entrevista | Fernando Sampaio
Revista da ESPM
|maio/junhode 2014
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Fernando –
A pecuária desmata, e o
frigorífico compra o boi, então, teori-
camente, nós seríamos responsáveis
pelo financiamento daquele desma-
tamento. Indiretamente, os nossos
clientes também faziam parte desse
processo. Grandes empresas de couro
e redes varejistas que compravam car-
ne e couro do Brasil também seriam
responsáveis pelodesmatamento.
Alexandre –
Qual foi o impacto?
Fernando –
Isso gerou tumulto no
mercado, e o Ministério Público
Federal entrou nessa briga. Aí entra
uma discussão sobre até onde vai a
responsabilidade de cada um. Como
sou responsável pelo ilícito de um
produtor quando não sei que ele
está irregular e nem o poder público
sabe? Todo desmatamento ilegal
teria de estar na lista do Ibama, mas
o Ibama não tem capacidade para
fiscalizar tudo.
Alexandre –
Na prática, como o
relatório do Ibama afetou a indústria
da carne?
Fernando –
Foi muito violento. Co-
meçaram as denúncias, as multas,
fábricas foram fechadas, mas de
alguma forma os protestos servi-
ram para alavancar o início de um
controle muito mais apurado por
parte da indústria. Nós reagimos
rápido. Primeiro, os frigoríficos
que estão atuando na Amazônia
localizaram os seus fornecedores
geograficamente. Hoje, cada indús-
tria sabe quais são as fazendas por
onde passa o gado que ela compra.
Além disso, começamos a cruzar
os dados dos fornecedores com as
informações públicas de terras in-
dígenas, desmatamento, unidades
de conservação, a lista do Ibama e a
Ogoverno sabe onde o desmatamento está. Osatélitemostra isso. Sónão se sabe quemé o dono da terra
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