Julho_2006 - page 12

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R e v i s t a d a E S P M –
julho
/
agosto
de
2006
Gracioso
–Creioque40%da taxa
de juros, noBrasil, são impostos.
JR
– Tenho vários amigos econo-
mistas a quem já perguntei por que
as taxas de juros do Brasil são tão
elevadas – e tive tantas respostas
quantos são os amigos. Não houve
duas iguais. Gostaria de fazer essa
pergunta a você: Por que a nossa
taxa de juros é tão elevada?
Fábio
– É simples: tudoque é raro
é caro. O dinheiro no Brasil é raro,
écaro;apoupançaébaixa;ogoverno
gasta muito e sobra pouco para
dividir entremuita gente. Há o que
se chama de “seleçãonegativa”. Se
há um bem que é escasso, o preço
dele tende a subir. Quando os ju-
ros baixam no Brasil, a demanda
para crédito sobe imediatamente.
Assim como a fábrica não con-
segue produzir mais geladeira, eu
não consigo gerar mais crédito.
Não há poupança para atender.
As pessoas não entendem isso. Se
baixarmos o juro amanhã, rapida-
mente várias pessoas virão tomar
dinheiroemprestadonobancoeeu
não tenho dinheiro para emprestar
porque o banco não gera dinheiro;
simplesmente repassa o que está
aqui. Então o juro é uma forma de
segurar a economia num patamar
de crescimento lento que não leve
a uma demanda incompatível com
a poupança. Portanto, paramim, o
problemaéqueapoupançaébaixa,
os fundos de pensão ainda estão se
estruturando quando, no mundo,
já estão avançados; o governo tem
déficit. Também é verdade que os
impostos são elevados, que a legis-
lação não estimula, como poderia,
a concessãode crédito...
JR
– É um problema de macro ou
microeconomia?
Fábio
–Começacomumproblema
demacro.Opaíspoupa20%doPIB,
quandoaChinapoupa40%,nãoéde
sesurpreenderqueelacresçaa11%e
oBrasil3%.Achoqueamacroecono-
miaéopontodepartida, edepoishá
um sem-número de coisas a serem
feitas chamadasdemicrorreformas.
JR
–Sealguém temde tomaralguma
atitude, seria o governo, a socie-
dade, as empresas?
Fábio
–Ogoverno temcaminhado,
mas a sociedade tem de pressionar
e participar. São governo e socie-
dade juntos.Ainda temosdevencer
alguns preconceitos. Mas estamos
na direção certa: o governo tende
a reduzir a sua demanda sobre a
poupança escassa que temos no
Brasil; projeções para 5 a 10 anos
trazema relaçãodívidapúblicapara
oPIB–quehojeestáem50%–para
30/35%. Portanto, libera recursos
para que o setor privado possa
crescer. Estamos na direção certa,
mas os passos são lentos.
Gracioso
– É possível fazer
da globalização uma questão de
política nacional?
Fábio
– Quando dei o exemplo
daEuropa– independentementeda
“Temosdeexportare importar
mais – eacabarcomasbarreiras.”
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