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M A I O
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J U N H O
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2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
exige uma atualização e outras
coisasquenãosejamsó trabalho.Para
o homem, é algo que ele só está
descobrindo agora: saber que pode,
um dia, mandar o chefe dele para
onde quiser, porque vai chegar em
casaeencontrarumamulherque lhe
dê suporte.
FLÁVIO
– Senti-me citado porque
tenho segunda mulher. Concordo
plenamente com a Amalia sobre a
pluralidade do homem. Se ficar só
focadono trabalho,ele tendea tornar-
se medíocre. Temos de dar lugar a
outras coisas na vida. Se as pessoas
que trabalhamconoscosentirem isso,
vamos ter um convívio mais feliz.
Essa convivência é fundamental,
para que o indivíduo não se sinta
pesadoequeira sairdaempresapara
se aposentar. Talvez, se eu me apo-
sentar,escrevaum livro.Masseráque
escrever um livro não vai me trazer
saudosismo? Então é olhar o
momento certo para se fazer as
coisas. Tenhoum amigoque gostava
de jogar tênisemecontou: “Quando
eu trabalhava, jogava tênis, religiosa-
mente, quintas e sextas das 8 às 10
horas.Hoje,quenão trabalhoe tenho
tempo, não jogo mais”. Perguntei
porquê. E ele: “Sempre deixo para
depois porque agora tenho tempo”.
Então é questão de disciplina. O
trabalho não é fim; é meio. A vida
pessoal deve vir em primeiro lugar.
ALEXANDRE
– Flávio, será que o
que você quer dizer não é que as
pessoas deveriam saber a hora de
parar? Na semana passada, tivemos
umahomenagemaonosso fundador,
Rodolfo LimaMartensen, e uma das
coisas mencionadas na mesa de
debates foi que, em 1974, ele disse:
“Preciso parar, deixar a ESPM para
outra pessoa, senão vou atrapalhar”.
JR
– E ele não tinha nem 60 anos
ainda.
FLÁVIO
– O fato de saber parar
talvez seja a grande questão.
JR
–Seráque se tratadeparar oude
mudar?
FLÁVIO
–Mudar.
GALASSO
–Quandomeaposentei,
decidique iria fazercoisasdiferentes:
trabalhar emONGs. Então fui tra-
balharnumaassociaçãoeachei uma
confusão terrível. Aquilo era algo
construído para satisfazer egos. E
uma coisa triste é que, organizações
desse tipo, vivem do dinheiro dado
para fazer alguma coisa específica.
Devia haver a obrigação de dar
satisfações às pessoas que contribu-
em sobreoqueestá se fazendo.Não
vi isso em nenhuma delas.
JR
–OFlávio faladeescrever como
se fosse lazer ou “hobby”. Mas há
muitas pessoas que têm o escrever
como profissão: escritores, jornalis-
tas. E a ONG, também, não precisa
ser “coisa de aposentado”. Muita
“NÃOPARAMOSDENOSDIVERTIRPORQUEFICAMOS
VELHOS;FICAMOSVELHOSPORQUEPARAMOSDENOS
DIVERTIR.”
ROBERTODUAILIBI