
(Edi-
tora Perspectiva, 2009).
Se voltarmos no tempo para entender a história de
Espinosa, veremos que emseus escritos o filósofo admi-
rado por Goethe afirma: “O direito do Poder (
imperii
) ou
do Soberano não é senão o próprio direito de Natureza,
determinando-se não pela potência de cada umdos cida-
dãos tomados à parte, mas da massa (
Multitudinis
) diri-
gida comopor uma sómente”. Istoé, assimcomoemcada
umemestado natural, o corpo e amente possuem tanto
direito quanto potência, assim também é com o poder:
cada cidadão ou súdito tem tanto menos direito quanto
mais a própria cidade for potente. Consequentemente,
Ademocracia e a liberdade, como
valores fundamentais, sãoperseguidas
pelos jovens, que nãoqueremseguir
modelos vindos de longe