Janeiro_2006 - page 15

Thomaz Souto
Corrêa
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J A N E I RO
/
F E V E R E I RO
D E
2006 – REV I STA DA ESPM
Os redatores realmente redigiam e
davam sentidos aos textos.
THOMAZ
– O texto foi subs-
tituído pela emoção. Converso
muito compublicitários e gostode
falar com os jovens. Eles dizem:
“Meusanúncios sãoengraçadinhos
porque preciso emocionar o
consumidor. É uma piada porque
ali eu chamo a atenção”. Só que
a informação sumiu. Ou ela vai
para o manual que vem na
caixinha que você compra, que é
ilegível, ou sumiu. Talvez a
internet signifique, para o con-
sumidor, a retomada da infor-
mação, sobre um determinado
produto,muitomais ricaporqueela
comporta muito mais do que o
papel comportava. Posso fazeruma
demonstração, entrar em um
automóvel, vasculhar o motor do
automóvel, saber o que essa garrafa
de água tem ou não queme chame
a atenção. Não vejo isso ser feito.
JR
– É o que foi de certa forma pre-
visto naquele livro do Pierre Levy,
“o hipertexto”, onde dizia que o
hipertexto era omundo virtual.
THOMAZ
– E é. Alguns acreditam
que é uma perspectiva ameaçadora
para a escola. Sou radicalmente
contra – é exatamente o contrário.
JR
– Você disse que o editor vai
continuar a existir, as pessoas com-
petentes para juntar essas infor-
mações, dar forma a elas etc.Você
se mostra otimista. Só que, um dia
desses, abri o
Jornal do Brasil
e, no
editorial, no título, havia um erro
sériodegrafiaemportuguês!A
Veja
,
O
Estado de S. Paulo
estão cheios
de erros.
FG
–Outro dia, mandei uma carta
ao Estadão, bronqueando pela gra-
fia de “propagandas” no plural.
JR
– Os comunicadores da CBN e
do
JornaldaManhã
dizembesteira...
THOMAZ
– O presidente da re-
pública...
JR
–Mas opresidenteda república
não é um profissional de comuni-
cação. Como você liga essas duas
coisas: a exigência que certa-
mente essemercado futuro terá de
gente competente e capaz de
entender o que está acontecendo
e explicar aos outros, e esse apa-
rente declínio da qualidade da
comunicação de um modo geral,
especificamente do jornalismo?
THOMAZ
– Eu tenho um comen-
tário cínico a respeito – para o
bemeparaomal –queéocorretor
do computador. Se você escreve
algo errado, vem aquela cobrinha
vermelha embaixo. Freqüente-
mente, brigo com a cobrinha. E
normalmente são bobagens. Basta
olhar o
Aurélio
. Mas o comentário
cínico é: pelo menos você não
devia mais errar na grafia.
JR
– “Mal sinal” com l; o compu-
tador não vai corrigir. “Propagan-
das” ele não vai corrigir.
THOMAZ
– Essa questão é longa
e começa nas escolas e para ser
mais longa, começa nas casas das
pessoas.
FG
–Começacoma faltade leitura.
THOMAZ
– Eu estive numa con-
venção de professoras de segundo
grau, de escolas particulares. Quan-
do terminei a palestra, conversando
com elas, perguntei: como vocês es-
tão fazendo para seus alunos lerem,
queéabasedisso tudo?Porqueacho
que só temestiloparaescreverquem
conhece estilo de escrever. Certa
vez, perguntaram-me quais são os
livros mais importantes para a
formaçãodeum jornalista.Respondi:
a obra completa de Eça de Queirós
“SEVOCÊESCREVEALGO
ERRADO,VEMAQUELA
COBRINHAVERMELHA
EMBAIXO.FREQÜENTEMENTE,
BRIGOCOMACOBRINHA.E
NORMALMENTESÃO
BOBAGENS.”
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