Julho_2006 - page 10

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R e v i s t a d a E S P M –
julho
/
agosto
de
2006
sério, com dificuldade para reen-
contrar-se. Não tem tecnologia de
ponta;aeconomiaamericanaémais
dinâmica, vive um déficit monu-
mental, mas consegue sobreviver.
Mas o impacto da China pode ser
maior em dois aspectos: primeiro,
a economia – estamos falando em
1,3 bilhão de pessoas, dez vezes
a população do Japão. Segundo, a
questãodageopolítica.AChinanão
écomoo Japão, umpaís sem forças
armadas, inserido dentro de uma
política americana. A China tem
planos próprios evêomundoà sua
maneira.Mesmoosconflitosatuais:
os Estados Unidos vão lidar com o
Irã de forma diferente do que lidou
como Iraque,porqueo Irãéumdos
maiores fornecedoresdepetróleoda
China. Então o jogo é outro. E isso
pode ser bom para omundo.
JR
– Você esteve recentemente na
China – vê algum exemplo que ela
possa dar para nós?
Fábio
– Vou responder de modo
amplo.AndeilendomuitosobreaChina
ehouveum livro,
Império imóvel
, que
memarcou.Eledescreveomomento
em que aChina deixou de ser líder
mundial e começou a andar para
trás. A razão – bem argumentada
no livro – é que se fechou para o
mundo, deixou de fazer comércio,
por exemplo. Agora, a China está-
se abrindo para o mundo. Então,
a lição é que a abertura traz mais
benefícios para o todo, do que o
fechamento, emboraalguns setores,
emparticular,possam serprejudica-
dos. Essa é uma liçãoque temos de
ter emmente.
JR
–Comovocêaplicariaessa lição
aoBrasil?
Fábio
– A política de comércio
exteriordoBrasilcaminhabem,mas
pode ser melhorada. Por exemplo,
nós aumentamos as exportações
parapaíses de terceiromundo.Mas
devemos voltar o foco para expor-
tar para os Estados Unidos, que é
o maior importador do mundo, e
cujo crescimento de importações
brasileiras é pequeno porque esta-
mos focandooutrospaíses.Costumo
dizerquevivemosnomundodo
e
e
nãonomundodo
ou
.Ou seja, não
é exportar para lá ou para cá; tem
de exportar para os dois. E outra
coisa: exportar e importar, porqueo
Brasil precisa aumentar o seu fluxo
de comércio exterior. Os fluxos de
comércio no Brasil são 31% do
PIB, que é um dosmais baixos. Na
Argentinaé43%; noChile65%; no
México62%; naÁfricadoSul 50%.
Nos países da Europa é sempre alto
porque eles contam as exportações
entre eles. Turquia é 63%; Rús-
sia 57%; Índia 42%; China 60%.
São números grandes e, no Brasil,
é pequeno. Temos de exportar e
importarmais e acabar com as bar-
reiras que dificultam a importação,
como os impostos e a burocracia.
JR
– Um colega seu, da área
bancária, que também esteve na
China, recentemente, disse-me que
láaburocraciaépavorosa. Édifícil,
para alguém de fora, dirigir uma
empresamultinacional, pois temde
obedecer a uma burocracia que só
os chineses entendem. Qual a sua
visãodisso?
Fábio
– Nosso banco tem esse
problema também.Paraoestrangei-
ro trabalharnaChinaémuitodifícil.
Eles fazem isso porque o potencial
demercadoé tãogrande,que secri-
ou a famosa frase “nãodá para não
estar na China”. Quer dizer, tudo é
relativo – o potencial que se tem e
os riscosque secorre.Olhando sob
a ótica de um banco internacional,
investimentos na América atina,
hoje,nãosãoprioridadesdegrandes
empresas. Elas estão querendo in-
vestir na Ásia porque o investidor
quer crescimento, e o Brasil está
com um crescimento pífio. Não
digo, com isso, que oBrasil é carta
foradobaralho; sónãoestáentreas
grandes prioridades.
“OdinheironoBrasiléraro, écaro; a
poupançaébaixa; ogovernogastamuito.”
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