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Política

Revista da ESPM

| janeiro/fevereirode 2014

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São, de rigor, os integradoresdopoder, comodiriaAlvin

Toffler, no livro

Terceira onda

(Editora Record, 2001). Os

políticos só governam, alicerçados em sua ação.

Quase sempre oferecemmuita resistência a qualquer

mudança. Acostumadosdentrodedeterminadas rotinas,

amudançacausa-lhes calafrios esãoosprimeirosa tentar

bloqueá-las. Sua concepção é casuística, em que o cargo

dá dignidade à pessoa. A grande maioria é honesta, mas

atribui à administração pública — que confundem com o

poder—umpapelmaisrelevantedoqueàprópriasociedade.

Neste aspecto reside o grande problema. O burocrata

pensa que a sociedade está a seu serviço. E, à evidência,

seu poder, no tempo, confunde-se com seu direito.

Comoospolíticospassameosburocrataspermanecem,

são eles os verdadeiros formuladores das políticas gover-

namentais, principalmentenos países parlamentaristas.

Integramo poder, comque, normalmente, se identifi-

cam, e terminam confundindo seus próprios interesses

com aqueles da nação, em confusão que reduz a cidada-

nia a expressão inferior.

Concursados ou escolhidos para serem “servidores

públicos”, como determina a expressão, no mais das

vezes, passama exercer opoder burocráticocomo se cou-

besse à nação servi-los, e não o contrário. O povo é que

acaba ficando à disposição desses detentores do poder,

pormeio de tributos ou das exageradas exigências buro-

cráticas, criadas para aumentar seus quadros e justificar

ações, emmuitos casos, desnecessárias e inibidoras das

potencialidades da sociedade.

Os governantes, políticos e burocratas, quase sempre

agemde comumacordo. Cada alteração de poder, pelos

políticos, não corresponde a idêntica alteração por parte

dos burocratas, que deixam os quadros funcionais em

menor número do que aqueles que neles entram pelas

mãosdenovas administrações. Eos concursados, efetiva-

dos e estáveis nãohá, sequer, como pensar emafastá-los.

No livro

Concept of law

(OxfordUniversity Press, 1997),

Herbert Lionel Adolphus Hart explica que, nos Estados

democráticos, as leis são feitas para serem aplicadas a

governantes e governados, mas, como são feitas pelos

governantes, quase sempre sãoaplicadas contraos gover-

nados e a favor dos governantes.

De rigor, éoqueocorrecomaburocracia. Eaburocracia

não profissionalizada — que é formada pelos correligio-

nários dos partidos vencedores — é ainda pior, namedida

em que tais burocratas só se tornaram burocratas por

interesse político e não por vocação funcional. E, nesse

caso, a identificação como poder émuitomaior. São, em

verdade, osverdadeirossenhoresdamáquinaadministra-

tiva, nospaísesondenãoháburocraciaprofissionalizada.

Omelhor caminho para reduzir os efeitos nocivos da

identificação do burocrata com o poder reside na deno-

minada “burocracia profissionalizada”, em que há car-

reira funcional emérito no seu exercício.

Ocerto, todavia, é que, noBrasil, não temos burocracia

profissionalizada, anãosernas carreirasmilitares, no Ita-

maraty, no JudiciárioenoMinistérioPúblico.Oscargosde

confiança, que representamospostosmaisaltosdaadmi-

nistraçãopública, sãopreenchidospor pessoasquequase

nuncasãofuncionáriosdecarreira,masligadasaospolíticos.

Essa experiência não tem sido boa.

Os aproveitadores

Assim como a ditadura, a democracia é um sistema de

governo emque vicejamos aproveitadores. Aqueles que,

através da bajulação, pequenos ou grandes golpes, inte-

resses e, algumas vezes, ações condenáveis, aproximam-

se dos poderosos.

Entre estes, se distinguem, emprimeiro lugar, os cor-

religionários. Aqueles que fazemda militância política