Janeiro_2006 - page 7

Thomaz Souto
Corrêa
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J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2006 – REV I STA DA ESPM
JR
– Nosso querido Altino João de
Barros – um veterano da mídia –
faz, há anos, uma afirmação que
achode enorme atualidade. Elediz
que o pessoal se preocupa muito
em pesquisar a mídia e pouco em
pesquisaroshábitosdaspessoasem
relação à mídia. Ainda sabemos
pouco sobre quanto tempo as pes-
soas passampor dia vendo revistas,
jornais, usando celular, Ipod etc. A
idéiabásicaéque tantoo transmissor
comoo receptorcontinuam iguaishá
uns 100 mil anos. Não houve dife-
rença, em termos de aumento de
neurônios ou mudança nos órgãos
sensoriais. No meio é que a tecno-
logia explodiu. Hoje, dispomos de
uma capacidade fantástica para
transmitir e entregar informação.
Qual é a sua visão desse processo?
Porque o ser humano continua com
24horaspor dia, continuadormindo
6ou7horas, comendo, namorando,
trabalhando etc.
THOMAZ
– Considero-me um
burro velho e tenho complexo de
culpa quando comparomeus hábi-
tos demídia de hoje com os de 10
anos atrás. Eu também estou vendo
o jornal em 15 minutos, também
estou na frente de uma tela o dia
inteiro. Se me olho há 10 anos, os
meus hábitos são completamente
diferentes do que eram – e isso foi
provocado pela eletrônica.
FG
– No caso de jovens ao redor
de 20 anos isso serámuito pior.
THOMAZ
– Por isso que eu digo
que sou burro velho. Sinto culpa
quandonãoconsigover o jornal no
dia.Umeu semprevejo;mas quan-
do não consigo ver o segundo, o
terceiro, fico com culpa e tenho de
me livrar dessa culpa para ser mais
feliz.Oqueaconteceéqueaoferta
eletrônica émuitomais atraente do
que os veículos impressos, que não
conseguiram me segurar. Quer
dizer, a oferta é tão grande, tão
variada, tão interessante e está
competindo com uma mídia im-
pressaquenãomudoumuitonesses
10 anos.
JR
– Mas ainda está ligado ao seu
interesse pessoal. Eu diria que se
você é igual àmaioria das pessoas,
você vai buscar coisas na mídia –
informação e diversão. Há alguma
outra coisa?
FG
– Amídia comomeio de infor-
mação tem, também, por objetivo,
persuadir as pessoas, levando-as a
mudar de atitude e de compor-
tamento.
JR
– Mas isso é do lado do trans-
missor. O que estou falando é a
motivaçãodo receptor–aqueleque
vai em busca de informação ou
diversão.
FG
–Você está analisando pela ó-
tica do receptor. Amídia, no duro,
tem o papel de persuadir, mudar
atitudes e comportamento.
JR
–Oque estou, talvez, querendo
provar é que é o receptor que vai
em busca da informação ou do
entretenimento...
FG
–Você tem razão, mas isso não
invalida o meu ponto, e vou dizer
porquê.Hápoucosmeses, a revista
Veja
iniciou uma revolução – que,
durante algum tempo, conduziuna
liderança – e que levou ao des-
mantelamento da quadrilha do
mensalão, mudou as atitudes em
relação a um partido político im-
portanteecolocouemxequeodes-
tinodo atual presidente da repúbli-
ca. Essa foi a força da mídia im-
pressa – a televisão entrou a rebo-
que, depois.
JR
– É verdade. A imprensa teve
um papel de destaque, apesar de
uma circulação relativamente mo-
destaem relaçãoàpopulaçãocomo
um todo.
FG
– E aí, chegamos à seguinte
conclusão: essa ênfase na infor-
mação não é correta para avaliar o
verdadeiropapel damídia sob esse
aspecto, pelo menos. A mídia im-
pressa continua insubstituível, co-
mo forma de influir na maneira de
pensar e agir das pessoas.
THOMAZ
– Não para um jovem
de 20 anos.
FG
– Mas o jovem acaba ficando
mais velho e maduro, também.
THOMAZ
– Vou fazer meu de-
senho predileto. Vamos imaginar
um ciclo de vida – para simplifica-
çãode raciocínio–quecomeçaem
“...ASSINO
THEECONOMIST
,O
TIMES
,EAMAIOR
REVISTADOMUNDO,QUESECHAMA
GOURMET
.”
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