família
Revista da ESPM
| janeiro/fevereirode 2014
26
empraticamente todas as sociedades humanas, mesmo
naquelascujoshábitos sexuaiseeducativos sãomuitodis-
tantesdosnossos. [...]Afamília, ao repousar sobreaunião
mais oumenos duradoura e socialmente aprovada de um
homem, de umamulher e de seus filhos, é um fenômeno
universal, presente em todos os tipos de sociedade”. Tal
citaçãoapareceem
Textes de et sur Claude Lévi-Strauss
, reu-
nidos por RaymondBellour eCatherineClément (Editora
Gallimard, 1979). Asmães eramas primeiras pedagogas,
treinadoras sociaisdeumaprolequeaprendiaase relacio-
nar de forma civilizada. O ingresso na escolarização era
uma etapa ulterior, que não prescindia do preparo prévio
e insubstituível do berço.
Houve muitas fases na evolução/involução da famí-
lia. Mas a verificação de seu estágio atual não é sempre
gratificante. Se amãe, ao conquistar autonomia, relegou
a domesticidade a segundo plano, o pai também perdeu
autoridade. “À família autoritária de outrora, triunfal ou
melancólica, sucedeu a famíliamutilada de hoje, feita de
feridas íntimas, de violências silenciosas, de lembranças
recalcadas. Ao perder sua auréola de virtude, o pai, que
a dominava, forneceu então uma imagem invertida de si
mesmo, deixando transparecer umeudescentrado, auto-
biográfico, individualizado, cuja grande fratura a psica-
nálise tentará assumir durante todo o século 20”, escla-
receElisabethRoudinesco, no livro
A família emdesordem
(Editora Zahar, 2003).
Avidaeraestável e tranquila. Asociedadeaindaprovin-
ciana era emgrandeparte caracterizadapor sólidos hábi-
tos rurais. As cidades repartiamcomo campouma popu-
laçãoequilibrada, ainda incólume à intensaurbanização,
semeadoradeextensasáreasconurbadaseproblemáticas.
Poucasdécadasatrásosbrasileiroshabitavamointerior.
De repente, houve uma explosão das urbes e, com ela, a
implosãodocaráter. Sãomúltiplas as causas enãosemos-
tra viável quantificar a influência de cada uma delas na
erosão axiológica hoje disseminada e reconhecida pelos
que se preocupamcomos índices civilizatórios aferíveis
numa sociedade complexa como a brasileira.
Abordemos,aindaquesuperficialmente,algumasdelas.
A revolução feminina garantiu àmulher uma legítima
e altaneira posiçãona sociedade. Não se justificavaman-
tê-la emsituação de inferioridade legal, pois a diferença
de sexos não interfere na identidade comum. Ambos
integram a espécie humana. Todavia, um dos efeitos
perversos dessa conquista de espaços foi a entrega do
infante educando a mentores nem sempre igualmente
capazes na formação das novas gerações.
AIgreja, que sempredesempenhouumpapel relevante
na consolidação de objetivos coincidentes com a moral
tradicional, começouaperder autoridade. Deumaaliança
que, em algumas hipóteses, chegou à promiscuidade,
houve uma ruptura entre Estado e Igreja e, pior ainda,
entre Igreja e Sociedade e entre Igreja e Família.
O agnosticismo não impede uma conduta ética irre-
preensível. Mas a confissão religiosa representa uma
Poucas décadas atrás os brasileiros
habitavamo interior. De repente,
houve uma explosão das urbes e,
comela, a implosão do caráter
”Ao contrário de todos os outros bens que buscamos tendo
emvista outra coisa, a felicidade é buscada por elamesma:
é o soberano bem. Naquilo emque nãohá acordo é sobre a
suanatureza e a definição do que ela é”
Aristóteles
latinstock