maio/junhode2014|
RevistadaESPM
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Fernando –
O Brasil tem uma varie-
dade grande de sistemas produtivos e
raças bovinas. Se o cara quiser umbife
angus, marmorizado, conseguimos
produzir aqui. A questão não é essa.
Temos carne para atender a qualquer
segmento de mercado. A questão é
como associar essa imagemna cabeça
do comprador lá fora. Como faço para,
quando quiser uma carne boa, o cara
pensar no Brasil e não na Argentina.
Isso não quer dizer que toda a nossa
produção tenha de ser de carne-gour-
met. O que dá volume mesmo são as
carnes baratas. Estamos exportando
músculo para Hong Kong e dianteiro
para o Irã e para a Rússia. Tudo carne
magra, isso é o que eles compram.
Alexandre –
Há casos de sucesso no
uso de marca brasileira no exterior ou
dependemos de marcas internacionais
para vender nosso produto?
Fernando –
Os importadores de
carne bovina conhecem e pedem
as marcas brasileiras. Eles têm
preferências por determinadas
marcas, como Friboi e Seara. Isso já
ocorre entre empresas. Na relação
com o consumidor final, isso ainda
não acontece. A Sadia teve sucesso
em alguns mercados. Na Arábia
Saudita, Sadia até virou sinônimo
de frango congelado. A marca da
BRF também fez sucesso na Rússia.
A internacionalização de empre-
sas ajuda nisso. A JBS-Friboi, por
exemplo, comprou a Swift, que é
uma marca extremamente conhe-
cida há muito tempo nos Estados
Unidos. Diferentemente da Friboi,
a maioria das indústrias daqui
ainda está fornecendo carne para
importadores e para distribuidores
que vão levar o nosso produto para
frente, mas não necessariamente
apresentar a marca brasileira para
o consumidor final.
Alexandre –
Seria possível melhorar
esse trabalho de marketing no exterior
por meio de uma central compartilha-
da pelos vários produtores brasileiros?
Ou cada um deve fazer seu próprio
marketing?
Fernando –
Tentamos fazer isso jun-
to com a Apex. Temos os programas
Brazilian Beef, Brazilian Pork, Brazi-
lian Chicken e procuramos trabalhar
a imagem do país como fornecedor
de carne. O Brazilian Beef é um pro-
grama de marketing compartilhado.
Quando participamos de uma feira
de alimentos como a Sial, em Paris,
que é uma das maiores do mundo,
tem sempre um estande do Brazilian
Beef, com todas as empresas dentro,
e cada um tenta vender o seu produto.
As duas estratégias podem caminhar
emparalelo.
Alexandre –
E da fábrica para dentro,
o que pode ser feito por pecuaristas e
frigoríficos?
Fernando –
É preciso identificar
o que o mercado quer e, a partir
disso, direcionar a produção da ma-
téria-prima. Nos mercados árabes,
por exemplo, não adianta oferecer
um boi com alto grau de marmoreio
na carne, porque árabe não gosta
de gordura. Eles querem uma carne
magra. O pecuarista pode colocar
um rebanho inteiro de nelore em
confinamento e, ainda assim, não
terá o produto que eles querem.
Agora, se o plano é acessar o mer-
cado asiático, onde eles querem
esse tipo de carne [marmorizada],
a estratégia é diferente. O negócio é
organizar a produção para atender
a essa demanda. Este é um momen-
to de mudança, no qual a indústria
está percebendo isso e tentando
orientar a produção. As indústrias,
hoje, têm times de fomento para
atender aos pecuaristas e progra-
mas de incentivo da qualidade.
Alexandre –
Como tem sido o avanço
das práticas sustentáveis neste setor?
Fernando –
Como eu disse, a pe-
cuária sempre foi uma atividade
de fronteira, e isso gerou muito
conflito, especialmente quando ela
chegou à beira da Floresta Amazô-
nica — no sul do Pará, em Rondônia
e no norte do Mato Grosso. Até pou-
co tempo atrás, para comprar boi,
a indústria olhava no máximo as
listas [negras, de fornecedores irre-
gulares], do Ibama e do Ministério
do Trabalho. Até que, em 2009, saiu
um relatório do Greenpeace que
associava os frigoríficos brasileiros
ao desmatamento da Amazônia.
Alexandre –
Qual era a tese?
AUnião Europeia ainda é umgrande cliente do
Brasil, mas hoje, por questões sanitárias, o país está
fora de, pelomenos, metade domercadomundial,
incluindo osmaiores importadores de carne domundo