Política
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
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Cristo teve 12 apóstolos. Um deles o traiu. Era exata-
menteoquecuidavadabolsa,manipulavaodinheiro.Pode
ter sido uma coincidência, mas, em face do livre arbítrio
queDeus outorga a todos os seus filhos, foi elemal usado.
EvendeuCristopor dinheiro, tendo se arrependido—não
como Pedro — e, no desespero, cometeu um segundo ato
tresloucado, o suicídio.
Lord Acton, ao dizer que o poder corrompe e o poder
absolutocorrompe absolutamente, não fez senãoafirmar
o óbvio. Um dos aspectos interessantes da corrupção
reside na gradativa insensibilidade que o corrupto vai
adquirindo, comoodrogado, nos seusdesviosdeconduta.
Adolf Hitler, nodia 27 de abril de 1945— três dias antes
deseusuicídio—,fezumaobservaçãoanotadaporseusbió-
grafos, segundo relatosdaquelesqueficaramno “bunker”
com ele, que serve para mostrar a insensibilidade que o
poder vai gerando. Disse: “Se de alguma coisa tenho de
me arrepender éde ter sido tãogeneroso comas pessoas”.
Nomundo inteiro, todos os preços públicos sãomaio-
res do que os preços privados, porque neles está incluído
opreçoda corrupção. Os corruptos recebemumaporcen-
tagempaga por fora.
Manuel Ferraz de Campos Salles foi um presidente
brasileiro que entrou rico na política e saiu pobre. A
grande maioria dos políticos — que só vivemde política
e com subsídios e vencimentos parcos, se comparados
aos padrões internacionais — entra pobre na política e
dela sai rico.
Nunca se falou tanto eméticanomundo enunca se viu
tantosproblemasespoucaremnessecampo, diariamente,
desvendando corruptos, na burocracia e na política.
Outro aspecto negativo é a conotação ideológica.
Quando os órgãos responsáveis pelo combate à corrup-
ção têmpreferências ideológicas, passama ser seletivos.
Lutam para descobrir a podridão dos que tenham ideo-
logia diferente e escondem a podridão dos que pensam
como eles, tornando-se — mesmo que não recebendo
dinheiro do poder — corruptos de outra espécie, ou seja,
“corruptos ideológicos”.
Política e corrupção. Poder e corrupção. Burocracia e
corrupção. São características permanentes dos homens
que dominam os povos, considerando-se mais dotados
que a sociedade para subir na vida, à custa dela.
O povo
O povo pouca atuação consciente tem, nos destinos
dos governos. Seja nas ditaduras, seja nas democracias.
Nas democracias, à evidência, há um verniz de atua-
ção, reduzida à participação na escolha dos governan-
tes, que, todavia, é fantasticamente manipulada pelos
marqueteiros de ocasião.
A manipulação para a conquista do poder é a carac-
terísticamaior da democracia de acesso, sendo o verda-
deiro eleitor dos candidatos o seu homemde comunica-
ção social. A obra do candidato, seu desempenho, sua
personalidade, são quase sempre reconfigurados para
melhor, pelo marketing político.
Opovonãomanda, nada decide, tudo suporta. Grande
parte dele não temcondições de julgar o que é verdade e
o que é mentira nas campanhas eleitorais.
Nospaíses emergentes, a incapacidadepopular éainda
maior e amanipulaçãomais fácil. Conforme o grau cul-
tural ou as tradições dos povos, asmanipulações podem
gerar fanatismo e dependência a líderes carismáticos.
Nesses países, os que controlam a opinião pública são
os que auxiliam os governantes a governar, indepen-
dentemente do povo.
Não significa, todavia, que o povo não seja manipu-
lado, nospaísesdesenvolvidos. As fortunasque segastam
nas campanhas eleitorais são aindamaiores do que nos
emergentes, e a elite dos grandes grupos empresariais,
sindicais e de interesses corporativos da administração
termina por conduzir as eleições não necessariamente
para o melhor, mas quase sempre para o candidato que
contratou omelhor publicitário. Quemdecide a eleição,
pois, não é o povo, mas o homemda propaganda.
Prometer, empolítica, não compromete. Todos os can-
didatos sabemque seu compromisso como programa de
campanha é nenhum. Por isso prometem tudo e quase
nada cumprem.
A omissão das elites e a permanente incapacidade do
povodedistinguir entre “marketing” e “verdade”, alémda
falta de mecanismos jurídicos para controle dos deten-
tores do poder, tornam a sociedade, de rigor, mero ins-
trumento de domínio dos políticos.
Nademocraciaque idealizoparameu
país, o cidadãodeveria ser o senhor de
todos os direitos sobre os governantes e
estes, apenas seus servidores