Thomaz
Souto Corrêa
maio
/
junho
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
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(argh!) fazem do mundo um só.
Pode-se comê-las na maioria das
cidades que fazem parte dos ro-
teiros turísticos mais conhecidos
e em vias de tornar-se idem.
Há outras? Sim. A velha pizza
rodapeloplanetahámuito tempo,
acompanhada pelas massas e su-
gos ecarnes assadas levadas pelos
imigrantes italianos aos povos
vizinhos e aos do Novo Mundo.
Mas vi gente comendo pizza em
Tóquio. Em contrapartida, o sushi
fezuma conquistadevastadorado
Ocidente. Na São Paulo do início
dos anos60,me lembrodealguém
comentar de ter ido a um restau-
rantenobairrodaLiberdade, onde
os japoneses comiam peixe cru
enrolado em bolinhos de arroz, e
precisou coragem até que fôsse-
mos láexperimentar, emais algum
tempo para admitirmos que era
bom. Naquela época, era
snob
ir
à Liberdade comer sushi. O que a
gentenão sabia éque era também
burrice, porque a gente ia às nove
horas da noite, e os japoneses
tinham chegado às sete, comido
todoopeixemais frescoedeixado
o resto para os “metidinhos”.
Hoje, cadaquarteirãodo Itaim, em
SãoPaulo, temquatro restaurantes
japoneses.Assim, o sushi também
fez o seu papel de construir um
mundo só. Na lista dos bons res-
taurantes das grandesmetrópoles,
sempre tem um restaurante japo-
nês. Chinês também, mas o sushi
entrounamoda, tornou-seacomi-
dados jovens, o sakêviroubebida
sofisticada, e hoje, o restaurante
que não tiver uma carta de sakês
não é chique.E nós, a minha ge-
ração, anos e anos jogando no
foi igual. A comida passou a ter
gosto. Certamente não foi assim,
num episódio criado pela imagi-
nação extraordinária deMonteiro
Lobato, que o sal entrou para a
históriadagastronomia.Mas éum
bom exemplo de que, associada
ao vai-pra-lá e vem-pra-cá de
temperos e especiarias e tomates
e milhos e batatas e coqueiros e
vacas e galinhas e porcos, a glo-
balização alimentar teve iníciohá
centenas de anos.
De certa maneira, muito mais
lenta, o mundo se tornava menor
com o troca-troca dos hábitos ali-
mentares das diversas civilizações
que povoaram o planeta. Hoje, a
percepção da mudança é muito
mais rápida.Deum lado, aprolife-
raçãodosmeios de comunicação,
e de outro, a quantidade de gente
viajando fazem com que a sensa-
ção de que se encontra a mesma
comida para comer em qualquer
lugar esteja se tornandoonipresen-
te.Nunca tinhapensadonisso, até
umademinhas inúmeras viagens a
Portugal, alguns anos atrás.
Foi um choque. O carro embicou
para a pracinha de Cascais e a
primeira coisa que vi foi o lo-
gotipo amarelo, as mesinhas nas
calçadas e portugueses comendo
hambúrguer, se é que se pode
chamar aquilodehambúrguer.Ali,
ao lado de alguns dos melhores
restaurantes de peixe do mundo,
(sim, senhor, domundo!), os cas-
caienses haviam permitido que
se instalasse, argh!, uma biboca
servindo um pedaço amassadode
carne redonda, cheia de fibras e
nervuras, cuja sobrevivência para
ser deglutida depende de uma
pasta vermelha atomatada, acom-
panhada de outra amarelada, esta
mais conhecida, avelhamostarda.
(A batata frita é comível).
Pois bem. Entendi na hora que eu
estava diante da globalização, da
qual jornais e revistas, televisões
e rádios, economistas e políticos
falam sem parar há décadas. Para
mim, porém, ochoquebateumes-
mo emCascais. Provavelmente já
havia acontecido em Paris, Roma,
Londres, até em Hamburgo, an-
cestralmente relacionada com a
abjeta refeição. Mas eu não espe-
rava pela decepção em Cascais.
Ali estava, diante dosmeus olhos,
a prova de que algumas comidas
Em Portugal, a primeira
coisa que vi foram
mesinhas nas calçadas
e portugueses comendo
hambúrguer.Ali, ao lado
de alguns dosmelhores
restaurantes de peixe
domundo.
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SteveWoods
