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maio/junhode2014|

RevistadaESPM

69

lista do Ministério do Trabalho. Co-

meçou, realmente, a se ter um con-

trole de quem estava abastecendo a

indústria. Foi uma evolução muito

grande num espaço curto de tempo.

Agora, com o Código Florestal defi-

nido, a figura do cadastro ambiental

rural vai nos ajudar a fazer um orde-

namento territorial.

Alexandre –

Ainda tem muita gente

irregular?

Fernando –

A indústria está insta-

lada na borda da Amazônia, na fron-

teira. Pela experiência que tivemos

com o monitoramento por satélite,

grande parte da pecuária está em

áreas consolidadas. Não é desma-

tamento novo. São áreas que foram

desmatadas e ocupadas, e a pecu-

ária está lá. Não tem como voltar

atrás. Hoje, na verdade, a área que a

pecuária ocupa está diminuindo. A

produtividade está aumentando, e

a área de pasto está sendo reduzida.

Muito do que era pasto está sendo

ocupado pela agricultura.

Alexandre –

Como isso é possível?

Fernando –

A pecuária está incor-

porando tecnologias, evoluindo na

produtividade. Estamos diminuindo

a área ocupada sem perder produ-

ção. Mesmo assim, o desmatamento

continua acontecendo, e a primeira

coisa que você vê quando há área

desmatada é pasto e boi. A pecuária

é muito mais uma consequência do

desmatamento do que uma causa. O

pessoal usa o boi para ocupar uma

área nova. Não precisamos desma-

tar para produzir ou exportar. Só

que quem desmata usa o boi para

fazer essa ocupação. É a primeira

atividade econômica que aparece

na ocupação de uma nova área. A

pecuária, então, é consequência do

desmatamento. A causa é o descon-

trole que o Estado tem do processo

de ocupação. Nós sabemos onde

o desmatamento está. O satélite

mostra isso. Só não se sabe quem

é o dono da terra. Se eu tenho uma

planta frigorífica no Mato Grosso,

em Rondônia ou no Pará, quero ter

em volta dela uma área onde todo

mundo esteja regularizado e possa

abastecer essa indústria. Uma zona

livre para trabalhar.

Alexandre –

Esse atual processo de con-

solidação do nosso mercado de proteína

animal, por meio de fusões e aquisições, é

positivo ou negativo para o setor em geral

e para o consumidor emparticular?

Fernando –

Quando se compara o

Brasil a outros países produtores de

carne, como Canadá, Estados Unidos

e Austrália, é possível notar que,

apesar do movimento dos últimos

anos, nosso setor ainda é bastante

pulverizado. Tem espaço para ser

bem mais concentrado do que é hoje.

A concentração aconteceu nos super-

mercados, nas farmácias, nos bancos

e também no nosso setor, mas ainda

tem espaço para concentrar mais. No

Canadá, três empresas têm 80% do

mercado. Aqui, os três maiores têm

40% do abate nacional. Nossa concen-

tração, na verdade, é bastante tímida.

Ainda mais quando se considera que

existe um grande número de frigo-

ríficos estaduais e municipais que

abastecemmercados locais.

Alexandre –

Mas essa concentração é

positiva para o setor?

Fernando –

É positiva, porque trou-

xe uma profissionalização grande

para o setor. Também possibilitou ao

país se consolidar como grande for-

necedor do mercado internacional.

Essas empresas têm, hoje, capacida-

de para atender a grandes contratos

de fornecimento. A concentração

pode ser um problema em regiões

específicas, onde o produtor não tem

opção de comercializar, mas esse é

um problema muito pontual.

Alexandre –

E do ponto de vista da ino-

vação? De onde têm vindo as novidades?

Fernando –

Temos muitas tecno-

logias, como nutrição e manejo de

pastagens, que existem, mas não

estão plenamente disseminadas. O

produtor ficou descapitalizado du-

rante muito tempo. O desafio agora

é democratizar o acesso a crédito e à

tecnologia para uma classe média de

produtores. Temmuito o que ser feito

por aí, até porque essa internaciona-

lização dos frigoríficos possibilitou a

entrada de novas tecnologias de fora

para uso da indústria.

As indústrias daqui ainda estão fornecendo carne

para importadores e distribuidores que vão levar o

nosso produto para frente, mas não necessariamente

apresentar amarca brasileira para o consumidor