Maio_2005 - page 91

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M A I O
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J U N H O
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2 0 0 5 – R E V I S T A D A E S PM
nada, por alguém que se julga
detentor de um poder que, na
verdade, não tem.
AMALIA
– É que a aparência, hoje,
conta muito: a eloqüência, comu-
nicação, capacidade de persuasão,
argüição, argumentação, sedução,
propaganda; o marketing tomou
conta do sistema.
JR
– Não fale mal da nossa pro-
paganda e marketing!
AMÁLIA
– Estou falando bem; sou
demarketing. Sei porqueestudo isso.
Vejoque temavercomantropologia,
sociologia – as pessoas são treinadas
para fazer entrevistas. E se você não
tiver um critériomais rigoroso, sobo
ponto de vista abstrato, sério,
concreto, compra gato por lebre.
MÁRIO
– Os depoimentos que
estãosendodadosaquisãobrilhantes
e esclarecedores.Mas achoque está
havendo uma tônica um pouco
voluntarista, no sentido de expe-
riência particular, pessoal, da
empresa em que estou, o que vejo,
observo, como lido com o que vai
ou não acontecer. Deixe-me ser
tambémvoluntarista, para sintonizar-
me comodebate. Fiquei 38 anos na
Olivetti e não fiz carreira; fiquei no
mesmo lugar, mas atualizei-me
ainda mais do que os que fizeram
carreira, inclusiveospresidentes. Por
isso, é preciso distinguir experiência
de vivência e de idade – como esses
fatores se equacionam no problema
do trabalho, aproveitamento e da
contribuição que as pessoas podem
dar. Vou dar um exemplo: na Oli-
vetti, acompanhei o ciclo de um
instrumentodecomunicaçãoque foi
a máquina de escrever. Quando fui
para lá, a máquina era manual;
passou amecânica; depois passou a
ser elétrica; depois eletrônica e aí
veioa informática.No tempoemque
fiquei lá, não tinha só que me
atualizar; tinha que me transformar
numapessoacontemporâneademim
e dos problemas queme obrigavam
a atualizar-me. Não basta se atua-
lizar; atualizar pode ser um ajuste
de repertório. É preciso projetar esse
repertório em termos dinâmicos –
precisa ser contemporâneo do que
estáemmudança, enão sódoacon-
tecimento adquirido e acumulado.
Por exemplo, vi pessoas que, no
organograma, tinham nível de
diretor, chegaram a presidente, mas
em termos de contemporaneidade,
quando o mecânico passou para o
elétrico, aquele presidente ficava
obsoleto. E eu – que estava nomes-
mo lugar – era o contemporâneo.
Tinha feito da minha experiência
uma experiência desdobrável e
prospectiva.Nãobastaaexperiência
nem a vivência do experimentado;
há de estabelecer as condições do
devir – daquilo que vem – porque o
queestáali jáveiocomo ingrediente
da sua própria morte. A máquina
mecânica, quando surge, já está
condenada porque a elétrica já está
correndo atrás dela e assim por
diante. E a compreensão dos ciclos
de vida vai ficando, cada vez, mais
estreita. Comohojeogerenciamento
estreita espaço e tempo. As pessoas
não estão sendo contemporâneas;
estão trabalhando com atualizações
que já nascem velhas.
AMALIA
–Oquevocêestádizendo
é importante; oPelé, uma vez, disse:
“Omeu sucesso tem a ver com o
fato de que eu sempre soube aonde
a bola ia chegar”.
MÁRIO
– Isso é brilhante. Ser
contemporâneo não é só compre-
ender sobopontode vistadaminha
vivência e experiência pessoais –
que são fundamentais – mas sim a
tendência da contemporaneidade.
Qual a tendência da contempora-
neidade, em termosde trabalho?Vou
dar um exemplo. No final do século
XIX, um trabalhador típicodaEuropa
vivia55anos; hojevive78.O tempo
disponível para o trabalho durante a
suavidaerade242mil horas; hojeé
de 356 mil. Mas o tempo, efeti-
vamente trabalhado, para aquele da
Europaerade125mil–praticamente
50% era de trabalho; hoje é de 69
mil – diminuiu. Então o que fazer?
Quando me aposentei, disse: “Não
voumeaposentar;vouredimensionar
asminhasaptidões”.Em termos–por
exemplo – de ser um professor sem-
precontemporâneodemimedomeu
tempo. Aqui tenho que fazer um
gestode gratidão à ESPMporque ela
tem tido – deliberada, consciente ou
inconscientemente – esse senso de
contemporaneidade. Tenho 72 anos,
e já faz uns 10 que trabalho com 5
turmas, todos os dias, pelamanhã –
salas de 50 adolescentes que ainda
estão numa busca de neojuventude.
Aí sim, a minha experiência é uma
experiência dinâmica, auto-revisio-
nada em que eumesmome projeto
“OSVELHOSCRÊEMEMTUDO;ASPESSOASDEMEIA-IDADE
SUSPEITAMDETUDO;OSJOVENSSABEMTUDO.”
OSCARWILDE
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