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janeiro/fevereirode2014|

RevistadaESPM

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que imaginampossível fazer uma reforma política digna

dessenome. Não issoqueandapor aí. Nãoésimplesmente

criar leisnovas aplicáveis àsmais antigas violaçõesda lei.

Precisamos de uma reformapolítica, sim, a qual come-

çaria coma reformadamentalidadedaqueles que sededi-

camà política. Não apenas nos instrumentos de funcio-

namento de um sistema no Brasil. Não bastaria dizer

“ladrão não pode ser eleito”. É preciso realmente criar

um sistema político baseado na honradez e na verdade.

É difícil, mas não impossível.

A pedra de toque de tal sistema seria, para começo de

conversa, a certeza de que todo crime será punido. Não

falo das dezenas ou centenas de autores de pequenos

delitos arrebanhados nas rondas policiais. Quero, sim,

a certeza de que todo criminoso, independentemente

de quem seja, pague pelo seu erro. Não basta ser rico ou

dispor dos meios necessários para que as questões de

improbidade se arrastem durante anos, percorrendo

instâncias criadas para punir crimes menores.

O que mais precisamos no Brasil de hoje pode ser

representado por uma frase popular: “vergonha na cara”.

Mas isso não se adquire de uma hora para outra. Emuito

menos diante de exemplos concretos e numerosos de

pessoas que, tendo ferido a ética, não acabamna cadeia,

mas sim na condição de “visitantes” da cadeia. Não por

vários anos, conforme diz a lei, mas por umpar de anos,

meses ou dias, como resultado concreto dos processos

criminais contra os poderosos, se estes jamais chegarem

à soluçãofinal. Ésóesperar unsdias. Sãosomenteos ricos

e os poderosos aqueles capazes de continuar “brigando”

em todas as instâncias judiciais — nacionais ou estran-

geiras — e valendo-se de todos os recursos e embaraços

ao progresso da ação penal.

Não desejo um sistema ditatorial. Mas, sim, sonho e

aspiro por um regime democrático baseado na verdade,

a partir da igualdade do valor das pessoas — e, conse-

quentemente, dos votos — e das práticas políticas dos

titulares de mandato.

Nossos problemas têmde ser entendidos emtoda a sua

extensão política, econômica e social. Para ser válida, a

reformapolíticadaqual precisamosnãopoderá ser super-

ficial nem realizada sem a participação direta e objetiva

da opinião pública. Precisamos partir da confissão dos

nossos problemas e garantir osmeios legais para sua cor-

reção. Quer dizer, precisamos de uma novaConstituição

que resolvaquestões comoa imunidadepolíticaea impro-

bidade dos administradores públicos. UmaConstituição

pensadae refletidaparaseruminstrumentodeprogresso,

nãoapenasmaterial,mas tambémpolítico, social e ético.

Quer dizer, precisamos começar da estaca zero. Fora

disso, tudo é brincadeira, como estamos por ver nos dias

que se aproximam.

Saïd Farhat

Jornalista, advogado e empresário

No dia daProclamação daRepública, o presidente do

Supremo Tribunal Federal, JoaquimBarbosa, determinou

a prisão dos envolvidos no esquema doMensalão. Segundo

oDatafolha, a prisão é aprovada por 86% dos brasileiros

Areformapolíticadaqual precisamos

nãopoderá ser superficial nem

realizada semaparticipaçãodireta

e objetivada opiniãopública

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