Lívia
Barbosa
e Letícia
Veloso
21
julho
/
agosto
d e
2 0 0 6 – Revista da ESPM
mentadas por empresas dedistintas
nacionalidades sinalizam para
diferenças consideráveis na forma
de abordar o tema, algumas enfati-
zando a dimensão étnica, outras a
degênero,eaindaoutrasa formação
educacional,aorigemgeográficaea
origem social de seus funcionários.
Mesmo assim, estas políticas e
processos estão longe de serem
compreendidos, bem como suas
implicaçõesde longoprazo,devido
à faltadeuma reflexãomais teórica
e sistemática sobre os mecanismos
eexperiênciasemoperação. É justa-
menteapartirdestaconstataçãoeda
importânciacrescentequeacultura
e a diferença irãodesempenhar em
ummundo cada vez mais globali-
zado, mas simultaneamente mais
diverso, que a necessidade de uma
reflexão sistemática sobreo tema se
impõe.Nocasobrasileiro, devidoà
aceleraçãodoprocessode internaci-
onalizaçãodasempresasnacionais,
esta reflexãoe teorização se tornam
imperiosas,namedidaemquese faz
necessário não só construir novas
formasde se lidarcomasdiferenças
a partir das experiências já em
operação, bem como construir
“um lidar diferenciado” com este
processoquepossaserenriquecedor
para todos os atores participantes.
2.
Gerência
Intercultural
As considerações anteriores nos le-
varamà formulaçãodeumprojetode
pesquisasobregerência intercultural
que temcomoobjetivoempreender
uma reflexão crítica e aprofundada
sobre os processos de construção
da alteridade e das diferenças no
âmbito das organizações trans e
multinacionaiscomoobjetivo tanto
de formular novas abordagens de
treinamento e de mediação, como
de teorizar sobre as relações inter-
culturaisnoâmbitoorganizacional.
Neste sentido, examinamos sites de
empresas, projetos de treinamentos
paraexecutivoseentrevistamos, até
omomento,10executivos seniores.
O nosso objetivo com esta estraté-
gia foi primeiro trabalhar com os
elementos discursivos explícitos
de todo esteprocessopara, posteri-
ormente, investirmos na dimensão
implícita e concreta da gerência
intercultural. A confrontação entre
estes dois níveis da realidade nos
permitirádesvendarosmecanismos
sociaisemoperaçãoeospressupos-
tos mais recônditos a partir dos
quais a alteridade e a diferença são
construídos.
2
a
.
Alteridade
eDiferença
nos Sitesde
Treinamento
Intercutural
Como a proposta da pesquisa é de
longo prazo, nosso trabalho teve
iníciocomaanálisedos sitesdesen-
volvidos por empresas de treina-
mento intercultural disponíveis na
internet.NoBrasil,aindasãopoucas
as empresas dedicadas especifica-
mente a este tipo de treinamento,
aopassoque, noexterior, esteéum
mercadoemexpansão.Umprimeiro
levantamento encontrou mais de
200 sites produzidos oupor empre-
sas especificamente direcionadas
parao treinamento intercultural, ou
por escolas de negócios e outros
espaçosonde,noexterior, seoferece
este treinamento. Escolhemos con-
centrar nossa análise emmateriais
produzidos em países diferentes
com fins comparativos. Como os
EstadosUnidos representamomaior
mercado em treinamento intercul-
tural, este país foi escolhido como
primeiro contraponto ao treina-
mento oferecido no Brasil, seguido
de material europeu.Nossaescolha
recaiu na Alemanha, por motivos
queexplicitaremosabaixo.Assim, a
análiseaseguircomparaosmodelos
americano, alemão e brasileiro de
treinamento intercultural.
1)
No caso dos Estados Unidos,
analisamos cerca de 30 sites, mas
concentramos a análise em apenas
cinco, selecionados entre as prin-
cipais empresas do setor naquele
país. A partir do material, foi pos-
sível perceber um “padrão” co-
mum a todas as empresas, e que
passamos a chamar de “o modelo
norte-americano” de treinamento
intercultural. Este “modelo” possui
algumascaracterísticasbastanteex-
plícitas, quepermitemavaliar quais
noções de “cultura”, “alteridade” e
“diferença” definem o modo como
são treinadososexecutivosegeren-
tes expatriados.
O que se percebe de imediato no
material norte-americano é uma
naturalização da cultura norte-
americana. Parte-se do pressuposto
de que os modos pelos quais os
norte-americanos agem, os códigos
pelosquaisse relacionam,eosvalo-
res segundo os quais enxergam o
mundoseriamos“naturais”,ouseja,
ummodelo “naturalizado” de cul-
turaquesecolocacomoo“normal”.
Em termos práticos, tal fato implica
que é sempre necessário explicitar,
emdetalhes,queo“outro”édiferen-