Thomaz
Souto Corrêa
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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ThomazSoutoCorrêa
Jornalista e guloso
E.T. – Também nós, brasileiros, estamos
colaborando para a globalização da gas-
tronomia. Já sãoquinze as churrascarias de
rodízionosEstadosUnidos.Cadaumavança
com o que pode.
taurante elBulli, ao norte de Barce-
lona. Apesar da caricatura feita no
parágrafoanterior,Adrià reinventoua
cozinha,propondoumanovamanei-
ra de restaurar os sabores e as com-
binações entre si. Falo de relatos de
amigos, porque ainda não estive no
elBullieseique tenhode ir.Respeito
o trabalho do
chef
, apesar de ainda
não saber sedevo, necessariamente,
considerar como comida o que ele
faz. Mas sei também que ele sabe
cozinhar.Adriàentrouparao rol das
personalidadesquevocê idolatraou
detesta, segundo – digamos assim –
suas inclinações gastronômicas. A
humanidade se divide entre quem
acha uma espuma de rabada uma
coisa interessante e quem só aceita
rabadaem formadeumacarnecozi-
da em voltadeumosso cujos sucos
se fundem nomolho que fica assim
pronto para se embeber na polenta
ou no arroz. Independente de não
precisar deixar claro qual a minha
preferência, voltemos à questão da
internacionalizaçãoda comida.
Estão tentando copiar a comida de
FerranAdrià nomundo inteiro. Passa
pela suacozinhaomaior númerode
supostos estagiários doplaneta.Nem
aUnilever tem igual...Em São Paulo,
cada jovemchef queabreum restau-
rante fezestágiocomAdrià.Dizque.
Chegoa imaginaracozinhadorestau-
rante catalão como um fim de tarde
numbotequim chiquedo Itaimonde
a gritaria insuportável favorece tudo
menosoaprendizado.Oprimeiro si-
nalda influênciamalentendidaemal
copiada foi oaparecimentodaquelas
colheres chinesas de cerâmica com
umcaldoouumamassa inidentificá-
veis. Faz o que com aquilo? Cheira?
Bebe?Chupa? Lambe?Morde?
Passado o constrangimento inicial,
o mais corajoso do grupo arrisca
passar um pedaço de pão pela
misteriosa substância. Nada. Não
tem gosto de nada. Seja líquido
ou cremoso. Sempre há um mais
corajoso que leva a colher chinesa
àboca. Inventadapara servir como
veículode caldos, aprópria colher
se sente desajeitada. O resultado
da experiência com a colher na
boca é igual. Nada. Não tem gosto
de nada. Ou melhor, tem. Mas é
um mistério. Fígado com iogurte.
Queijo com paçoca. Aí aparecem
uns copinhos com dois líquidos
de cores diferentes, um em cima
do outro. Um é quente, o outro é
frio.Tomar como? Se tomar rápido,
fica morno. Não. Tem de tomar
primeiro o frio, depois o quente,
para fazer contraste.
Culpa de quem? Do pobre Ferran
Adrià, queobviamentenão temnada
com isso. Já passei por essa expe-
riência de comidinhas esquisitas e
misteriosas em diversas cidades do
mundo e fico triste emme dar conta
deque, destavez, o talentodo inicia-
dor está sendo conspurcado por um
ES
PM
bando de copiadores incompetentes
eespertalhõesquesubmetemopobre
do ingênuo ser humanoà fantasiade
que,numcoquetelemMiami,eleestá
degustando amesma coisa que seus
semelhantes emXangai. Afinal, é ou
nãoéummundo só?
“Nouvelle cuisine”, o movimento demorou
a viajar e fazer parte do tal “ummundo só
comendo, todos, as mesmas coisas”.
s
Jr. deOliveira
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