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família

Revista da ESPM

| janeiro/fevereirode 2014

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empraticamente todas as sociedades humanas, mesmo

naquelascujoshábitos sexuaiseeducativos sãomuitodis-

tantesdosnossos. [...]Afamília, ao repousar sobreaunião

mais oumenos duradoura e socialmente aprovada de um

homem, de umamulher e de seus filhos, é um fenômeno

universal, presente em todos os tipos de sociedade”. Tal

citaçãoapareceem

Textes de et sur Claude Lévi-Strauss

, reu-

nidos por RaymondBellour eCatherineClément (Editora

Gallimard, 1979). Asmães eramas primeiras pedagogas,

treinadoras sociaisdeumaprolequeaprendiaase relacio-

nar de forma civilizada. O ingresso na escolarização era

uma etapa ulterior, que não prescindia do preparo prévio

e insubstituível do berço.

Houve muitas fases na evolução/involução da famí-

lia. Mas a verificação de seu estágio atual não é sempre

gratificante. Se amãe, ao conquistar autonomia, relegou

a domesticidade a segundo plano, o pai também perdeu

autoridade. “À família autoritária de outrora, triunfal ou

melancólica, sucedeu a famíliamutilada de hoje, feita de

feridas íntimas, de violências silenciosas, de lembranças

recalcadas. Ao perder sua auréola de virtude, o pai, que

a dominava, forneceu então uma imagem invertida de si

mesmo, deixando transparecer umeudescentrado, auto-

biográfico, individualizado, cuja grande fratura a psica-

nálise tentará assumir durante todo o século 20”, escla-

receElisabethRoudinesco, no livro

A família emdesordem

(Editora Zahar, 2003).

Avidaeraestável e tranquila. Asociedadeaindaprovin-

ciana era emgrandeparte caracterizadapor sólidos hábi-

tos rurais. As cidades repartiamcomo campouma popu-

laçãoequilibrada, ainda incólume à intensaurbanização,

semeadoradeextensasáreasconurbadaseproblemáticas.

Poucasdécadasatrásosbrasileiroshabitavamointerior.

De repente, houve uma explosão das urbes e, com ela, a

implosãodocaráter. Sãomúltiplas as causas enãosemos-

tra viável quantificar a influência de cada uma delas na

erosão axiológica hoje disseminada e reconhecida pelos

que se preocupamcomos índices civilizatórios aferíveis

numa sociedade complexa como a brasileira.

Abordemos,aindaquesuperficialmente,algumasdelas.

A revolução feminina garantiu àmulher uma legítima

e altaneira posiçãona sociedade. Não se justificavaman-

tê-la emsituação de inferioridade legal, pois a diferença

de sexos não interfere na identidade comum. Ambos

integram a espécie humana. Todavia, um dos efeitos

perversos dessa conquista de espaços foi a entrega do

infante educando a mentores nem sempre igualmente

capazes na formação das novas gerações.

AIgreja, que sempredesempenhouumpapel relevante

na consolidação de objetivos coincidentes com a moral

tradicional, começouaperder autoridade. Deumaaliança

que, em algumas hipóteses, chegou à promiscuidade,

houve uma ruptura entre Estado e Igreja e, pior ainda,

entre Igreja e Sociedade e entre Igreja e Família.

O agnosticismo não impede uma conduta ética irre-

preensível. Mas a confissão religiosa representa uma

Poucas décadas atrás os brasileiros

habitavamo interior. De repente,

houve uma explosão das urbes e,

comela, a implosão do caráter

”Ao contrário de todos os outros bens que buscamos tendo

emvista outra coisa, a felicidade é buscada por elamesma:

é o soberano bem. Naquilo emque nãohá acordo é sobre a

suanatureza e a definição do que ela é”

Aristóteles

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