Thomaz Souto
Corrêa
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J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2006 – REV I STA DA ESPM
ES
PM
“ESCRITA,PARAMIM,NÃOÉSÓEMPAPEL.”
e a obra completa de Machado de
Assis. Então, quando fiz a pergunta
àsprofessoras, elas responderamque
recomendam livros eeles têmde ler.
Só que eles aparecem com
print-out
de computador – resumo e
comentários do livro! Há um
site,
“literatura brasileira”, onde o seu
trabalhodeescolaestá feitoepronto;
não precisa quebrar a cabeça.
JR
–Você pode encontrar teses de
mestradoedoutorado
on-line
, sobre
o tema que quiser...
THOMAZ
– Acho que nós, profis-
sionaisdaescrita, somospoucoexi-
gentes com relação a essa questão.
E repito: a escrita, paramim, não é
empapel; éondequerqueeu tenha
de escrever.
JR
– Há o Derrick de Kerckhove,
continuador do McLuhan, que es-
creveuum livromuito interessante,
em 1995, onde diz que a escrita
nãovai acabarporqueelaveiopara
organizar o pensamento do
homem.
THOMAZ
– Ele não disse que a
escrita é em papel. Era escrita
na pedra, hoje é em papel.
Quando surgiu a primeira idéia do
e-book
,aMicrosoftdesenvolveuum
tipo de leitura – como sabem, o
tipo serifado é melhor para ler do
que o tipo bastão – e se chamava
e-type
, que era uma letra dese-
nhada para ser lida no
e-book
do
tamanho que se quisesse. Eles
desenharam para que o desenho
final, mesmo influenciado pela
claridade da tela, fosse absolu-
tamente legível. O objetivo aí
é emular o preto no branco do
papel.
FG
– Você sabe que há muitos
anos, aqui no Brasil, os filmes a-
mericanos legendados em por-
tuguês prestaram um grande
serviço para a meninada – apren-
díamos a gostar de ler, vendo os
filmes legendados.
JR
– Aliás, o Brasil tem muita
sorte. Não há mais analfabeto
nesse país porque o dublado
nunca pegou aqui. Mas Thomaz,
vamos encerrar com um recado
seu aos nossos jovens – e seus
professores, que vão enfrentar
uma “pedreira” pela frente. Essa
gente que vai ser Thomaz, Gra-
cioso, J. Roberto, daqui a 30 anos.
Quais são os caminhos? O que
eles deveriam aprender? Em que
se devem concentrar, na sua vi-
são, inclusive de empregador ao
longo de tantos anos trabalhando
na área?
THOMAZ
– Tenho somente uma
coisa para dizer, e se fizermos
isso, o resto é fácil. Conheça o
seu leitor, conheça o seu con-
sumidor, independentemente de
pesquisa. O Roberto Civita é um
grande defensor dessa tese tam-
bém. Vai conversar com o leitor,
ver onde elemora, conversar com
a família dele. Nós editores temos
de conhecer o ser humano. Acho
que a propaganda também.
FG
– Sem dúvida. Sempre achei
que os melhores redatores de pro-
paganda vêm da classe média,
porque é opontode união entre os
extremos. Ela compreende melhor
os problemas tantode cima quanto
de baixo.
THOMAZ
– Isso é uma boa tese e
concordo sem pensar.
JR
– E aí é onde o marketing, a
propaganda e o jornalismo se en-
contram. Não poderia haver
melhor forma de encerrar essa
entrevista.