janeiro
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fevereiro
de
2010 – R E V I S T A D A E S P M
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Mariana
GraciosoBarbosa
No entanto, temos que essasmedi-
dasnão implicam, por si sós, àcon-
solidaçãode ummodelode produ-
ção e consumo sustentável. Afinal,
o atual modelo de economia real
está fundamentado em uma lógica
de intensa produção e, igualmente,
de intenso consumo.
Por um lado, o consumo contribui
claramenteparaodesenvolvimento
humano, namedida em que viabi-
lizaoatendimentodenecessidades
básicas, tais como alimentação,
moradia, saúde,higiene, saneamen-
to básico, educação, bem-estar e
felicidade, dentre outros aspectos.
Porém, namedidaemqueoconsu-
mo começa a incorporar, de forma
desmedida, os bens supérfluos, que
não alteram substancialmente o
níveldedesenvolvimentoedequali-
dadedevidada sociedadehumana,
e em quantidade e qualidade que
colocamem riscoadisponibilidade
dos recursos naturais para as socie-
dades futuras, fica evidente que é
necessáriaumamudançanomodelo
de consumoparaque seja alcança-
doodesenvolvimento sustentável.
Sobreacentralidadedas relaçõesde
consumo para o atual modelo eco-
nômico, Gilles Lipovetsky afirma:
“
Anova predominância dosmercados de consumonão se exprime apenas
nasestratégiasdasempresas,mas tambémno funcionamentoglobal denos-
sas economias.Não sãomais osprodutoresqueestãonaorigemda recente
subidadospreçosdopetróleo,masoextremovigordaprocura,emparticular
americana e chinesa.Nomomento em que se intensificam as ameaças de
catástrofes ecológicas, a temática do ‘consumo durável’ encontra amplo
eco, aparecendo o hiperconsumidor como um ator a ser responsabilizado
com todaaurgência,umavezque suas práticas excessivas desequilibrama
eco esfera. (...)A sociedade de hiperconsumo coincide com um estadoda
economiamarcadopela centralidade do consumidor
”.
(A FelicidadeParadoxal –EnsaioSobre a SociedadedoHiperconsumo. São
Paulo: Cia. Das Letras, 2007, p.13). (grifos nossos)
Nesse contexto, o consumo sus-
tentável passa a ser considerado
como elemento transformador de
paradigma, em maior ou menor
medida, conforme aquele que
pretende amudança. No entanto,
observa-se que não há consenso
acercadequal éonovoparadigma
que se pretende alcançar, razão
pela qual não há, evidentemente,
consenso em relação ao conceito
e à forma do consumo sustentá-
vel. Afinal, além de objetivo a ser
alcançado e reflexo de modelo
econômico adotado, o consumo
sustentável é também um instru-
mento para alcançar o desenvol-
vimento sustentável.
Além disso, como agente e ele-
mento de transformação, o con-
sumo sustentável – objetivo e
instrumento – está em constante
processo de construção, trans-
formação e consolidação. Assim,
o grande desafio que se coloca
perante os agentes econômicos,
sociais, políticos e culturais é
como proceder para conceituar,
programar e instrumentalizar o
consumo sustentável.
A respostaé, evidentemente, com-
plexa, pois as relações de consu-
mo envolvem aspectos macro e
microeconômicos, macro emicro
políticos,macroemicrossociais, e
macro emicroculturais. Ademais,
a instrumentalização do consumo
sustentável passapor umaquestão
essencial, qual seja, a concepção
do consumo como
(i)
processo e
relação tipicamente privados,
(ii)
processo marcado por elementos
públicos e políticos, ou
(iii)
pro-
cesso híbrido.
Nos parece que o consumo há de
ser considerado como processo
híbrido, haja vista que, além das
relações privadas de publicidade,
marketing, compraevenda, ocon-
sumidor passa a ser reconhecido
pela própria Constituição Federal
e legislação infraconstitucional
como sujeito político, detentor
de direitos próprios e específicos,
para o que se fazem necessárias
políticas públicas especializadas.
Sobre a politização do consumidor
e sua atuação no processo social,
Fátima Portilho:
GILLES LIPOVETSKY
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