entrevista | Paulo Rossato
Revista da ESPM
|maio/junhode 2014
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Dubes –
Por meio das marcas Sadia
e Perdigão, a BRF detém a liderança
na integração com os produtores inde-
pendentes de aves e suínos. Essa é uma
associação que já dura muitas décadas.
O que a BRF espera e o que oferece aos
cooperados?
Rossato –
Há 60 ou 70 anos, no pós-
-guerra, nós tínhamos um setor ca-
racterizado por investimentos pri-
vados. A atuação do governo era in-
cipiente. Nos 40 ou 50 anos anterio-
res àquela época, o governo facilitou
a entrada de imigrantes europeus,
mas praticamente os largou à mercê
do mercado e eles passaram a prati-
car a agropecuária de subsistência.
Havia pouca agropecuária de expor-
tação, a não ser de bovinos, que por
seu tamanho e características tinha
certa volatilidade no país. Havia os
tropeiros que empurravam o gado
do Sul do país ao centro (São Paulo e
Minas Gerais). Mas não passava dis-
so. Lá por 1950, alguns produtores
descendentes de europeus começa-
ram a se encaminhar para a indus-
trialização. O movimento começou
com farinhas e alguns tipos de grão,
como o feijão. Mas o setor de carnes
precisava de alguns elementos a
mais. Começou haver demanda,
por exemplo, de suínos na Grande
São Paulo. Na ocasião, tentaram
fazer o translado desses animais
como se fazia o de bois. Mas suínos
não têm a mesma resistência. Após
experiências desastrosas, porque a
mortalidade dos animais era alta e
eles chegavam magros ao destino,
alguns personagens, como os fun-
dadores da Sadia (Atílio Fontana)
e da Perdigão (Saul Brandalise), co-
meçaram a ensacar essa carne, em
salames, copas e presuntos, repro-
duzindo em escala o que faziam em
suas casas, e a levar para os grandes
centros. Isso acabou se tornando
um grande negócio. Na medida em
que a demanda aumentou, necessi-
dades mais específicas começaram
a surgir. O pequeno açougue da
cidade, por exemplo, já não tinha
suínos suficientes para abate. Então,
começou-se a procurar produtores
que pudessem produzir para o fri-
gorífico, de forma exclusiva. Com o
aumento da produção, o frigorífico
começou a ficar mais exigente. A
partir do momento em que o frigo-
rífico passou a intervir na produção
da carne com o produtor, ele passou
a controlar a ração e a genética. Esse
engajamento de vontades deu ori-
gem ao que hoje chamamos de pro-
dução integrada. O produtor traba-
lha de acordo com algumas caracte-
rísticas que a agroindústria impõe,
em função do mercado. Para isso,
foi necessário um incremento de
capital que o produtor não possuía
para a construção de infraestrutura,
compra de ração, medicação e apoio
técnico. Hoje, temos um sistema
de integração caracterizado pelo
seguinte: o produtor participa com
as suas instalações, o cuidado com
os animais, com água e energia elé-
trica. Os demais elementos, como
genética, ração, assistência técnica
e transporte de animais, ficam por
conta da agroindústria. É um siste-
ma consolidado, que entendemos
como uma parceria reconhecida no
país, pelo Judiciário e pelo governo.
Tanto que estamos, justamente,
num período de criação de uma lei
específica para os contratos de in-
tegração.
Dubes –
Poderia falar um pouco so-
bre essa lei?
Rossato –
Há consenso entre pro-
dutores e agroindústria para que
haja um marco histórico legislativo
com o objetivo de consolidar todas
as relações existentes entre pro-
dutores e agroindústria. Nós temos
algumas semelhanças com alguns
modelos no país, como os contra-
tos de arrendamento ou de parceria
agropecuária do Estatuto da Terra,
mas que não refletem a realidade
do modelo de integração. O Esta-
tuto da Terra, por exemplo, criado
na década de 1960, sobre histórico
de 50 anos de produção de gado,
obviamente não contempla ummo-
delo mais contemporâneo e tecnifi-
cado, como é o de criação de aves e
suínos. Da mesma forma, o modelo
integrado não é um contrato de tra-
balho, nem de prestação de serviço.
É um contrato que definimos como
sui generis
, porque ainda não tem
um tipo legal, como têm os títulos
de arrendamento, os contratos de
aluguel, ou contratos de compra
e venda. São todos contratos que
As principaismarcas domercado são ligadas
à empresa. Ou seja, uma grande parte dos
melhores produtores, quemdetémamelhor
tecnologia, está conosco