Fábio
Barbosa
13
julho
/
agosto
d e
2 0 0 6 – Revista da ESPM
JR
–Vamos falar um pouco de fator
humano. Você é um caso típico de
executivo brasileiro que se preparou
noBrasil ehojeatuacom sucessona
área internacional. Como você vê a
atuaçãodeprofissionaisbrasileirosna
áreadosnegócios internacionais?
Fábio
–Como extremamente posi-
tiva. O profissional brasileiro é bem
preparado, respeitado, tem um grau
decomprometimentocomaempre-
sa,comosnegócios, talvezatémaior
doqueos europeus.Os americanos
são tão comprometidos quanto. Os
europeus têmuma relaçãodiferente
com a carreira, a empresa; talvez
fruto da cultura. Então, o brasileiro
é bem visto como dedicado, como
tendo flexibilidade, capacidade de
adaptação, como tendo visão e um
otimismo fundamentalparaqualquer
líder de negócios. Nãopode ser um
otimismo sem fundamentos; tem de
ter capacidade para ver o potencial
de qualquer país ou empresa – e o
brasileiro tem isso.
Gracioso
– Estão se dando bem
as empresas brasileiras, que estão
tentando se globalizar?
Fábio
–Omaiorproblemadasem-
presas brasileiras para se globalizar
chama-se taxa de juros. É difícil
competir nomercado internacional
quando o seu custo de capital é
substancialmentemais alto do que
o dos outros. Consegue-se compe-
tir aqui, onde todos têm o mesmo
problema.Quando sevai para fora,
ébrutal.Algumas empresas –como
a Gerdau, Petrobras, Odebrecht
– estão conseguindo ir para fora,
mas ainda são poucos casos. Mas
estão tendoproblemaspara lidarcom
culturas diferentes. É bem diferente,
paraumexecutivobrasileiro, trabalhar
para um grupo internacional e uma
empresa brasileira – onde toda cul-
turaébrasileira.NosEstadosUnidos
encontram dificuldade para lidar
com os sindicatos, com os acionis-
tas.Maseuvejoessemovimentode
forma positiva. Namedida em que
os juros foremmaisbaixos, veremos
maisemaisempresasbrasileirasen-
trando nomercado internacional.
Gracioso
–Nesteano,porexemplo,
os investimentosdiretos brasileiros no
exterior já chegam a 72% dos que
vêm de fora para cá.
Fábio
–Estamosaprendendo,agora,
comonos tornarmultinacional,como
se controlam as atividades fora do
Brasil. É um grande desafio.Opro
blema gerencial vai ser também
uma restrição para um crescimento
maisacelerado.NaPetrobrasissoéum
problema–comocrescerrapidamente
e se internacionalizar. Há gente para
isso? Senão, teráde formar.
JR
–Você critica os juros altos, mas
ouvimos e lemos que os bancos se
beneficiamdas altas taxasde juros....
Fábio
–Costumodizerquebancos
sãocriticadosdesdequeaBíblia foi
escrita. As taxas de juros estiveram
elevadas no ano passado e o setor
industrial teve uma rentabilidade
maior que a dos bancos. Acho que
bancosdevemganhardinheirocomo
qualquer instituição.A rentabilidade
média dos bancos no Brasil é da
ordem de 22%, a das empresas
– em alguns setores – é de 30%,
outros16%.Osbancosvão também
ganhar dinheiro quando a taxa de
juros cair, porqueonúmerode em-
préstimoserámuitomaior.A relação
de crédito, face ao PIB no Brasil, é
31%; noChile, 60%;México, 50%;
EstadosUnidos, 120%. Quer dizer,
o crédito é baixo, noBrasil, porque
os juros são altos. Àmedida que os
juros caírem, vamos ter um cresci-
mentodocréditoeuma reduçãona
inadimplência.Nãovejoos jurosal-
toscomovantagem;acho, inclusive,
que prejudicam o crescimento das
organizações.
“Bancodevarejo
éumnegócio
essencialmente
local.”