Maio_2009 - page 29

Francisco
Gracioso
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
29
pelaglobalização.Pode-seatémesmo
culparapolítica imperialistadealguns
governos americanos,mas a verdade
é que a globalização está na origem
de todos esses males. Culminando
todoesteprocesso,odólaramericano
corre agora o riscode ser substituído
por outra moeda, como padrão de
referência internacional.
Quanto aoBrasil, estamos nos dando
muito bem e a nossa principal vanta-
gemnãoestános recursosnaturaisou
notamanhodomercadointerno,como
pensam alguns. Está, acima de tudo,
em nossa capacidade de entender o
mundo e respeitar as suas diferenças,
muitomelhordoqueosamericanos.
Chamamosaatençãodo leitorparaa
entrevistacomo JoãoHavelange,pre-
sidentedaFIFAdurante24anos, que
aparece nesta edição. Poucos sabem
disso, mas nummomento em que o
conflito árabe-israelense estava no
auge, Bill ClintoneAlGoreconvida-
ram JoãoHavelangea iraWashington,
para explicar-lhes que magia é essa
que fazdo futebol um traçodeunião
entre todos os povos domundo, en-
quanto o imenso poderio americano
nãoeracapazdeunirárabese judeus.
Depois disso, Havelange e Al Gore
tornaram-se amigos e trabalharam
juntos em um projeto, infelizmente
nãoconcluído, cujoobjetivoeraunir
osdoispovospormeiodo futebol.
Poucos sabem também que quando
assumiuaFIFA, em1974,Havelange
encontrouemZuriqueumapequena
entidade comUS$ 20 em caixa. Ao
deixarapresidência,em1998,aFIFA
havia se transformado no Vaticano
do futebol e tinhaUS$ 4 bilhões em
caixa.QuandoHavelangemecontou
essashistórias,perguntei-lhequalerao
segredodoseusucessoeeisoqueele
me respondeu: “Comobrasileiroque
sou, acostumado com as diferenças
regionais e culturais dentro do nosso
própriopaís, foi fácilparamimaceitar
e respeitar as diferenças entreos 186
países que compõem a FIFA. Visitei
cadaumdelespelomenos trêsvezes,
tornei-meamigodos dirigentes locais
e os fiz sentirem-se co-responsáveis
pelogrande idealdauniãodospovos,
por intermédio do futebol. Quando
viajava, levavacomigo fotografiasdas
pessoasque iaencontrar,paramemo-
rizar as suas feições e ser o primeiro
acumprimentá-las aodesembarcar”.
Aí está uma grande lição para todos
nós,masprincipalmenteparaosnos-
sosexportadores,nestaépocadedifi-
culdadesqueoBrasileomundoatra-
vessam.Acriseatual teve,pelomenos,
uma consequênciapositivaparanós:
revelou a verdadeira importância da
globalizaçãoedasexportaçõesparaa
economiabrasileiraemostroucomoé
urgente retomarmos o nível dosUS$
200 bilhões exportados em 2008 se
quisermos retomar o crescimento
aceleradodoPIB.OBrasileomundo
tornaram-sedependentesumdooutro
eébomquenosacostumemosacha-
mar pelonomeos nossos clientes na
Europa,ÁsiaouÁfrica.
Mas não se trata apenas de exporta-
ções.Existemhojedezenasdegrandes
multinacionais brasileiras que estão
se expandindo rapidamente para
o mundo e que sofrem também as
consequências da retração mundial.
Essas empresas sairão da crise mais
experientesemaissólidas.Dificilmen-
tevoltarãoacometer errosprimários,
comoasespeculaçõescomderivativos
cambiais. Na verdade, a experiência
internacional acaba tornando as em-
presas extremamente cuidadosas em
questões financeiras. Por exemplo,
somoscapazesdeapostarquedepois
desta crise as grandesmultinacionais
brasileiras darão mais atenção aos
conselhosdegovernançacorporativa.
Ocultoao “valor
paraosacionistas”
Falaremosagoradeoutraconsequên-
cianegativa trazidapelaglobalização
para todo o mundo capitalista. Na
verdade, a essência da questão nada
temavercomaglobalização,mas foi
a expansão global das empresas que
provocou a rápida disseminação do
problema por todos os países capita-
listas. Referimo-nos à tese do “valor
paraosacionistas”quese tornouuma
verdadeira obsessão entre as grandes
empresas com ações cotadas em
bolsa a partir dos anos 80. Em artigo
publicado no
Financial Times
1
, Fran-
cesco Guerrero aponta JackWelch,
o famoso CEO da General Electric,
como responsável pela ideiadoculto
aovalorparaosacionistas,expostaem
umdiscursonoHotel PierredeNova
Iorque, em 1981. Pode-se dizer que
Welch inaugurou a era da ditadura
corporativa, caracterizadapor líderes
absolutistas que se mantinham nos
cargos prometendo aos acionistas o
aumentocrescentedacotaçãodesuas
ações pelo valor embolsa edividen-
dos generosos. A coisa chegou a tal
ponto que durante décadas as ações
emWall Street subiam e desciam ao
sabordosnúmerosdosbalancetes tri-
mestrais.Planosde longoprazo foram
esquecidoseosresultadosimediatistas
passaram a ser dominantes. Tudo se
justificava emnomedo valor paraos
acionistas, conceituado e defendido
mais tarde, por Alfred Rappaport em
î
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