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maio/junhode2014|

RevistadaESPM

67

Fernando –

O Brasil tem uma varie-

dade grande de sistemas produtivos e

raças bovinas. Se o cara quiser umbife

angus, marmorizado, conseguimos

produzir aqui. A questão não é essa.

Temos carne para atender a qualquer

segmento de mercado. A questão é

como associar essa imagemna cabeça

do comprador lá fora. Como faço para,

quando quiser uma carne boa, o cara

pensar no Brasil e não na Argentina.

Isso não quer dizer que toda a nossa

produção tenha de ser de carne-gour-

met. O que dá volume mesmo são as

carnes baratas. Estamos exportando

músculo para Hong Kong e dianteiro

para o Irã e para a Rússia. Tudo carne

magra, isso é o que eles compram.

Alexandre –

Há casos de sucesso no

uso de marca brasileira no exterior ou

dependemos de marcas internacionais

para vender nosso produto?

Fernando –

Os importadores de

carne bovina conhecem e pedem

as marcas brasileiras. Eles têm

preferências por determinadas

marcas, como Friboi e Seara. Isso já

ocorre entre empresas. Na relação

com o consumidor final, isso ainda

não acontece. A Sadia teve sucesso

em alguns mercados. Na Arábia

Saudita, Sadia até virou sinônimo

de frango congelado. A marca da

BRF também fez sucesso na Rússia.

A internacionalização de empre-

sas ajuda nisso. A JBS-Friboi, por

exemplo, comprou a Swift, que é

uma marca extremamente conhe-

cida há muito tempo nos Estados

Unidos. Diferentemente da Friboi,

a maioria das indústrias daqui

ainda está fornecendo carne para

importadores e para distribuidores

que vão levar o nosso produto para

frente, mas não necessariamente

apresentar a marca brasileira para

o consumidor final.

Alexandre –

Seria possível melhorar

esse trabalho de marketing no exterior

por meio de uma central compartilha-

da pelos vários produtores brasileiros?

Ou cada um deve fazer seu próprio

marketing?

Fernando –

Tentamos fazer isso jun-

to com a Apex. Temos os programas

Brazilian Beef, Brazilian Pork, Brazi-

lian Chicken e procuramos trabalhar

a imagem do país como fornecedor

de carne. O Brazilian Beef é um pro-

grama de marketing compartilhado.

Quando participamos de uma feira

de alimentos como a Sial, em Paris,

que é uma das maiores do mundo,

tem sempre um estande do Brazilian

Beef, com todas as empresas dentro,

e cada um tenta vender o seu produto.

As duas estratégias podem caminhar

emparalelo.

Alexandre –

E da fábrica para dentro,

o que pode ser feito por pecuaristas e

frigoríficos?

Fernando –

É preciso identificar

o que o mercado quer e, a partir

disso, direcionar a produção da ma-

téria-prima. Nos mercados árabes,

por exemplo, não adianta oferecer

um boi com alto grau de marmoreio

na carne, porque árabe não gosta

de gordura. Eles querem uma carne

magra. O pecuarista pode colocar

um rebanho inteiro de nelore em

confinamento e, ainda assim, não

terá o produto que eles querem.

Agora, se o plano é acessar o mer-

cado asiático, onde eles querem

esse tipo de carne [marmorizada],

a estratégia é diferente. O negócio é

organizar a produção para atender

a essa demanda. Este é um momen-

to de mudança, no qual a indústria

está percebendo isso e tentando

orientar a produção. As indústrias,

hoje, têm times de fomento para

atender aos pecuaristas e progra-

mas de incentivo da qualidade.

Alexandre –

Como tem sido o avanço

das práticas sustentáveis neste setor?

Fernando –

Como eu disse, a pe-

cuária sempre foi uma atividade

de fronteira, e isso gerou muito

conflito, especialmente quando ela

chegou à beira da Floresta Amazô-

nica — no sul do Pará, em Rondônia

e no norte do Mato Grosso. Até pou-

co tempo atrás, para comprar boi,

a indústria olhava no máximo as

listas [negras, de fornecedores irre-

gulares], do Ibama e do Ministério

do Trabalho. Até que, em 2009, saiu

um relatório do Greenpeace que

associava os frigoríficos brasileiros

ao desmatamento da Amazônia.

Alexandre –

Qual era a tese?

AUnião Europeia ainda é umgrande cliente do

Brasil, mas hoje, por questões sanitárias, o país está

fora de, pelomenos, metade domercadomundial,

incluindo osmaiores importadores de carne domundo